A dermatite atópica, ou eczema atópico, é uma das doenças inflamatórias crónicas de pele mais comuns, com uma prevalência estimada de 15-25% nas crianças e 7-10% nos adultos. A sua incidência tem aumentado nos últimos anos essencialmente nos países desenvolvidos. Apesar de se poder manifestar em qualquer idade, o seu aparecimento ocorre em 45% até aos 6 meses e 80-90% até aos 5 anos. Com a idade tende a desaparecer, no entanto cerca de 25% pode manter-se na idade adulta, habitualmente com uma maior gravidade.

Clinicamente manifesta-se por lesões de eczema (manchas e placas de pele vermelhas, com descamação, e escoriações) localizadas habitualmente nas regiões flexoras dos braços, pernas, no pescoço e na face, associadas a prurido (comichão) muito intenso. O diagnóstico é baseado exclusivamente em características clínicas, pelo que, na maioria das vezes, pela história clínica e observando as lesões é possível fazer o diagnóstico. Contudo, por vezes, é necessário recorrer a biopsia cutânea, quando as lesões não apresentam melhoria com o tratamento ou quando há dúvidas no diagnóstico. Em alguns casos, pode ser necessário alguns exames complementares no sentido de perceber se a dermatite atópica se associa a outras doenças atópicas como asma ou alergia alimentar. O diagnóstico pode demorar por várias razões, incluindo a própria dificuldade de diagnóstico ou o atraso do sistema de saúde.

A causa da dermatite atópica é multifactorial, envolvendo fatores genéticos, imunológicos e ambientais, não sendo possível classificar uma causa concreta. Os principais mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da doença são essencialmente três: um defeito na barreira cutânea provocado por alterações de proteínas que constituem o “cimento” intercelular, permitindo uma penetração mais fácil de alergénios e uma perda de água pela pele mais acentuada; uma inflamação marcada da pele, causada por uma desregulação imunológica com o aumento de vários mediadores inflamatório chamados de citocinas infamatórias; e por fim uma alteração do chamado microbioma da pele, isto é, da composição normal de microrganismos da pele, com um aumento marcado de estafilococos áureos.

A dermatite atópica, devido à visibilidade das lesões e essencialmente o prurido, associa-se a um elevado impacto físico e psicológico, com diminuição marcada da qualidade de vida dos doentes. Está demonstrada uma produtividade diminuída, absentismo aumentado, dificuldade de aprendizagem das crianças com um consequente impacto futuro, assim como um elevado recurso aos sistemas de saúde (consultas, internamentos e terapêuticas). No entanto, continua a existir uma escassa divulgação deste problema. De facto, este desconhecimento por parte da sociedade leva a que os doentes com dermatite atópica não tenham muitas vezes a visibilidade que necessitam e o seu impacto a nível fisico, psicológico e necessidade de tratamentos constantes sejam mal compreendidos. Por esta razão são muito importantes as campanhas de sensibilização, como a mais recente chamada de “Dá Garra à tua Vida” promovida pela associação de doentes ADERMAP. Esta campanha, muito dirigida aos adolescentes pretende sensibilizar para a doença, alertando para o seu impacto nesta faixa etária.

Além do elevado impacto físico e psicológico, a dermatite atópica pode-se associar a várias outras doenças, atópicas e não atópicas. A probabilidade da dermatite atópica se associar a outras patologias atópicas como asma, alergias alimentares e rinoconjuntivite alérgica é muito elevada. Por outro lado, o risco de infeções cutâneas, bacterianas e víricas é muito superior nestes doentes, podendo ser, em alguns casos, grave. Por fim, nos últimos anos, a dermatite atópica tem sido associada a muitas outras doenças, essencialmente neuropsiquiátricas (distúrbio do sono, ansiedade, depressão e dificuldade de aprendizagem) cardiovasculares (excesso de peso e eventos cardiovasculares) e auto-imunes (alopecia areata).

O tratamento da dermatite atópica passa essencialmente pela utilização de diversos fármacos, tópicos ou sistémicos, assim como no tratamento de algumas causas de exacerbação da doença. Nas formas mais ligeiras, localizadas, a utilização de terapêutica tópica anti-inflamatória e emoliente (creme hidratante) é habitualmente suficiente. A principal dificuldade é o tratamento de formas mais graves, extensas e muito sintomáticas, em que as terapêuticas tópicas não são opção. Nestes casos, existe a necessidade de utilizar terapêuticas sistémicas. Até 2017 as opções terapêuticas eram muito limitadas. A maioria dos fármacos utilizados, eram imunossupressores que não estão aprovados para o tratamento da dermatite atópica e que, apesar eficazes numa parte dos doentes, o seu perfil de segurança, tolerabilidade, interações medicamentosas e toxicidade, dificultavam o tratamento e controlo da doença a longo prazo. Felizmente, esta realidade está a mudar e temos atualmente disponíveis terapêuticas orais e injetáveis, desenvolvidas especificamente para o tratamento da dermatite atópica que, além de muito eficazes, são também seguras e permitem um tratamento a longo prazo.

Assim, apesar da descoberta de uma cura estar ainda distante, o futuro do tratamento do eczema atópico parece ser promissor!