"Vi bebés a perder a vida enquanto os seus pais procuravam ajuda para recolher financiamento para a operação", conta, visivelmente emocionado, Isam al Rasi, o cirurgião cardíaco pediátrico mais conhecido do Líbano.

Apesar da sua agenda preenchida e de gerir um hospital em Beirute, o médico dedica um dia por semana para operar crianças refugiadas sírias ou palestinas no Hospital Hamud, no sul do Líbano. Geralmente não aceita qualquer pagamento para tentar reduzir os custos da operação para pais sem recursos e foragidos da guerra.

"Isso faz parte do nosso dever, não da nossa profissão. Se há um bebé que tem que ser operado, ele vai ser operado", enfatiza.

Nas mãos tem agora Amena al Helou, que nasceu com o coração com um único ventrículo. O silêncio em torno do pequeno corpo coberto pelo lençol verde é quebrado pelo som dos bips do equipamento que controla as funções vitais da menina. Na sala de espera, os pais de Amena, Jalil e Amira, esperam ansiosos pelo resultado da operação.

Ambos estão refugiados no Líbano desde 2013 e Jalil, de 39 anos, sustenta a família através da agricultura. A família teve de se endividar para pagar a cirurgia.

O hospital Hamud oferece aos refugiados tarifas reduzidas nas operações. As Nações Unidas bancam 75% dos custos, mas as famílias têm que encontrar ainda os 1.800 euros restantes, uma quantia incompatível com o seu rendimento.

"Pedi dinheiro emprestado a diferentes pessoas, ao meu irmão, primo, outros familiares", explicou Jalil. "O difícil será devolver, não sei como vamos fazer. Mas não há outra opção. É o ser mais precioso que tenho", acrescentou, referindo-se à pequena Amena.

Mais de um milhão de sírios estão refugiados no Líbano desde o início da guerra em 2011. O pequeno país de quatro milhões de habitantes está em dificuldades para fazer frente a esta afluência em massa.