No total, ocorreram 171.000 cremações na província de Zhejiang, entre janeiro e março, bem acima das 99.000 registadas no mesmo período do ano anterior, informou a revista Caixin, que citou dados oficiais divulgados pelas autoridades locais.
O relatório oficial foi posteriormente removido da Internet, segundo a Caixin.
A maioria das pessoas que morrem na China é cremada, já que os enterros são proibidos em algumas regiões.
No final de 2022, a China começou a desmantelar as medidas altamente restritivas que vigoraram durante quase três anos no país, no âmbito da política de “zero casos” de covid-19″, que incluiu o bloqueio de cidades, durante semanas ou meses, a realização com frequência quase diária de testes de ácido nucleico e o encerramento praticamente total das fronteiras.
O súbito fim daquela política ocorreu após protestos realizados em várias cidades da China. O levantamento das restrições, sem estratégias de mitigação ou uma preparação adequada do sistema de saúde, deixou famílias a lutar pela sobrevivência dos membros mais idosos, segundo contaram à agência Lusa residentes em diferentes cidades da China, à medida que uma vaga de infeções inundou os hospitais e crematórios do país.
A China alcançou uma alta taxa de vacinação na população em geral antes de levantar as restrições. No entanto, a taxa de vacinação entre os idosos era relativamente baixa.
Não se sabe quantas pessoas realmente morreram devido a infeção pelo coronavírus no país. O governo informou que houve quase 60.000 mortes relacionadas à doença nas primeiras cinco semanas do surto.
Em entrevista à agência Lusa, o epidemiologista da Universidade de Hong Kong Ben Cowling disse então que os dados “eram certamente uma subestimação do número real”.
Cowling explicou que os testes laboratoriais de deteção do vírus “deixaram de ser realizados com frequência nos hospitais”, pelo que a “maioria dos casos, hospitalizações e mortes pela doença [na China] não foram confirmadas laboratorialmente”.
Uma estimativa feita em janeiro passado por ZuoFeng Zhang, presidente do departamento de epidemiologia da Escola Fielding de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, estimou o número de mortes em cerca de 9 milhões, apenas nas primeiras cinco semanas, após o desmantelamento da política ‘zero covid’.
A onda de infeções atingiu o pico em janeiro.
O ministério de Assuntos Civis da China omitiu os dados sobre o número de serviços de cremação realizados no quarto trimestre de 2022, bloqueando um indicador-chave da mortalidade registada durante o primeiro surto de grande escala ocorrido no país no inverno passado.
A decisão contrariou a prática de longa data do organismo, que remonta a 2007, de divulgar os números de cremação trimestralmente.
Várias regiões de nível provincial, incluindo Zhejiang, também descartaram a divulgação de dados sobre serviços de cremação para o quarto trimestre do ano passado.
A Caixin informou que os números de cremação nos primeiros trimestres de 2020 e 2021 foram de 88.300 e 93.000, respetivamente. As cremações no primeiro trimestre deste ano foram 83% acima da média dos últimos três anos para o mesmo período.
Com quase 60 milhões de habitantes, Zhejiang, que faz fronteira com Xangai, tem uma das populações mais idosas do país.
Em fevereiro passado, o Partido Comunista da China (PCC) declarou uma “vitória decisiva” do país na luta contra a Covid-19.
Após uma reunião presidida pelo secretário-geral do partido, Xi Jinping, o Comité Permanente do Politburo do Comité Central do PCC, descreveu o trabalho de prevenção contra a pandemia no país asiático como uma “viagem extraordinária”, na qual “foi dada prioridade às pessoas e às suas vidas”, através de uma “coordenação eficaz entre a resposta contra a pandemia e o desenvolvimento económico e social”.
O órgão dirigente do PCC afirmou que, após o fim da política de “zero casos”, se seguiu uma “transição suave”, feita num “tempo relativamente curto”, que resultou na “taxa de mortalidade por Covid-19 mais baixa do mundo”.
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