“Sei que ARSLVT está neste momento em contacto com o hospital Beatriz Ângelo [Loures, distrito de Lisboa] à procura de soluções e articulações, e poderão envolver [quer] a deslocação de utentes para outros hospitais, quer o encaminhamento de utentes para estruturas específicas. Mas é um problema complexo que no [Serviço Nacional de Saúde] SNS tem a resposta que tem, na medida em que (...) os doentes não são abandonados à sua sorte e mantêm-se internados”, disse hoje a ministra da Saúde, Marta Temido.

A ministra foi questionada sobre a situação relatada numa reportagem da RTP sobre este hospital, uma parceria público-privada, onde há doentes de covid-19 com alta clínica que permanecem internados por não terem para onde ir, ou por não poderem voltar aos lares onde estavam, por ausência de condições para isolamento.

“A circunstância de muitos hospitais do SNS terem sistematicamente doentes internados, que são situações que poderiam ter resposta noutra tipologia de cuidados, nem é uma especificidade associada à covid-19. É um fenómeno complexo, que exige respostas múltiplas sobre as quais estamos a procurar trabalhar e que nos preocupa”, disse a ministra.

Marta Temido sublinhou, por exemplo, que a rede nacional de cuidados integrados “nunca parou” durante a pandemia e que o seu trabalho “até se intensificou”, garantindo a testagem de todos os utentes à entrada para as unidades.

“O que é facto é que há circunstâncias em que os doentes que aguardam em unidades hospitalares não são utentes à espera de resposta da rede nacional de cuidados integrados, mas sim de resposta social, e isso é um problema social complexo. Compreendo que isso traz problemas aos hospitais”, disse.

Sublinhou, no entanto, que a capacidade de internamento no hospital não foi posta em causa pelos casos de covid-19, referindo uma capacidade de 400 camas e que nas últimas semanas havia 57 doentes internados.

Questionada sobre a falta de capacidade no hospital Garcia de Orta, em Almada, de separar doentes de covid-19 dos restantes, hoje noticiada pelo Correio da Manhã, a ministra disse desconhecer, mas que iria “obter informação e avaliar”.

A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, respondeu ainda sobre o risco de infeção em domicílio, lembrando que existem orientações de isolamento já publicadas pela DGS que procuram minimizar o contacto, mesmo admitindo que esse pode ser um comportamento difícil de manter ao longo de 14 dias.

E apelou a que não se abandonem os cuidados e o distanciamento nas visitas às casas de amigos e familiares.

“Muito cuidado nesta vontade de voltar a ver os nossos amigos e parentes em ambiente domiciliário, porque podemos estar a fazer aquilo que se chama de cruzamento de infeção”, disse, referindo que as visitas não significam que não tenham que ser observadas regras.

Portugal contabiliza 1.316 mortos associados à covid-19 em 30.623 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia, hoje divulgado.

Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.

Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.

O Governo aprovou novas medidas que entraram em vigor na segunda-feira, entre as quais a retoma das visitas aos utentes dos lares de idosos, a reabertura das creches, aulas presenciais para os 11.º e 12.º anos e a reabertura de algumas lojas de rua, cafés, restaurantes, museus, monumentos e palácios.