A informação consta de uma troca de emails do diretor da área de neurociências do S. José com o diretor clínico da instituição, a qual pode ser lida na deliberação da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), conhecida esta quinta-feira (21.07).

O regulador identificou “falhas no acesso e na qualidade dos cuidados prestados” pelo hospital ao jovem David Duarte que morreu em dezembro de 2015 por falta de uma cirurgia.

Na deliberação da ERS consta uma mensagem do diretor da área de neurociências do São José, segundo o qual se tratou “de caso com formal indicação operatória para cirurgia precoce para clipagem do aneurisma que não foi possível por ausência de escala de fim-de-semana da equipa cirúrgica, questão já tratada há meses e que deu origem a uma proposta de solução (…) que não teve sequência”.

Morte poderia ter sido evitada

O especialista não tem dúvidas de que “a cirurgia neste caso teria, de facto, evitado a evolução fatal que se veio a verificar”, prossegue a mensagem.

O mesmo responsável, em esclarecimento solicitado pela ERS, afirma: “A única cirurgia de que o doente necessitava era a clipagem do aneurisma e seria este procedimento que evitaria a re-hemorragia que se revelou fatal”.

Sobre a cirurgia, o médico afirmou que esta não se realizou “devido à inexistência de equipa multidisciplinar escalada para cirurgia urgente de aneurisma, equipa essencial para o efeito e sem a qual não é possível em segurança e rigor técnico esse tratamento”.

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Questionado sobre uma eventual transferência do doente para outra instituição, o clínico referiu que a mesma foi equacionada, mas não se concretizou por os profissionais do São José saberem “através de contactos diretos” de uma “inexistência de resposta nos restantes hospitais públicos da área de Lisboa”.

O Centro Hospitalar Lisboa Norte (Hospital Santa Maria e Pulido Valente) também foi ouvido pela ERS, tendo garantido que não existiu “qualquer contacto entre o Hospital de São José e o CHLN para eventual transferência de utentes”, nomeadamente de David Duarte.

“Tanto quanto é do nosso conhecimento, o CHLN não terá feito qualquer comunicação formal de eventual falta de capacidade para o acesso de utentes com rotura de aneurisma e respetiva cirurgia”, lê-se na deliberação.

Entre as falhas identificadas pela ERS está o facto do CHLC- HSJ não possuir “capacidade para a prestação de cuidados de saúde específicos, nomeadamente, realização de cirurgia em situação de rotura de aneurisma cerebral por falta de recursos humanos especializados, essenciais à sua realização, após ter sido diagnosticada a rotura do aneurisma”.

Mas também porque esta unidade de saúde, “considerando que o utente demonstrava já sinais de agravamento clínico”, não procurou “uma alternativa efetiva de acesso para o utente, seja através de convocação da equipa necessária para a realização da cirurgia” ou “através de transferência do utente para outra unidade hospitalar”.

O hospital poderia ainda ter adotado “uma intervenção de tipo life saving”, prossegue o regulador.