O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa explicou, em declarações à agência Lusa, que, apesar de uma boa parte dos indicadores estarem “numa fase favorável”, como o índice de transmissibilidade (Rt) e os internamentos, a incidência, a letalidade e a taxa de positividade ainda estão elevados.
“Temos uma taxa de positivos relativamente ao número testes que fazemos ainda nos 20%” e a mortalidade ainda está acima dos 20 óbitos por milhão de habitantes nos últimos 14 dias, o limiar definido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) e a meta estabelecida pelo Governo para deixar de ser obrigatório o uso de máscara em espaços fechado.
Por outro lado, disse, citando dados do Índice Composto de Risco Pandémico, que analisa oito indicadores, entre os quais o “longo covid”, o número de pessoas que teve infeção nos últimos três meses é ainda relativamente elevado ainda e isso implica cuidados primários de acompanhamento dessas pessoas.
Carlos Antunes advertiu que, apesar de as faixas etárias mais idosas, terem “uma boa cobertura vacinal e já estarem com grandes percentagens de reforço vacinal, existe sempre a probabilidade de infeção”.
Exemplificou que, nos maiores de 80 anos, continuam a morrer cerca de 14 pessoas por cada 1.000 caso nos últimos 14 dias, número que baixa para três na faixa dos 70 aos 79 anos.
“Isto significa que, se aumentarem os casos nessas faixas, os óbitos também vão aumentar e foi exatamente o que ocorreu”, salientou, realçando que o aumento de óbitos que se tem verificado nas últimas semanas se deve ao aumento de casos nas faixas etárias acima dos 60 anos.
Perante esta realidade, o matemático defendeu que se deve continuar a manter a obrigatoriedade da máscara pelo menos por mais 15 dias dentro do estado de alerta que o Governo prolongou até 18 de abril.
Além disso, está a assistir-se a surtos de gripe e a “uma corrida às urgências” por outras doenças respiratórias.
“Estamos a saturar as urgências hospitalares e sabemos que, à semelhando que aconteceu nos outros invernos, o uso da máscara previne a propagação e a infeção das outras doenças respiratórias e, por esse lado, também é recomendável que continuemos a utilizar a máscara”, afirmou, como forma de tentar controlar a propagação destas doenças e para evitar que continue a aumentar o número de casos nos mais idosos e mais óbitos.
Mas, defendeu, “se a decisão política for contrária”, deve haver “uma forte recomendação” de que as pessoas com mais de 60 anos devem continuar a utilizar a máscara em espaços fechados.
Apontou ainda uma situação intermédia que é poder retirar-se a obrigatoriedade da máscara, com exceção dos hospitais, lares e transportes públicos, e deixar ao critério das pessoas usá-las em espaços públicos fechados.
“Esta é uma solução intermédia para aliviar a pressão psicológica de que as pessoas sentem do ponto de vista social de continuar a ser obrigada a máscara quando existem situações como as pessoas que frequentam, por exemplo, as discotecas e não são obrigadas a usar”, justificou.
Em espaços públicos, só devem usar as pessoas mais vulneráveis e houver uma grande concentração de pessoas porque o nível de circulação é elevado, mas, disse, “estamos a entrar na primavera e as condições atmosféricas reduzem a longevidade do vírus e o risco de transmissão em ambiente arejados e exteriores”.
Portugal registou, entre 22 e 28 de março, 70.111 casos de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2, 148 mortes associadas à covid-19 e um ligeiro aumento de doentes internados, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).
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