“As decisões” da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo foram “com base em critérios puramente técnicos”, disse hoje à agência Lusa o presidente deste organismo, José Robalo.
E esta “parte técnica não tem a ver com a ARS. Tem a ver com os cuidados de saúde primários, tem a ver com o hospital de Évora [Hospital do Espírito Santo de Évora – HESE], tem a ver com a Autoridade de Saúde, que é dependente da Direção-Geral da Saúde”, vincou.
O responsável da ARS Alentejo falava à Lusa numa primeira reação ao relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos (OM) para avaliar as circunstâncias clínicas do surto de COVID-19 no lar da Fundação Maria Inácia Vogado Silva Perdigão (FMIVSP), em Reguengos de Monsaraz (Évora), que alastrou à comunidade.
O lar de Reguengos de Monsaraz onde começou o surto de COVID-19, que provocou no total a morte de 18 pessoas, não cumpria as orientações da DGS, conclui a auditoria, divulgada na quinta-feira à noite e à qual a Lusa teve acesso, com a comissão da OM a apontar responsabilidades à administração, mas faz também críticas à Autoridade de Saúde Pública e à ARS.
Contactado hoje pela Lusa, o presidente da ARS Alentejo disse ainda não conhecer o relatório, nem ter sido ouvido no processo de auditoria.
“Ninguém me chamou para ser ouvido relativamente a isto. Se vão fazer apreciações, essas apreciações devem incluir no relatório a informação dos visados. Não sei se falaram com todos os profissionais, com o Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central, com o HESE”, mas “com a ARS não falaram, isso tenho a certeza”, lamentou.
Afiançando que, “assim” que receber o relatório, a ARS irá “esclarecer, ponto por ponto, todas as preocupações demonstradas pela OM”, José Robalo, questionado pela Lusa, disse, contudo, rejeitar já as críticas: “Claro que sim”.
“A única coisa que a ARS fez foi permitir disponibilizar, quer recursos humanos, quer materiais em função daquilo que foi estipulado pelas pessoas que estavam à frente do processo de avaliação”, ou seja, a Autoridade de Saúde, o HESE, e o ACES Alentejo Central.
“A única interferência que houve da parte da ARS foi dando resposta àquilo que os pareceres técnicos” definiam, “disponibilizando todo o material possível para que os utentes tivessem o melhor acompanhamento”, insistiu.
No relatório, que já foi enviado ao Ministério Público, Ministério da Saúde, DGS e à Ordem dos Advogados, a Ordem dos Médicos alega, entre outros aspetos, que foram criadas todas as condições para a “rápida disseminação” do vírus, “com responsabilidades para quem geria o espaço, o processo de rastreio epidemiológico e a aplicação das normas da DGS”.
A comissão de inquérito conclui pela “desorganização e consequente prejuízo para os doentes, atribuível à Autoridade de Saúde e à ARS do Alentejo”, dizendo que “o processo de governança clínica” falhou.
Reconhece ainda que a instituição melhorou as condições para os utentes, mas “a falta de coordenação e gestão continua a impedir que os doentes, os profissionais e os voluntários estejam em ambiente seguro”, responsabilidade que atribui à ARS e à autoridade de saúde.
O surto no lar provocou um total 162 casos de infeção, incluindo 18 mortos: 16 utentes, uma funcionária do lar e um homem da comunidade.
No lar, foram contaminados 80 utentes e 26 profissionais, mas a doença propagou-se à comunidade e infetou outras 56 pessoas.
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