O cancro do testículo é o tumor mais frequente em homens entre os 18 e os 35 anos e qualquer intervenção médica que cause alteração da sua qualidade de vida deve ser devidamente ponderada. De acordo com Ricardo Leão, neste novo trabalho científico o enfoque esteve num grupo específico de doentes com cancro do testículo (não-seminomas) metastizado e já submetido a quimioterapia.

Após a realização de quimioterapia, alguns dos doentes podem apresentar lesões metastáticas e são, por vezes, sujeitos a cirurgias quando essas massas tumorais medem mais do que um centímetro.

Estes são os sintomas de cancro mais ignorados pelos portugueses
Estes são os sintomas de cancro mais ignorados pelos portugueses
Ver artigo

Esta cirurgia, descrita como muito agressiva, resulta em morbilidade significativa. No entanto, em cerca de 45% a 50% dos casos, estes doentes operados não tiram partido dos benefícios dessa cirurgia porque as lesões são apenas fibrose ou necrose resultante da quimioterapia. Agora, estes biomarcadores  recentemente descobertos permitem predizer a histologia das lesões residuais pós-quimioterapia e, assim, dar pistas sobre a vantagem ou não de uma cirurgia.

Biomarcadores ou marcadores biológicos são entidades que podem ser medidas experimentalmente e indicam a ocorrência de uma determinada função normal ou patológica de um organismo ou uma resposta a um agente farmacológico. O trabalho foi premiado no Congresso da Associação Americana de Urologia e publicado no Journal of Urology.

Mudança de paradigma

Ricardo Leão acredita que "não faz sentido expor doentes a tratamentos invasivos sem certezas diagnósticas. Deste modo, estes biomarcadores poderão mudar o paradigma do tratamento de doentes com doença testicular metastática e auxiliar os urologistas a adequar a sua prática clínica proporcionando ao doente a terapêutica mais indicada – baseada numa medicina cada vez mais personalizada".

Conhece alguém com cancro? Faça-lhe um grande um favor e não diga isto
Conhece alguém com cancro? Faça-lhe um grande um favor e não diga isto
Ver artigo

A equipa de investigação da qual faz parte o médico Ricardo Leão, do hospital CUF Coimbra está envolvida, atualmente, num consórcio internacional que inclui equipas de investigação dos Estados Unidos, Canadá, Holanda e Alemanha. O objetivo é reunir o maior número de doentes com cancro do testículo por forma a validar estes biomarcadores com aplicação clínica.

De acordo com Ricardo Leão, "a comunidade científica internacional que se dedica ao estudo e tratamento do cancro do testículo entende que estamos próximos de algo muito importante e este é provavelmente o próximo biomarcador a usar nas nossas clínicas".