Na cerimónia de entrega dos Grammys no domingo à noite, Lady Gaga disse que estava "orgulhosa por fazer parte de um filme ("Assim nasce uma Estrela") que trata de problemas de saúde mental", com um herói que sofria de vícios e apresentava ideação suicida.

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Muito comprometida com essas questões, a estrela pop revelou há dois anos que sofria de stress pós-traumático. Mas o seu caso não é único: o comediante Pete Davidson, do Saturday Night Live, revelou sofrer de uma depressão, enquanto Mariah Carey admitiu ser bipolar. "Eu não queria deixar-me levar pelo estigma de uma doença crónica que me definiria e acabaria com a minha carreira", declarou a cantora à revista People.

"Tinha medo de perder tudo", disse ela, sobre a doença que atinge 60 milhões de pessoas e que é considerada a sexta mais incapacitante, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. (OMS).

Um avanço considerável

O psiquiatra Jean-Victor Blanc, observador das relações entre cultura pop e psiquiatria, considera esta abertura um "avanço considerável".

"Os distúrbios psíquicos são tão estigmatizados que é bom ter exemplos positivos", ressalta o médico de 31 anos que trabalha no hospital Saint-Antoine, em Paris.

O exemplo de Mariah Carey é "inspirador para os meus pacientes", porque assim que ela se pronunciou sobre o seu caso, regressou às suas atividades normais como artista.

Também corresponde às "recomendações atuais" em termos de tratamento, enquanto os filmes às vezes pintam quadros muito distantes da realidade médica, com pacientes que são capazes de lidar com a doença graças a um encontro romântico ou religião, comenta o especialista.

A bipolaridade nas manchetes

A bipolaridade tornou-se uma lugar-comum na ficção (a série "Homeland" ou o filme "O Lado Bom da Vida", que rendeu a Jennifer Lawrence um Oscar em 2013), ao contrário da esquizofrenia (que afeta 23 milhões de pessoas) que permanece estigmatizada.

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Mesmo que os artistas falem das suas doenças, o trabalho continua a ser considerável. Talvez porque tais doenças são vistas como parte da vida de artista. "Dar uma imagem glamourosa para algumas doenças não é algo novo, mas ainda é um problema", diz Philip Auslander, professor de comunicação no Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA), lamentando a imagem romântica do artista auto-destrutivo.

"A ideia de que a criatividade se paga a um preço muito alto a um nível pessoal é algo que é implicitamente aceite, mas muito prejudicial", aponta.

O ovo do Instagram

Para provocar um maior efeito junto da opinião pública, uma equipa de publicitários lançou uma campanha no início de janeiro no Instagram, visando destronar o recorde de "likes" detido por Kylie Jenner com a foto de um ovo (Eugene Egg). Desafio que mereceu a atenção do público e que gerou um novo recorde em poucos dias.

Outras fotos, em seguida, apareceram com a casca do ovo a abrir e um link para dezenas de organizações que trabalham pela saúde mental em todo o mundo. "Por causa de um ovo", 5.000 pessoas visitaram num único dia o site da Mental Health America (MHA)", comemorou Paul Gionfriddo, chefe da associação, um organismo que luta pelo fim da estigmatização da patologia mental e que dá apoio a vítimas destas doenças.

A maioria desses acessos diziam respeito a um público relativamente jovem, um terço eram homens e 63% das pessoas nunca tinham sigo diagnosticadas com doença mental.