“Compreendo que neste momento se assista a um ‘marketing’ científico ainda sem nenhum estudo publicado para posicionar as empresas que produzem as vacinas”, o que considerou “absolutamente natural e normal” porque algumas provavelmente “não irão ser remuneradas pelos grandes investimentos que fizerem”.
Já o que “não parece realista” é que “se atire areia para os olhos das pessoas e se use a vacina como uma panaceia universal que vai aparecer amanhã e que vai resolver o problema. Não é, quem dera que fosse”, afirmou o internista do Hospital de São João, no Porto, na conferência “71 minutos” da Convenção Nacional da Saúde.
Para António Ferreira, é preciso ser realistas e compreender que não se sabe quanto tempo vai demorar até que haja uma vacina aprovada, que pode ser “um mês, dois meses, três meses”, lembrando que, depois de aprovada, é preciso produzi-la e distribui-la em quantidades suficientes para garantir um efeito no controle da pandemia.
“Ainda há pouco tive informações de um diretor de uma grande empresa que produz seringas (…) que dizia que mesmo que produzindo 24 sobre 24 horas, sete dias por semana, sem paragem a capacidade de produzir essas seringas não chega para responder imediatamente às necessidades da população mundial e, portanto, não faz sentido desenharmos uma estratégia à espera de uma vacina”, comentou.
António Ferreira disse que a sua proposta e do grupo que integra é que enquanto não houver vacina há fármacos que podem ser utilizados “com sucesso” nestas fases.
Na sua intervenção, defendeu ainda que os hotéis que estão vazios podiam ser utilizados para acolher doentes que estão internados por razões sociais.
“Não é preciso criar hospitais de campanha, é preciso utilizar hotéis que estão informatizados que é possível ligar à rede e que estão vazios, estão às moscas, e há muitos doentes nos hospitais atualmente que são casos sociais que podem ter alta, mas não têm para onde ir”, advogou António Ferreira, da Faculdade de Medicina do Porto.
Durante a sua apresentação, confessou ainda estar “cansado de ser tratado pelos magistrados políticos deste país como um atrasado mental”.
“O povo a que pertenço neste fim do primeiro quartel do século XXI é um povo instruído, moderno, evoluído e sem sentimentalismos históricos e um povo multissecular que ultrapassou as mais tremendas dificuldades”, como “o combate à tuberculose sem confinamentos”, numa altura em que a possibilidade de tomar medidas era completamente diferente da que é agora.
Na sua opinião, a população pode ser mobilizada, informada e trabalhar-se com ela para lançar um “combate eficaz, mobilizador com adesão a esta gravíssima situação de saúde e social” que o país atravessa.
“Estou farto de ser tratado como atrasado mental. Estou farto dos governantes paternalistas condescendentes e da maneira como nos tratam”, reiterou.
Nesse sentido, propôs que se deixe “o amadorismo comunicacional” e que se pague “a quem sabe de comunicação e apostar em campanhas” em todos os meios formais e informais, “para atingir todos os grupos sociais e todos os grupos etários para intensificar e fazer com que as pessoas voluntariamente adiram” às medidas de proteção que são “os fatores centrais de sucesso no combate”.
“O objetivo é garantir a maior adesão possível às medidas de promoção não farmacológica”, envolvendo até “personalidades líderes de opinião, personalidades públicas, e, em vez de estar a dar conferências de imprensa todos os dias, ir aos locais de maior degradação social interagir com as pessoas e convencê-las a aderir”, defendeu.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,3 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 3.632 em Portugal.
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