“Primeiro, quero pedir desculpas. Lamento muito pelas coisas que simplesmente não fizemos bem e lamento muito pela forma como este assunto foi tratado”, disse numa declaração no Parlamento.

Porém, reconheceu, “não basta pedir desculpas”. “Este é um momento em que devemos olhar-nos no espelho e aprender”.

“Eu percebo [o problema] e vou corrigi-lo”, prometeu.

Na resposta, o líder do Partido Trabalhista, a principal força da oposição, Keir Starmer, reiterou o pedido para Johnson demitir-se, tal como fizeram líderes de outros partidos da oposição.

“Há evidências de violações graves e flagrantes do confinamento (…) Não há dúvida de que o primeiro-ministro está agora sujeito a uma investigação criminal”, vincou Starmer.

Hoje foi publicado um relatório interno do Governo sobre o chamado ‘partygate’ sobre 16 “ajuntamentos” de assessores e membros do Executivo, nomeadamente festas de despedida de funcionários ou de celebração do Natal, dos quais apenas quatro não estão a ser investigados agora pela polícia.

Entre os eventos sob investigação da polícia estão um nos alojamentos privados de Boris Johnson a 13 de novembro de 2020, outro quando o assessor Dominic Cummings se demitiu, uma festa de aniversário de Boris Johnson em junho de 2020 e outros dois ajuntamentos na véspera do funeral do príncipe Filipe, em abril de 2021.

“No contexto da pandemia, quando o Governo pedia aos cidadãos que aceitassem restrições profundas nas suas vidas, alguns dos comportamentos (…) são difíceis de justificar”, lê-se no documento de 12 páginas hoje publicado.

Segundo o relatório, “pelo menos algumas das reuniões em causa representam uma falha grave em cumprir não apenas os altos padrões esperados daqueles que trabalham no coração do governo, mas também os padrões esperados de toda a população britânica na época”.

“Às vezes, parece que houve muito pouca atenção ao que estava a acontecer em todo o país ao avaliar a conformidade de algumas dessas reuniões, os riscos que representavam para a saúde pública e como poderiam ser vistas pela população”, continua.

O relatório, conduzido pela funcionária pública Sue Gray, considera que houve “falhas de liderança e discernimento por diferentes elementos do número 10 [gabinete do primeiro-ministro] e do Gabinete [Governo] em momentos diferentes”.

“Alguns dos eventos não deveriam ter sido permitidos. Outros eventos não deveriam ter sido autorizados a decorrer como decorreram”, vinca.

A publicação do relatório foi atrasada após a polícia ter pedido que fizesse “referências mínimas” aos casos que está a investigar por se suspeitar que representam infrações legais, reduzindo também a informação contida.

Sue Gray disse que ficou “extremamente limitada” no que pode escrever, adiantando ter mais “extensas informações factuais”.

O relatório refere que “alguns funcionários queriam levantar dúvidas sobre os comportamentos que testemunharam no trabalho, mas às vezes sentiam-se incapazes de fazê-lo” e considera que “o consumo excessivo de álcool não é apropriado em um local de trabalho profissional em nenhum momento.”

Nas suas conclusões, apela ao executivo para que retire lições “que devem ser aplicadas imediatamente em todo o Governo” e que “não precisam de esperar que as investigações policiais sejam concluídas”.

Boris Johnson tem hoje previsto um encontro com o grupo parlamentar, de quem depende o futuro como líder dos ‘tories’.

O chefe do Governo tem estado sob pressão para demitir-se pela oposição e por vários deputados do próprio partido, muitos dos quais disseram que iriam esperar pelo relatório para decidir se iriam pedir uma moção de censura interna.

É necessário que 54 entreguem “cartas de desconfiança” para desencadear uma moção de censura interna.

O chamado ‘partygate’ causou uma onda de indignação entre os britânicos, impedidos de se encontrar com amigos e familiares durante meses em 2020 e 2021 para conter a propagação da covid-19.

Dezenas de milhares de pessoas foram multadas pela polícia por desrespeitarem as regras.

Sondagens recentes mostram uma queda na popularidade de Boris Johnson, de 57 anos, eleito em 2019 com uma maioria absoluta histórica graças à promessa de concretizar o ‘Brexit’.