A tuberculose multirresistente, com uma taxa de mortalidade de 50%, comparável à do ébola, só é diagnosticada em um quarto dos casos e é extremamente difícil de tratar.

"Se pensarmos nas ameaças ao risco sanitário mundial, aqui a luz vermelha teria de ser acesa", advertiu Sands em Nova Deli, onde na sexta haverá uma reunião preparatória para a próxima conferência trienal de financiamento do Fundo Mundial.

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Este organismo, criado em 2002 como uma colaboração entre poderes públicos, sociedade civil, setor privado e pacientes, preocupa-se especialmente com os casos de tuberculose resistente aos antimicrobianos, calculados em 600.000 no mundo.

Doença sem fronteiras

Esta doença "não conhece fronteiras nem precisa de visto. (...) Por enquanto, cerca de 25% destes 600.000 casos estão diagnosticados e em tratamento", afirmou Sands, que dirige o Fundo Mundial desde o ano passado.

O número de mortes devido ao VIH/Sida e à malária diminuiu aproximadamente pela metade desde o início do século. A tuberculose, atualmente a doença infecciosa mais letal no mundo, com 1,3 milhão de mortos por ano (exceto coinfeções por VIH/Sida), causou em 2016 cerca de 20% de mortos a menos que em 2000.

Mas estes avanços continuam a ser modestos demais tendo em conta o objetivo de erradicar estas três epidemias antes de 2030, fixado pela ONU. "Se comparamos a curva em termos de novas infecções e de mortes em relação à que deveríamos ter, temos de acelerar o movimento", insistiu Sands.

O risco de descuido das autoridades de saúde, a estagnação dos investimentos de ajuda internacional dedicadas à saúde e o desenvolvimento de formas de doença resistentes aos tratamentos poderiam travar os avanços conseguidos até agora e levar a um aumento das epidemias.

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Coca-Cola e remédios

Neste contexto, o Fundo Mundial pretende conseguir 14 mil milhões de dólares para o período 2020-2022, ou seja, 1,8 mil milhões a mais que a soma alcançada para 2017-2019. Um orçamento totalmente insuficiente, segundo as ONGs.

O organismo tenta estabelecer acordos com empresas privadas, que vão além da simples doação, especialmente na África subsaariana, onde se concentram dois terços dos investimentos do Fundo Mundial.

A multinacional Unilever utiliza a reputação da sua marca de produtos de higiene Dove para fazer campanhas de prevenção contra o VIH/Sida entre os adolescentes e mulheres jovens na África do Sul, as populações mais vulneráveis ao vírus.

Em vários países africanos, o Fundo Mundial utiliza também a poderosa rede de distribuição do gigante de bebidas Coca-Cola para fornecer remédios a clínicas isoladas.

"Nos lugares mais remotos da maioria de países, é possível encontrar uma Coca-Cola, não é? Utilizar os seus camiões, a sua rede de abastecimento, ajuda-nos a transportar fármacos a lugares onde as pessoas precisam deles", explica Sands.