A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu na sexta-feira que está preocupada com o aparecimento de casos sem "vínculo epidemiológico claro" fora da China.
Em Itália, um idoso de 78 anos foi o primeiro europeu a falecer por causa da epidemia. Estava internado há dez dias com uma doença não relacionada com o coronavírus.
Era uma das duas pessoas infectadas no Veneto, no norte do país, enquanto cinco médicos e outras dez pessoas são portadoras do novo coronavírus na Lombardia. Aparentemente, frequentavam o mesmo bar e grupo de amigos.
O anúncio ocorre após a decisão de fechar espaços públicos e cancelar eventos desportivos e religiosos em 11 cidades do norte do país depois que um primeiro surto da doença foi identificado em Codogno, perto de Lodi.
Como sinal do medo que avança no mundo, nesta área localizada a cerca de 60 km a sudeste de Milão, mais de 50.000 pessoas foram semiconfinadas.
Não poderão deixar as suas casas nos próximos cinco dias, uma medida semelhante à ordenada pela China na região onde a epidemia surgiu, na província de Hubei.
Os novos focos da doença multiplicam-se: mais duas mortes no Irão, primeiro contágio em Israel e Líbano, duplicação de casos na Coreia do Sul e cerca de 500 prisioneiros contaminados na China.
A "janela de oportunidade" para erradicar a epidemia "está a estreitar-se", advertiu o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
O número de novos casos diários de infecção por coronavírus na China diminuiu, com 397 casos anunciados no sábado pela comissão nacional de saúde contra quase 900 na sexta-feira.
Na China continental (sem Hong Kong e Macau) foram registadas até o momento 2.345 mortes e 76.000 pessoas infectadas, de acordo com o balanço de sábado. Em outras partes do mundo, existem 11 mortos e 1.100 portadores do vírus.
"Vemos que a situação evolui. Não só aumenta o número de casos mas também vemos diferentes modelos de transmissão", afirmou Sylvie Briand, diretora do Departamento de Gestão de Riscos Infecciosos da OMS.
Como sinal da sua preocupação, a OMS anunciou a designação de seis enviados especiais, entre eles David Nabarro, ex- coordenador para o ébola durante a epidemia na África ocidental entre 2013 e 2016.
Mais casos fora da China
A China estabeleceu uma quarentena de fato para dezenas de milhões de pessoas na província de Hubei (centro) e na sua capital Wuhan, epicentro da epidemia.
Vários países proibiram a entrada de viajantes da China e muitas companhias aéreas suspenderam os seus voos para o país. Mas essas restrições não impediram o surgimento de novos casos fora da China continental.
O Irão anunciou esta sexta 13 novos casos de contágio e a morte de outros dois, num total de quatro mortes e 18 infectados. A maioria dos casos na cidade de Qom (150 km ao sul de Teerã).
Na Coreia do Sul, o número de casos quase duplicou no sábado, chegando a mais de 346. Entre eles, cerca de 150 são membros da "Igreja de Jesus Shincheonji", uma seita cristã localizada na cidade de Daegu (sudeste).
"Muito perigoso"
No Japão, a controvérsia aumentou em torno do navio "Diamond Princess", atracado em quarentena no porto de Yokohama, perto de Tóquio, desde o início de fevereiro e que continua a ser o principal foco de infecção fora da China.
Dois australianos, que quando desembarcaram deram negativo nas análises, foram declarados infectados quando regressaram à Austrália, o que levantou questões sobre os procedimentos das autoridades japonesas, que autorizaram centenas de passageiros supostamente não infectados a deixar o navio.
Um avião com 129 canadianos que estavam no cruzeiro chegou esta sexta a uma base militar na província de Ontário.
Outros países continuam a retirar os seus cidadãos: um terceiro avião fretado pela França descolou na manhã desta sexta de Wuhan com 28 franceses a bordo e 36 cidadãos de outros países da União Europeia.
Situação 'complexa'
Numa reunião do Partido Comunista Chinês (PCC), presidida pelo chefe de estado Xi Jinping, os participantes apontaram que o "pico [da epidemia] ainda não havia sido atingido" e que a situação era "complexa" em Hubei. Sinal disso é a morte de um médico de 29 anos em Wuhan.
Em Pequim, as autoridades anunciaram 36 casos no hospital Fuxing e um no hospital da Universidade, uma pessoa internada após ser infectada por dois parentes que a visitaram.
Particularmente preocupante é a situação nas prisões: 200 detidos e sete guardas foram infectados em Jining, na província de Shandong (leste), e há 34 casos numa unidade de Zhejiang (leste). Em Hubei, foco da epidemia, 271 infecções foram registadas nas prisões.
Muitos chineses voltaram ao trabalho esta semana, mas o país ainda está meio paralisado com as pessoas nas suas casas e a maioria das lojas, restaurantes e escolas fechadas.
A China lançou um anúncio esperançoso esta sexta: os investigadores poderão realizar no final de abril os primeiros testes em humanos para uma vacina contra vírus.
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