Os hospitais públicos estão sobrecarregados e o Palácio Desportivo Mahamasina, na capital de Madagáscar, acaba de ser transformado em hospital de campanha, com 250 camas, para dar resposta à propagação da pandemia, mas começam a surgir tensões no seio do Governo sobre a estratégia a adotar, relata a agência francesa AFP.

A ilha do Oceano Índico excedeu na terça-feira a barreira dos 10.000 casos, e atingiu as 93 mortes.

O número de novos casos confirmados diariamente de infeção por covid-19 varia agora entre 300 e 400, em comparação com cerca de uma centena há algumas semanas.

As autoridades apresentaram várias explicações: "o aumento da capacidade de rastreio", "a elevada densidade populacional" em Antananarivo, capital do país, ou alguns não terem tomado o chá à base de artemísia, elogiado pelo Presidente, Andry Rajoelina, e amplamente distribuído em Madagáscar e em vários países, principalmente africanos, como um tratamento para o novo coronavírus.

Este chá de ervas, chamado Covid-Organics ou CVO, tem virtudes preventivas e curativas contra o novo coronavírus, disse o chefe de Estado, que inaugurou este fim de semana o hospital de campanha. Porém, nenhum estudo científico provou até agora a eficácia daquele chá.

"O número de casos está a aumentar cada vez mais, por isso (...) só aceitamos casos graves", disse Nasolotsiry Raveloson, diretor do hospital Andohotapenaka, à AFP.

O próprio ministro da saúde, Ahmad Ahmad, fez soar o alarme na semana passada. A pandemia "tem vindo a evoluir nas últimas semanas de forma muito crítica em Madagáscar com grandes surtos epidémicos" em várias regiões, incluindo Antananarivo, advertiu, numa carta em que pedia ajuda à comunidade internacional.

O Governo não gostou destes comentários e disse que estava "consternado" com a "iniciativa pessoal" do ministro.

"Para ver se o CVO funciona, basta olhar para o número de casos", disse Mirato Rabearson Mahefamanana, um médico de clínica geral. "Porque são tantos agora", questionou.

Paul Rabary, um antigo ministro da Educação, afirmou ter tomado escrupulosamente o seu chá de ervas e, no entanto, contraiu a covid-19.

"Consultei quatro médicos privados e nenhum deles receitou Covid-Organics para o meu tratamento", adiantou à AFP.

Yvonne Ravaoalisoa, uma lojista, não concorda com aquelas posições. "Desde que tomámos o CVO, nenhum de nós em casa ficou doente", afirmou a mulher de 60 anos, que vive com as suas duas sobrinhas.

Um membro da oposição, Liantso Bina Andriamanjato, também elogia a bebida. "É um remédio simples, mas eficaz, que me curou", disse.

Depois de distribuir o chá nas ruas das grandes cidades e nas escolas, o Governo malgaxe continua agora mais discretamente a distribuir a bebida, especialmente nos centros de saúde de Antananarivo.

Nos países africanos que receberam reservas de chá de ervas, as vozes também estão a semear a confusão sobre a eficácia do chá de ervas.

Na República do Congo, onde foram realizados testes, "os resultados inclinam-se para uma eficácia limitada", disse à AFP Alexis Elira Dokekias, responsável pelo tratamento de doentes com coronavírus.

Entre os países que encomendaram o chá, estão a Guiné-Bissau e a Guiné Equatorial.

Na Nigéria, a agência nacional de medicamentos "não encontrou provas de quaisquer propriedades curativas reais" contra a covid-19, disse o ministro da Saúde, Osagie Ehanire. Como resultado, as reservas de chá de ervas não foram utilizadas.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 654 mil mortos e infetou mais de 16,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

Em África, há 18.475 mortos confirmados em quase 872 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.