HealthNews (HN)- A Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante (SPMV) realiza entre hoje e amanhã sua VI Reunião Científica. Quais os temas em destaque?

Cândida Abreu (CA)- Os temas em destaque estão relacionados com a retoma das viagens neste período pós-covid. Vamos abordar as questões que mais nos têm preocupado e levantado questões.

No primeiro dia vamos iniciar as sessões com uma introdução sobre o que mudou com a pandemia, as lições que trouxe e sobre como procurar informação credível e atualizada sobre temas que interessam ao viajante. De seguida iremos abordar temas como as doenças infeciosas e o impacto que têm na saúde do viajante. Como sabe, o dengue, o Zika e o Monkeypox são as doenças emergentes com maior relevância.

HN- Assim como a malária…

CA- Sem dúvida. A malária é um tema que é incontornável nas nossas atividades. Nesta reunião científica faremos uma atualização da doença em viajante, isto é, o que é que temos de novo, o risco para o viajante e a forma como podemos mitigar esse risco. É a doença vetorial mais grave e que mais mata entre os viajantes.

HN- No programa também está prevista a discussão de viajantes com especificidades. Quais os grupos de viajantes que irão ser abordados?

CA- Iremos falar sobre os viajantes idosos, os viajantes com doença crónica, as crianças e os migrantes. Temos muitos migrantes de países asiáticos e africanos. É importante discutir o que precisamos de fazer para a sua saúde e para que a sua integração não cause surtos ou doenças entre os nativos.

HN- E relativamente ao segundo dia da VI Reunião Científica?

CA- Vamos ter o workshop “Vaccines and Travel Medicine”. Este visa expor alguns aspetos que são críticos na vacinação do viajante. Temos a noção que não temos disponíveis todas as vacinas que gostaríamos. Por exemplo, em relação aos agente infeciosos de transmissão entérica temos vacinas que não são tão boas.

Vamos falar também das vacinas incluídas no Plano Nacional de Vacinação. É importante realçar que temos a obrigação de atualizar as vacinas nos viajantes quando estas não estão atualizadas.

HN- Referiu que o evento tem como objetivo debater atualizações e novas realidades da medicina do viajante. O que mudou com a chegada da pandemia?

CA- A Covid-19 mudou muita coisa, sobretudo a perspetiva de risco que é algo muito importante na Medicina do Viajante. As pessoas têm uma outra sensibilidade para as doenças de transmissão respiratória. Tendem a fazer viagens não tão longas e tão distantes. A questão do seguro de saúde também ganhou maior relevância. Os viajantes perceberam que as coisas podem mudar rapidamente.

HN- Quais os principais desafios que a área da Medicina do Viajante traz aos profissionais de saúde no período atual pós-pandemia?

CA- É conseguir dar resposta a estas viagens que são agora feitas. Somos muitas vezes questionados sobre seguros de saúde, o que fazer em caso de doença e onde procurar informação atualizada. Portanto, as consultas acabam por ser cada vez mais exigentes.

HN- E os profissionais de saúde estão preparados para dar resposta às novas exigências dos viajantes?

CA- Sim e estes encontros têm esse objetivo. Queremos permitir a troca de conhecimento e experiências.

HN- A vacinação contra a COVID-19 teve um papel determinante para o regresso à normalidade. Considera que a pandemia trouxe uma mudança de mentalidade relativamente à importância da proteção das vacinas quando se trata de iniciar uma viagem?

CA- Sim. Curiosamente quando as viagens começaram a ser retomadas, as pessoas deslocavam-se para zonas onde a população estava vacinada contra a Covid-19. Deixamos de ver viagens para a ásia ou para áfrica… As pessoas temiam a distância e a falta de controlo da doença.

Hoje em dia, as pessoas pensam mais nas vacinas por causa da pandemia. Há uma maior perceção de que as vacinas podem fazer a diferença e permitem garantir viagens mais seguras.

HN- Com as alterações climáticas, começamos a ver, nos países ocidentais, casos de infeção por vírus endémicos de países tropicais. O que é que isto muda na medicina do viajante?

CA- A primeira coisa que os viajantes devem saber são os riscos para os locais de destino. Quando são doenças causadas pela picada de artrópodes temos as medidas de prevenção da picada do mosquito.

HN- Significa que os cuidados continuam a ser os mesmos?

CA- Os cuidados podem alterar dependendo do destino da viagem. Nos países onde há surtos de Dengue e Zika alargamos os cuidados para evitar a picada do inseto.

Entrevista de Vaishaly Camões