O presidente do Centro Social e Paroquial do Reguengo Grande, Pedro Tavares, confirmou à agência Lusa que, durante a campanha para a primeira dose da vacina, ocorrida em 21 de janeiro, "sobraram quatro vacinas por haver funcionários ausentes e utentes hospitalizados".

Sem indicar nomes, o pároco e dirigente confirmou que as quatro vacinas foram administradas "a pessoas exteriores ao lar", descartando qualquer responsabilidade nessa decisão e esclarecendo que nenhum dos funcionários foi mandatado para sugerir os nomes em causa.

No lar, foram vacinados 24 utentes e 43 funcionários.

Uma das vacinas que sobrou foi administrada à enfermeira do Centro de Saúde da Lourinhã que foi responsável pela administração das vacinas.

As três restantes foram administradas ao marido da funcionária administrativa do lar e presidente da Junta de Freguesia do Reguengo Grande, Ana Isabel Barros, e a um casal, na casa dos 90 anos, seus familiares, confirmou a própria à agência Lusa.

Ana Isabel Barros esclareceu que apenas "sugeriu o nome do marido por ser doente crónico com tratamento de ventiloterapia diária" e, por isso, integrar os grupos de risco prioritários, enquanto o casal, apesar de ser seus familiares, foi indicado pela enfermeira.

Os quatro casos "foram validados por alguém superior à enfermeira", acrescentou.

À vacinação neste lar e nos restantes no concelho, assistiram dois bombeiros da Lourinhã, mas nenhum elemento da corporação foi ainda vacinado, confirmou o comandante Carlos Pereira à Lusa.

Confrontada, Ana Isabel Barros esclareceu que "a enfermeira indicou os dois bombeiros, mas não obteve autorização superior".

A funcionária e autarca admitiu que "não mediu as consequências", mas "não se revê numa situação de vacinação indevida, uma vez que o marido é doente de risco".

"Foi dito que as vacinas tinham de ser administradas para não serem desperdiçadas e tínhamos de arranjar nomes de pessoas", frisou.

Questionado pela agência Lusa, o diretor do Agrupamento de Centros de Saúde Oeste Sul, António Martins, remeteu esclarecimentos para a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT).

A ARSLVT recusou prestar informações, alegando que aguarda "o resultado das auditorias promovidas pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde, assim como as investigações do Ministério Público".

Os casos de vacinação indevida em Portugal continuam a aumentar e a provocar demissões, incluindo a do coordenador da ‘task force' para o Plano de Vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos, que renunciou ao cargo após detetar irregularidades no processo de seleção de profissional de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa (HCV), do qual é presidente da comissão executiva.

Na segunda-feira a Procuradoria-Geral da República confirmou à Lusa que o Ministério Público já instaurou inquéritos relativamente "a alguns dos casos vindos a público, desde logo os respeitantes à Segurança Social de Setúbal, ao INEM de Lisboa e ao INEM do Porto".

Na sexta-feira, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) tinha anunciado que vai verificar o cumprimento das normas e orientações aplicáveis ao processo de administração da vacina contra a covid-19.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.269.346 mortos resultantes de mais de 104,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 13.482 pessoas dos 748.858 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.