O estudo, publicado na página de Internet da revista científica Science, conclui que a estrutura do Zika é muito semelhante à de outros flavivírus, a família de vírus que inclui o dengue, a febre-amarela ou a febre do Vale do Nilo.
Apesar das semelhanças, em particular com o dengue, o Zika parece ter uma estrutura ligeiramente diferente numa região que, no dengue, facilita a ligação aos anticorpos e aos recetores do hospedeiro.
Para o autor do estudo, Richard Kuhn, quaisquer regiões que sejam únicas no vírus do Zika têm o potencial de explicar diferenças na forma como o vírus é transmitido e como se manifesta enquanto doença.
"A estrutura do vírus fornece um mapa que mostra potenciais regiões do vírus que poderão ser alvo de um eventual tratamento, usadas para criar vacinas eficazes ou para melhorar a nossa capacidade de diagnosticar e distinguir a infeção por Zika de outros vírus relacionados", disse Kuhn, que é também diretor do departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Purdue.
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Para o cientista, "determinar a estrutura aumenta muito aquilo que se compreende do Zika, um vírus de que tão pouco se sabe, e ilumina as áreas mais promissoras para se testar investigar de forma a combater a infeção".
"A maioria dos vírus não invade o sistema nervoso ou o feto em desenvolvimento graças a barreiras sangue-cérebro e à placenta, mas a associação com malformações no desenvolvimento do cérebro de fetos em grávidas infetadas com o Zika sugere que este vírus o faz", disse Devika Sirohi, que também participou na investigação.
Reconhecendo que "não é claro como é que o Zika consegue aceder a estas células e infetá-las", Sihori explicou que as diferenças encontradas na estrutura do vírus "podem ser cruciais e justificam mais investigação".
Os investigadores estudaram um vírus do Zika isolado de um paciente infetado durante a epidemia na Polinésia Francesa e determinaram a estrutura a uma resolução quase atómica, explicou Michael Rossmann, coautor do estudo.
Kuhn e Rossmann estudam os flavivírus, família a que pertence o Zika, há mais de 14 anos. Foram os primeiros a mapear a estrutura de um desses vírus ao determinar a estrutura do dengue em 2002. Em 2003 foram os primeiros a determinar a estrutura do vírus da febre do Vale do Nilo e são agora os primeiros a fazê-lo com o Zika.
Um surto de Zika afeta atualmente a América do Sul, e o Brasil, o país mais afetado, já registou mais de um milhão e meio de casos.
O vírus é transmitido aos seres humanos pela picada do mosquito 'Aedes aegypti', que existe em 130 países, e na maioria dos casos provoca apenas sintomas gripais benignos, ou não provoca sintomas de todo.
No entanto, o vírus tem sido associado a casos de microcefalia, doença em que os bebés nascem com o crânio anormalmente pequeno e défice intelectual, e a casos de Síndroma Guillain-Barré, uma doença neurológica grave.
Na semana passada, o Brasil confirmou 907 casos de microcefalia e 198 de bebés que morreram devido a este problema congénito desde o início do surto.
As autoridades estão ainda a investigar se a malformação afeta outros 4.293 bebés com sintomas parecidos.
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