Um em cada três fontanários tem água imprópria para consumo e bebê-la é “arriscar a saúde”, porque não têm ligação à rede pública, nem tratamento ou controlo, segundo um estudo divulgado pela associação de defesa do consumidor Deco.
Nos meses de abril e maio, a Deco recolheu amostras de água de 35 fontanários, de norte a sul do país, tendo escolhido os concelhos com base no elevado número de fontes públicas, incluindo os 18 fontanários que em 2004, no último estudo da associação, acusavam água imprópria para consumo.
A amostra incidiu em fontes não abastecidas por água da rede pública de distribuição e que não são origem exclusiva de água para a população local, tendo o estudo avaliado as condições de higiene do fontanário e da área envolvente.
Segundo o estudo “Água de fontanários de má qualidade”, que será publicado na revista PROTESTE julho/agosto, a água de 12 dos 35 fontanários está imprópria para beber.
Em Caneças, Odivelas, a água excede o limite máximo de chumbo e alumínio. Em Abrantes, foram detetados valores elevados de manganês, metal pesado perigoso por acumular-se no organismo.
Nos restantes 10 fontanários (Almeida, Baião, Beja, Elvas, Loulé, Nisa, Santarém, Santiago do Cacém, Vale de Cambra e Santa Maria de Viseu), a principal razão deve-se a contaminação bacteriológica por E. coli, Enterococus, Clostridium Perfringens ou coliformes fecais, adianta a Deco.
“Geralmente, estes microrganismos habitam nos intestinos de animais de sangue quente como o homem. Febre, diarreia e vómitos são sintomas comuns, típicos de gastroenterite e intoxicação alimentar. Infeções urinárias e, mais raramente, endocardite bacteriana, são também efeitos”, explica o estudo, alertando que as crianças, idosos e indivíduos debilitados podem ser os mais afetados.
Depois de analisados os fontanários, a Deco alertou as autarquias, juntas de freguesia e autoridades regionais de saúde.
Segundo a associação de defesa do consumidor, “são evidentes as falhas dos municípios e juntas de freguesia em garantir a qualidade da água fornecida por fontes não ligadas à rede pública (esta abrange 98% da população)”.
“Autoridades de saúde, câmaras municipais e juntas de freguesia atribuem responsabilidades entre si e este jogo permite que água imprópria esteja acessível à população, crente da suas boas propriedades. Se a má qualidade representar risco para a saúde pública, as autoridades de saúde devem ordenar a interrupção do fornecimento”, acrescenta.
A Deco lembra que, desde que a fonte não seja origem exclusiva de água para a população, a lei permite a sua não inclusão no Plano de Controlo da Qualidade da Água, bem como que os municípios ou freguesias, em geral responsáveis pelos fontanários, descartem responsabilidades, desde que no local esteja afixado um aviso de “água não controlada”.
“Mas estes avisos são, muitas vezes, removidos ou vandalizados e não demovem a romaria de populações a estes locais com água a custo zero, mas com risco elevado para a saúde de quem a ingere”, salienta a Deco.
30 de junho de 2011
Fonte: Lusa
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