"Não podemos estar presentes porque temos uma deficiência e estamos presos em casa e em lares", lê-se num cartaz que acompanha o protesto silencioso.

A população é convidada a fotografar e a partilhar nas redes sociais.

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A iniciativa, do Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI), cativa a atenção de quem passa, especialmente turistas, mas também alguns portugueses que perguntam se os sapatos são para vender.

Sapatos serão doados

Os elementos do CAVI de Lisboa, que ali se encontram em vigília desde quarta-feira, explicam o significado da "exposição" e informam que no final da iniciativa os sapatos serão doados. "Acho muito bem! O Governo devia era apoiar. Cada vez tiram mais coisas à gente", desabafa uma das transeuntes que se aproximara para indagar.

Carla Oliveira e Susana Pinto, ambas numa cadeira de rodas, eram o rosto do CAVI na tarde de hoje no largo de São Domingos.

À Lusa explicaram que o objetivo é conseguir replicar no país o projeto piloto iniciado em Lisboa e que já mudou a vida de algumas pessoas.

Uma das companheiras, Diana, deixou de viver no Barreiro com os pais e conseguiu instalar-se em Lisboa, ter uma carreira e uma vida social ativa. A mãe pôde voltar a trabalhar.

O que pretendem é ter capacidade para contratar uma pessoa (assistente) que funciona como extensão do próprio utente, escolhida por si e que ajude nas tarefas que cada um precisar.

"É o oposto do apoio domiciliário", explicou Susana Pinto, acrescentando: "Isto é possível e é por isso que estamos aqui a dormir numa tenda".

Carla Oliveira defendeu que é a alternativa digna à institucionalização, em que o Estado "paga 1.024 euros por utente" e se a pessoa auferir de uma pensão "ainda tem de entregar 90% à instituição". Ou seja, "fica sem nada".

Sérgio Lopes, membro dos órgãos sociais do CAVI, juntou-se às companheiras também numa cadeira de rodas, para sublinhar que o orçamento estabelecido não chega para as necessidades da população com deficiência.

Há milhares, "ou milhões de pessoas", a precisarem de uma resposta para não estarem dependentes de familiares ou amigos", referiu.

"Estamos aqui a lutar por uma vida independente, as notícias não têm sido muito boas sobre o financiamento", declarou Sérgio, enquanto informava uma das muitas curiosas que poderia recolher alguns sapatos no final da vigília.

Outros já estavam prometidos. Assim que começaram a montar o espaço para uma vigília de 70 horas, a população mais carenciada da zona apareceu no local para saber se podia levar algum artigo.

Em entrevista à agência Lusa, hoje divulgada, a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, assumiu que "sempre foi claro" que os CAVI seriam projetos piloto e que não chegariam a todas as pessoas.