Dezembro é, tradicionalmente, o mês dos excessos: entre os doces natalícios, os almoços e jantares de Natal, a comida em excesso e, para fechar o ano, o réveillon, que inclui ainda alguns excessos no consumo de álcool. Por isso, a ideia de fazer um detox como resolução para o novo ano parece cada vez mais razoável.
Assim, o desafio “Dry January” propõe que as pessoas se abstenham de consumir bebidas alcoólicas durante todo o mês de janeiro. A ideia é simples, e o objetivo, além de dar uma pausa no consumo de álcool, é incentivar uma reflexão sobre os hábitos de consumo. Ao mesmo tempo, pretende-se promover a saúde física e mental.
Onde tudo começou
O "Dry January" surgiu em 2013, quando a organização britânica Alcohol Change UK criou a campanha para incentivar as pessoas a fazerem uma pausa no consumo de álcool após os excessos típicos do final do ano.
O movimento teve origem a partir da experiência de Emily Robinson, que, em janeiro de 2011, decidiu interromper o consumo de álcool para se preparar para uma meia-maratona. Durante este período, ela notou uma série de benefícios na sua saúde e bem-estar, como mais disposição, melhor qualidade de sono e uma sensação geral de rejuvenescimento. Motivada por estas melhorias, Emily fundou a campanha "Dry January", com o apoio da Alcohol Change UK.
O objetivo do desafio
O principal objetivo do "Dry January" é promover uma reflexão sobre os hábitos de consumo de álcool e incentivar uma pausa consciente. Apesar de o movimento ter começado como uma iniciativa temporária, a verdade é que tem vindo a conquistar popularidade ao longo dos anos.
De acordo com a Alcohol Change UK, participar neste desafio pode trazer uma série de benefícios para a saúde física e emocional, como:
- Melhoria na qualidade do sono: A abstinência de álcool ajuda a regular os padrões de sono, proporcionando uma noite de descanso mais profunda e reparadora.
- Aumento de energia: Muitos participantes relatam sentir-se com mais energia e disposição, uma vez que o álcool é conhecido por reduzir os níveis de energia.
- Perda de peso: O álcool contém muitas calorias vazias, e ao eliminá-lo da dieta, muitas pessoas acabam por perder peso de forma natural.
- Economia financeira: A interrupção do consumo de bebidas alcoólicas resulta numa economia significativa, especialmente para aqueles que bebem com regularidade.
- Redução dos riscos de doenças: O consumo excessivo de álcool está associado a vários problemas de saúde, como doenças cardíacas, hepáticas e até alguns tipos de cancro. Ao fazer uma pausa, a longo prazo, há uma diminuição desses riscos.
Como fazer parte do “Dry January”
Participar no “Dry January” não é difícil, mas exige esforço, dedicação e algum planeamento. Para isso, algumas sugestões incluem:
- Defina metas claras: O primeiro passo para um janeiro sem álcool é perceber o que se espera alcançar. Seja melhorar a saúde, economizar dinheiro ou sentir-se melhor, ter objetivos claros ajuda a manter a motivação.
- Utilize ferramentas de apoio: Existem diversas aplicações e recursos online, como a "Try Dry", que ajudam a monitorizar o progresso do desafio e oferecem dicas para enfrentar a abstinência.
- Explore alternativas não alcoólicas: Durante o mês de janeiro, pode ser difícil resistir às tentações sociais. Uma boa estratégia é encontrar alternativas, como bebidas não alcoólicas ou mocktails, para substituir o álcool sem perder o prazer de socializar.
- Partilhe a sua experiência: Falar sobre o desafio com amigos ou familiares cria uma rede de apoio e responsabilidade. Muitas pessoas aderem ao “Dry January” em grupo, o que aumenta a motivação.
- Reflexão pós-desafio: No final do mês, é importante refletir sobre a experiência. Quais as mudanças mais notadas na nossa saúde? Como foi a convivência social sem álcool? Muitas vezes, as descobertas feitas durante o mês de pausa podem levar a mudanças permanentes no comportamento.
Benefícios a longo prazo
Participar no “Dry January” oferece uma oportunidade não apenas para melhorar a saúde, mas também para avaliar a nossa relação com o álcool. Ao reduzir o consumo, muitas pessoas tornam-se mais conscientes dos impactos do álcool nas suas vidas, o que pode resultar num padrão de consumo mais saudável ao longo do ano.
O estudo publicado pela Universidade de Sussex, em 2018, em colaboração com a Alcohol Change UK, demonstra que quem adere ao “Dry January” frequentemente nota benefícios mais duradouros, como a redução do consumo de álcool nos meses seguintes e uma melhoria geral na qualidade de vida. Além disso, o simples ato de fazer uma pausa e refletir sobre o consumo de álcool pode ser o primeiro passo para adotar hábitos mais equilibrados e saudáveis.
O “Dry January” parece ser mais do que uma moda passageira. O desafio representa uma oportunidade para repensar hábitos de consumo e promover mudanças na saúde. Embora tenha começado como uma pausa após as festas de fim de ano, os benefícios de um mês sem álcool podem perdurar muito além de janeiro. Para quem procura melhorar a saúde física e mental, o “Dry January” é uma oportunidade para dar início a um novo estilo de vida, mais saudável e consciente.
O consumo de bebidas em Portugal
De acordo com um estudo divulgado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), Portugal apresenta um dos consumos de álcool mais elevados entre os países da OCDE. Em 2019, o consumo médio per capita foi de 12,1 litros de álcool puro por ano, superior à média da OCDE, que ronda os 10 litros.
Além disso, a prevalência da dependência de álcool aumentou de 3% em 2012 para 4,2% em 2022, segundo a Sociedade Portuguesa de Alcoologia.
Por outro lado, o consumo de bebidas sem álcool reflete uma tendência global de procura por opções mais saudáveis e conscientes, à qual Portugal não está alheio.
Por exemplo, além do aumento do número de cervejas sem álcool no mercado português, a Heineken lançou, em 2023, a primeira cerveja de pressão sem álcool no país, destacando-se no mercado nacional.
Também o mercado de vinho sem álcool está a crescer globalmente. De acordo com um estudo da Fact.MR de 2020, estimava-se que este produto ia ter uma taxa de crescimento anual de 7% entre 2019 e 2027, impulsionado por uma maior consciencialização sobre saúde e bem-estar.
Em Portugal, a José Maria da Fonseca é, por enquanto, o único produtor nacional a apostar numa referência sem álcool, mas a recente inauguração da primeira loja física de vinhos não alcoólicos no país, a The Other Bottle, promete aumentar a oferta deste produto no mercado.
Embora o consumo de bebidas sem álcool em Portugal ainda seja inferior à média de alguns países europeus, há uma tendência crescente e uma maior disponibilidade de produtos no mercado.
Comentários