A empresa Crioestaminal anunciou ontem, depois de um deputado ter protestado, que suspendeu, há três dias, e a pedido de “muitos” pais, o filme publicitário aos alegados benefícios da recolha das células do cordão umbilical.

Referindo que respeita “todas as opiniões, científicas ou não”, sobre a utilidade do recurso às células estaminais do cordão umbilical para tratar doenças, a empresa diz que o método permite tratar 80 doenças.

O deputado do Bloco de Esquerda, João Semedo, médico de profissão, dirigiu na sexta-feira uma carta ao Instituto do Sangue e da Transplantação, a pedir a suspensão imediata da campanha publicitária e a abertura de um processo de averiguações para apurar responsabilidades e consequências daquele anúncio.

A publicidade diz que há uma hipótese em 200 de as crianças virem no futuro a desenvolver doenças como leucemia, linfoma ou tumores sólidos, passíveis de serem tratadas com células estaminais próprias ou de um irmão, algo que João Semedo diz não estar provado cientificamente.

O deputado considera que a publicidade é “enganosa” por estabelecer uma relação direta entre a preservação e utilização futura das células do cordão umbilical e o tratamento e cura de diversas patologias, o que “não tem qualquer base técnica e científica”.

Do ponto de vista médico, João Semedo salienta que não há qualquer base científica que comprove a relação entre as células estaminais do cordão umbilical e a cura de doenças.

“Nada hoje permite dizer que as células estaminais do cordão umbilical podem tratar doenças. É estar a prometer uma cura milagrosa quando sabemos hoje que não é possível. É abusivo”, afirmou.

A empresa, sem comentar as afirmações do deputado, emitiu uma nota onde afirma que “todos os anos em Portugal 85 mil cordões umbilicais, cheios de células estaminais, não são aproveitados, desperdiçando material valioso para o tratamento de doenças graves”.

“Desde o sucesso do primeiro transplante com sangue do cordão umbilical, em 1988, que esta fonte de células estaminais se tem vindo a utilizar cada vez com maior frequência quer em crianças quer em adultos, tendo sido realizados mais de 25 mil transplantes”, acrescenta.

A situação levou o Colégio de Especialidade de Imunohemoterapia da Ordem dos Médicos a acusar a empresa de divulgar falsidades na sua campanha publicitária.

A Crioestaminal responde à acusação dos especialistas médicos defendendo que as células estaminais “podem ser utilizadas para o tratamento de doenças do sangue (oncológicas ou não-oncológicas)”, por “serem responsáveis pela produção de todas as células do sangue e do sistema imunitário”.

E cita estatísticas norte-americanas segundo as quais a probabilidade de uma pessoa até aos 70 anos necessitar de um transplante com aquele tipo de células é de cerca de um em 400.

22 de maio de 2012

@Lusa