O estudo anual foi publicado pela Rede Global Contra as Crises Alimentares (GNAFC), em colaboração com várias agências da ONU.

Episódios de escassez de alimentos “agravaram-se em magnitude e gravidade” e “exacerbaram as fragilidades pré-existentes” ao longo do ano passado, devido a “conflitos prolongados, consequências económicas da covid-19 e eventos climáticos extremos”, explicou o documento, que analisa a situação mundial da segurança alimentar e nutricional.

“O conflito e a fome alimentam-se mutuamente. Não podem ser resolvidos separadamente”, defendeu o secretário-geral da ONU, António Guterres, no relatório, apelando ainda para que sejam enfrentados os dois problemas ao mesmo tempo, numa altura em que existem mais de 30 milhões de pessoas à beira da fome no mundo.

A região do mundo mais afetada pela escassez de alimentos é a África, onde vivem 97,9 milhões de pessoas nesta situação, ficando à frente do Médio Oriente (29,4), Sul da Ásia (15,6), a América Central e Caribe (11,8) e o Leste Europeu (600.000).

“As previsões apontam para um cenário desolador para 2021, com a ameaça da fome persistindo em algumas das piores crises alimentares do mundo”, alertou o GNAFC, que é apoiado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com sede em Roma, na preparação do relatório.

Em relação às causas da insegurança alimentar global, o Relatório Global sobre Crises Alimentares em 2020 revelou que os conflitos afetaram 99,1 milhões de pessoas, os efeitos económicos – incluindo os da pandemia de covid-19 – 40,5 milhões e os fenómenos climáticos, para 15,7 milhões.

Um total de 55 países sofriam de insegurança alimentar grave em 2020, 34 deles particularmente graves, e os dez com mais pessoas em crise alimentar foram: República Democrática do Congo (21,8 milhões), Iémen (13,5), Afeganistão (13,2), Síria (12,4), Sudão (9,6), Nigéria (9,2), Etiópia (8,6), Sudão do Sul (6,5), Zimbábue (4, 3) e Haiti (4,1).

Entre todos os afetados pela crise, 133.000 pessoas no mundo podem ser consideradas em situação de catástrofe alimentar ou fome, principalmente no Sudão do Sul (105.000), Iémen (16.500) e Burkina Faso (11.400).

Na América Central e no Caribe, um total de 11,8 milhões sofrem com essas crises em El Salvador, Haiti, Nicarágua, Guatemala e Honduras.

O relatório sublinhou particularmente a situação na Guatemala, onde 3,7 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar e onde os “furacões Eta e Iota” intensificaram os problemas para “uma população que já estava vulnerável devido às perdas relacionadas à covid-19 e por vários anos de más colheitas”.

Também o Eta e o Iota e as dificuldades económicas aumentadas pelas restrições devido à covid-19 estão por trás do aumento da escassez de alimentos em Honduras, que atinge 2,9 milhões de pessoas, segundo o documento.

O relatório também alertou para o efeito da crise alimentar nas crianças, com 91 milhões de crianças menores de cinco anos afetadas pela subnutrição no mundo, com uma situação particularmente difícil no Iémen, Sudão e Sudão do Sul.