Dados do Ministério da Saúde moçambicano citados pelo UNICEF indicam que Cabo Delgado “registou o maior declínio na cobertura do Programa Alargado de Vacinação (PAV) de 100% [de cobertura] em 2019 para 59% em 2020″.

“O conflito recrudescente e a insegurança em Cabo Delgado resultaram em deslocações em massa” e o retrocesso na vacinação é uma das consequências.

Grupos insurgentes realizaram “ataques violentos contra civis e destruíram infraestruturas, o que levou à interrupção dos serviços essenciais, incluindo unidades sanitárias, sistemas de abastecimento de água, furos e escolas”, detalha o relatório.

Ao declarar Cabo Delgado uma “emergência de nível 2″, o UNICEF “reforçou e ampliou a sua resposta humanitária às crianças”, acrescenta.

Além da violência e de fuga em massa de população, houve também um surto de cólera nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, adensando os fatores que contribuíram para “a terrível situação das pessoas que tinham sido afetadas por recentes choques climáticos” – refere o UNICEF, numa alusão aos ciclones que se têm abatido sobre Moçambique.

À violência e ciclones juntou-se a crise provocada pela covid-19.

“Para as cerca de 10 das 14 milhões de crianças moçambicanas que já viviam na pobreza, as várias crises de 2020 empurraram-nas para uma maior vulnerabilidade, pondo em risco os seus direitos básicos”, nota o relatório do UNICEF.

“Apenas um ano após dois ciclones tropicais consecutivos terem devastado partes de Moçambique, o país viu-se mergulhado na pandemia global da covid-19 e num conflito armado cada vez mais complexo em Cabo Delgado”, acrescenta.

Grupos armados aterrorizam a província nortenha desde 2017, com alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.

O número de deslocados aumentou com o ataque contra a vila de Palma em 24 de março, uma incursão que provocou dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado.

As autoridades moçambicanas anunciaram controlar a vila, mas aquele ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico na próxima década.