A pandemia viral de COVID-19 ainda não foi erradicada, uma situação que, apesar da elevada taxa de vacinação que Portugal regista nos dias de hoje, obriga a uma vigilância continuada. Encontrar as formas mais adequadas de viver este período em segurança volta a ser o grande desafio. "A diminuição de pessoas nos festejos, a eventual limitação de deslocações entre regiões, a solidão e a saudade serão as principais questões a superar", adverte a socióloga Maria José Núncio.
Não serão, no entanto, as únicas. A especialista aponta ainda "a gestão do cansaço e pressão psicológica da imprevisibilidade quanto ao fim previsto da pandemia", dois fatores que também têm de ser levados em conta. "Teremos de ter muita flexibilidade e criatividade para levar este Natal a bom porto", corrobora a psicóloga Alcina Rosa. Pensar e preparar com antecedência será essencial, pelo que partilhamos estratégias que podem servir de orientação.
Resgatar o significado da quadra é imperativo, até por uma questão de saúde mental. "Nos últimos anos, o Natal tornou-se uma festa cada vez menos religiosa e mais um encontro entre pessoas queridas. Não sendo possível festejá-lo como habitualmente, a solução poderá ser preparar-nos para festejar de forma menos gregária e festiva, mais recolhida, ressignificando a quadra no sentido espiritual original. Pode até ocorrer que, para muitos, se dê uma revalorização da quadra, que em tempos normais era vista como mais uma das rotinas anuais e que agora, privados dela, ganhe nova carga de conforto emocional de que se sente falta", reforça Maria José Núncio.
Planear (mais) antecipadamente as celebrações passou a ser inevitável. Para que as festas natalícias decorram em segurança, sem sobressaltos nem sustos desnecessários, são vários os aspetos que devem ser previamente definidos. "Devemos ir pensando que reuniões haverá e como se dividirão os tempos. Uma hipótese é prolongar as celebrações até ao dia 26 ou 27, para que todos possam estar juntos com as devidas distâncias e celebrar a quadra", sugere a socióloga.
"Seria boa ideia que um ou dois membros da família se dispusessem para pensar a parte logística, falando com os demais sobre a organização do espaço, o que cada um leva e também as tarefas que cada um irá ter no local. Podemos designar uma pessoa para servir, levantar os pratos e limpar, de forma a evitar a aglomeração de pessoas na cozinha, por exemplo. É importante que todos sejam previamente informados das regras definidas", recomenda ainda Alcina Rosa.
A opção das mesas separadas
Alcina Rosa é uma das defensoras desta opção. "Se o espaço permitir, é boa ideia montar várias mesas para poder separar as pessoas por agregado familiar ou por grupos de risco", sugere. Adicionalmente, pode seguir as regras dos restaurantes. Abrir a porta de máscara e tirá-la para comer ou estar no sofá e cadeiras, mantendo a distância. Além de disponibilizar um envelope de papel para cada pessoa colocar a sua máscara, deve ter álcool gel à mão e ir arejando os espaços.
"Nos casos em que as deslocações sejam impossíveis, as tecnologias, dando preferência a um computador portátil ou tablet, pois têm melhor qualidade de visualização do que um telemóvel, são a melhor forma de sentir que a distância física não significa distância do coração. Convencermo-nos disto e convencermos aqueles que nos são queridos será fundamental", afirma Maria José Núncio. "Se for viável, podemos procurar organizar uma ceia virtual por videoconferência, estabelecendo, por exemplo, a hora em que todos se reúnem para jantar ou combinando uma ligação na hora da sobremesa", sugere Alcina Rosa.
As famílias numerosas podem recorrer a um hotel ou a um restaurante para fazer a ceia de Natal. "Por um lado, é uma forma de ajudar economicamente estes locais e de facilitar a logística, já que caberá ao espaço determinar a distância e a manipulação de loiça e comida. Também aqui é possível usar o recurso de várias mesas, por agregado ou por grupo de risco, permitindo que as pessoas estejam no mesmo espaço e convivam, mantendo a distância", avisa.
O problema dos jantares profissionais
Nesta altura do ano, não faltam encontros e convívios sociais. "Adiar estes eventos não é o mais desejável, pois não sabemos quanto tempo vai durar esta situação. Comemorar de forma diferente, isso sim. Estas iniciativas, tal como as trocas de presentes do amigo secreto, são importantes porque a amizade é fundamental no combate à solidão, à incerteza e ao medo, na medida em que nos permite o conforto da sensação de pertença", defende Maria José Núncio.
"Tudo o que sirva para a demonstrar deve ser reforçado e incentivado", defende. "Podemos fazer encontros online, partilhando conversas e boa-disposição, mostrando o que cozinhámos e trocando receitas, por exemplo. Muitos já o fazem em contexto de teletrabalho e podemos fazê-lo em contexto lúdico. Quanto aos presentes, substitua-os por uma frase especial, um poema, uma música ou um desenho feito especialmente para aquela pessoa", sugere.
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