As varizes são uma das formas mais conhecidas e visíveis da chamada Doença Venosa Crónica dos membros interiores. Esta doença que, como o nome indica é crónica, é também muito frequente, estimando a Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (a Especialidade que se dedica ao tratamento das doenças das veias, artérias e linfáticos), que afete cerca de um terço da população portuguesa e cerca de 2 milhões de mulheres, sendo que cerca de metade delas não estará ainda diagnosticada e/ou tratada.

O que são as varizes e porque aparecem?

Do ponto de vista clínico, a doença venosa crónica manifesta-se pela dilatação das veias dos membros inferiores, podendo surgir os chamados “derrames” (pequenas veias da pele), as varizes (veias dilatadas, salientes e tortuosas), podendo em fases mais tardias aparecer edema (“inchaço”), habitualmente no tornozelo.

A doença venosa tem tendência para evoluir e/ou agravar. São importantes fatores de risco: a história familiar de doença, a idade, a obesidade, a gravidez, o sedentarismo, a obstipação crónica, o permanecer por longos períodos em pé ou sentado e o género feminino (afeta mais as mulheres do que os homens - cerca de 60% mulheres para 40% de homens).

Ao longo do tempo, a evolução desta doença pode provocar uma inflamação crónica da pele das pernas, que se traduz pelo aparecimento de manchas avermelhadas e posteriormente pigmentação acastanhada, que significam já uma lesão irreversível da pele que pode evoluir para uma úlcera.

Quais são os sintomas e como se diagnostica?

Os sintomas mais frequentes são o cansaço, o desconforto ou mesmo dor nos membros inferiores, o “inchaço”, podendo também surgir prurido (“comichão”) e cãibras nocturnas. As queixas geralmente agravam ao final do dia, após longos períodos em pé ou sentado e com o calor (motivo pelo qual os sintomas pioram no verão), aliviando com o repouso e elevação das pernas.

Numa fase inicial pode haver já sinais da doença (como os “derrames” ou as varizes) ainda sem sintomas, sendo também frequente o inverso, ou seja, doentes sem grandes alterações visíveis, mas que apresentam sintomas (como o cansaço das pernas).

O diagnóstico da doença venosa crónica embora seja essencialmente baseado nos sinais e sintomas, poderá ser complementado com exames, particularmente o Eco Doppler colorido (uma ecografia com estudo específico para o sistema vascular).

Porquê tratar esta doença se é crónica e não se cura?

Efectivamente, apesar desta doença não ter cura, tem tratamento e pode e deve ser tratada. O tratamento, não sendo urgente na maioria dos casos, não deve ainda assim ser adiado, sob pena da doença se agravar, levando a complicações mais graves, algumas delas mesmo irreversíveis.

Em primeiro lugar, o tratamento permite uma melhoria da qualidade de vida, com eficaz alívio dos sintomas. Em segundo lugar, diminui-se o risco de algumas complicações como a formação de coágulos nas veias superficiais (as tromboflebites) ou nas veias profundas (as tromboses venosas profundas), assim como a pigmentação da pele e a evolução para a úlcera.

O tratamento assenta em primeiro lugar em adoptar medidas de estilo de vida, nomeadamente, o exercício físico, a perda de peso, a hidratação, evitar roupas apertadas e o uso de meias de compressão elástica. Alguns medicamentos são também úteis no alívio das queixas e do “inchaço” das pernas (venotrópicos).

Os “derrames” poderão ser tratados através de um laser cutâneo ou com esclerose (que consiste na injeção de um líquido que promove a “secagem”/destruição da veia).

Já as varizes são habitualmente tratadas com cirurgia, sendo hoje em dia recomendados pelas principais Sociedades Científicas de Cirurgia Vascular, os métodos minimamente invasivos (como o laser e a radiofrequência de varizes). Estes métodos, que utilizamos diariamente na CUF, permitem um tratamento menos invasivo das varizes, necessitando por isso de uma anestesia mais ligeira, promovendo um pós-operatório menos doloroso e com uma recuperação muito mais rápida.

Quando devo procurar um médico? Poderei adiar o meu tratamento?

Sempre que há sintomas e sinais desta doença, deverá existir uma avaliação por um Cirurgião Vascular no sentido do diagnóstico ser feito atempadamente, permitindo a identificação do tratamento mais correto e adequado para cada doente e sua situação clínica.

A situação de pandemia de COVID-19 levou a que muitos doentes, pelo receio de contágio, adiassem a ida ao médico, o que pode levar a que muitas doenças, como a Doença Venosa Crónica, não sejam identificadas em fase mais precoce, com consequente aparecimento de complicações tardias, que seriam perfeitamente evitáveis caso o tratamento tivesse sido implementado mais cedo. É importante retomar agora as rotinas de vigilância e prevenção. Lembre-se que o próximo inverno será exigente para todos nós e torna-se necessário planear agora a nossa saúde.

As unidades de saúde adaptaram-se rapidamente a esta situação, promovendo uma cultura de segurança, através da implementação de protocolos e circuitos separados onde é possível continuar a tratar em segurança todas as outras doenças, que obviamente seguiram o seu curso apesar da pandemia.

Doentes portadores de doença venosa crónica ou que suspeitem que tenham sintomas ou sinais desta doença podem, deste modo, sentir-se seguros em procurar apoio médico na Angiologia e Cirurgia Vascular. Não adie o seu diagnóstico e tratamento.

Um artigo do médico Hugo Valentim, Cirurgião Vascular do Hospital CUF Descobertas.