Mata, em média, três milhões de pessoas por ano em todo o mundo e não tem cura, apesar de poder ser prevenida e tratada, ainda que muitos não saibam que a têm, uma vez que é silenciosa. A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma patologia broncopulmonar que resulta da obstrução progressiva das vias aéreas. O sintoma mais frequente é a sensação de falta de ar que, com o passar do tempo, pode conduzir a limitações graves, nomeadamente no desempenho das atividades diárias.

O tabagismo é o maior inimigo da doença. "A DPOC é muito mais prevalente nas pessoas que fumam mais do que nas que fumam menos. Sabemos que se fumar um maço por dia, o risco de DPOC é de 20%. Se fumar dois maços, o risco aumenta para 40%. Mas fumar também provoca cancro do pulmão e aí não existe uma relação dose/efeito. O melhor é não fumar", aconselha José Alves, médico pneumologista e presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão em entrevista à edição digital da revista Prevenir.

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"90% dos doentes com DPOC são fumadores. Os outros 10% são pessoas com asma que não está convenientemente tratada", refere. "Depois, há um risco muito pequeno que é o risco ambiental e o risco do fumo a lenha, mas já ninguém cozinha com lenha. Por isso, podemos dividir os doentes em 90% de fumadores e 10% de pessoas com asma que não está controlada", garante. A DPOC afeta cerca de 14% dos portugueses, maiores de 40 anos e, em particular, fumadores. Apesar de não haverem dados oficiais, existirão entre 600.000 a 800.000 doentes em Portugal. Um estudo científico encomendado pela Fundação Portuguesa do Pulmão concluiu, no entanto, que só entre 150.000 a 200.000 é que fazem tratamento.

José Albino, 70 anos, fumador durante 35 anos, faz parte do segundo grupo. Tinha 15 anos quando levou à boca o primeiro cigarro e ainda não tinha feito 51 anos quando foi diagnosticado com DPOC. "Fumava, em média, um maço e meio por dia quando, por volta dos 45 anos, comecei a ter tosse matinal com alguma expetoração. Associei essa tosse ao ato de fumar mas não liguei", assume o reformado, um dos cofundadores da associação Respira, no testemunho que deu à edição digital da Prevenir.

"Passava os invernos muito mal, sempre constipado. Mas, como tinha sinusite, também não valorizei muito", reconhece. "Foi só perto dos 50 anos, quando comecei a ficar com um cansaço que não era habitual ao realizar tarefas normais, como subir escadas, que me soou o alerta", revela o vice-presidente da direção da Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas, um dos protagonistas do vídeo de uma nova campanha de sensibilização que pretende alertar consciências.

"O que é que já fez hoje?" é o novo hino de uma iniciativa, desenvolvida no âmbito do Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, que se assinala hoje um pouco por todo o planeta, para sensibilizar doentes e profissionais de saúde. Promovida pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, pela Fundação Portuguesa do Pulmão e pela associação Respira, com o apoio da empresa farmacêutica Menarini Portugal, esta ação conta com a participação de dirigentes e de colaboradores destas intituições.

A DPOC pode ser prevenida e tratada. "O tipo de tratamento depende dos sintomas e da fase de diagnóstico da doença. Os objetivos são reduzir os sintomas e as crises, para que o doente se mantenha tão ativo quanto possível e consiga atrasar a evolução natural da doença", esclarece um artigo publicado na edição digital da revista Prevenir que, além de explicar o que é a doença, também indica quais são os principais sintomas, os fatores de risco, os meios de diagnóstico e as formas de prevenção e até de tratamento.

A bronquite crónica, que se manifesta pela presença de tosse e de expetoração na maior parte dos dias, durante três meses e dois anos consecutivos, é, a par do enfisema pulmonar, que pode surgir isoladamente ou como complicação da bronquite crónica, a manifestação mais comum de DPOC. "A doença só se manifesta quando já se perdeu 40% da função respiratória e é nessa altura que é diagnosticada, por volta dos 55 e dos 60 anos. A perda de função respiratória não é reversível", avisa José Alves.

"Quando se perde 30%, já não se recupera. Se a pessoa, em vez de perder 30%, perder 40% da função respiratória já começa a ter falta de ar. E o problema é que os pulmões também sofrem de perda de função respiratória com a idade. E, quando as coisas já estão mal, pioram mais rapidamente", alerta. "Quando se perde 60%, fica-se com insuficiência respiratória e a precisar de oxigénio. Daí a importância do diagnóstico precoce e do rastreio", insiste ainda o presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão.

Só à segunda vez é que José Albino percebeu o que tinha. "Só quando repeti o exame e me foi detetada a DPOC é que comecei a levar as coisas mais a sério", confidencia. A patologia levou-o a deixar de fumar e os tratamentos que tem feito mantêm a doença sob controle. "Houve coisas que deixei de poder fazer ou de fazer com a mesma facilidade com que antes as fazia", reconhece o dirigente. "É tudo mais lento. A vida é mais lenta e a pessoa tem de a programar. Depois, vai-se habituando", desabafa ainda.