“Neste momento não podemos prever quando chegarão as segundas doses”, afirmou John Nkengasong, em declarações hoje na conferência de imprensa semanal da organização, em formato digital, a partir da sede da União Africana (UA), em Adis Abeba, Etiópia.

O virologista camaronês referia-se à circunstância de o Instituto Serum da Índia – o principal produtor da vacina da AstraZeneca, que vinha a ser distribuída aos países de baixos rendimentos através do mecanismo COVAX – ter suspendido a exportação de vacinas no final de março, para dar resposta um novo surto da pandemia na Índia.

Nkengasong explicou que a primeira dose da vacina proporciona, porém, um elevado grau de proteção, que a segunda dose “reforça”.

“Estamos confiantes de que o Instituto do Serum e o Governo da Índia irão libertar [novas] vacinas o mais rapidamente possível”, acrescentou, até porque “a Índia não é uma ilha” e, a subida das taxas de imunidade internas não resolvem a questão, se a pandemia, com as suas novas variantes, continuar a crescer no resto do mundo, explicou.

O coordenador do Programa de Imunização e Desenvolvimento de Vacinas da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, Richard Mihigo, afirmou também hoje, numa segunda conferência de imprensa virtual, que a situação “irá provavelmente melhorar em breve”.

Mihigo recordou que nas últimas horas seis países, incluindo o Níger, Mauritânia, Ilhas Comores e Guiné-Bissau receberam as suas primeiras doses através da Covax, um mecanismo promovido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para facilitar o acesso equitativo à vacina antiviral por parte dos países menos desenvolvidos.

“Tudo foi posto em prática para garantir que os países recebam as suas segundas doses a tempo”, acrescentou Mihigo, que lembrou que deve ser deixado um intervalo de até três meses entre as duas doses para uma maior eficácia.

De acordo com dados da OMS, um total de 45 países africanos lançaram campanhas de vacinação – algumas através de acordos comerciais bilaterais — enquanto, destes, 36 fizeram-no através da Covax.

Nkengasong referiu-se ainda à suspensão temporária adotada pela África do Sul em relação à vacina da Johnson & Johnson, na sequência de decisão semelhante adotada pelos reguladores na área da saúde dos Estados Unidos, notando que o número de coágulos no sangue detetados foram de 6 em 6 milhões de vacinas ministradas, uma taxa que o diretor do Africa CDC fez questão de sublinhar.

“Dos 6,6 milhões de pessoas vacinadas, seis sofreram coágulos”, disse Nkengasong, sublinhando ainda o facto de o Governo sul-africano não ter até agora registado qualquer caso semelhante entre os cerca de 290.000 trabalhadores na área da saúde imunizados com esta vacina.

Com uma taxa de positividade atual de 10,2%, África regista até agora 4.375.876 casos de covid-19 e cerca de 116.506 mortes, de acordo com os números divulgados hoje pelo Africa CDC.