Numa conferência de imprensa virtual a partir da sede regional europeia da OMS, Hans Kluge salientou que “a maneira como muitas instituições prestam os seus cuidados dá ao vírus caminhos para se propagar”.
“O papel do setor público, responsável por não deixar ninguém para trás, não pode ser sobrestimado”, considerou, declarando que as instituições precisam de planos rigorosos para evitar o contágio e que os utentes de lares têm que ser “uma prioridade” na realização de testes para despistar qualquer caso suspeito.
Hans Kluge declarou que estimativas dos 53 países na esfera europeia da OMS indicam que “até metade das mortes por covid-19 eram residentes em instituições de cuidados continuados”.
Quer seja pela idade avançada, doenças pré-existentes – cardiovasculares, diabetes ou insuficiência renal estão entre as mais preocupantes – ou pelas “dificuldades cognitivas” provocadas por demências, os residentes de lares estão entre as pessoas mais vulneráveis à pandemia, salientou.
A OMS defende que tem que haver mudanças “imediatas e urgentes” na maneira como os lares funcionam, garantindo um equilíbrio entre as necessidades dos residentes e das suas famílias e a proteção que precisam de ter em relação ao novo coronavírus.
Para isso, os trabalhadores têm que ter equipamentos de proteção adequados e as instituições devem garantir que há espaços separados para isolar casos suspeitos mesmo antes de estes surgirem.
Hans Kluge defendeu ainda que devem haver condições para qualquer residente doente ou suspeito ser transferido para um hospital e para o seu regresso seguro à instituição, assegurando-se de que é testado antes e que o resultado é negativo.
Só assim será possível a “abertura gerível” dos lares às visitas de familiares, sem as quais os idosos estão privados do “apoio físico e mental” que o contacto com as famílias lhes garante.
A pandemia e os riscos acrescidos que representa para idosos e outras pessoas que vivem em instituições onde estão confinadas, como hospitais psiquiátricos, são uma oportunidade para criar sistemas de cuidados continuados que dão “prioridade às pessoas”.
Para isso, é preciso “o compromisso dos níveis mais elevados do governo”, afirmou, considerando que o setor dos cuidados continuados “tem sido negligenciado desde há muito tempo”, o que se traduz num “retrato profundamente preocupante” exacerbado pela pandemia.
Quanto aos trabalhadores destas instituições, “heróis desconhecidos”, devem ter quer os equipamentos de proteção adequados quer uma remuneração que recompense o seu esforço, muitas vezes desempenhado sem horários e sem condições.
Portugal registava na quarta-feira 785 mortos associados à covid-19 em 21.982 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 181 mil mortos e infetou mais de 2,6 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Comentários