As doenças crónicas não transmissíveis (NCDs) (doença cardiovascular, cancro, doenças respiratórias crónicas, patologias neurológicas ou diabetes tipo 2 são das principais causas de morte em todo o mundo. Atualmente, as NCDs são tratadas farmacologicamente, com a potencial adição de efeitos secundários e um aumento progressivo dos doentes, principalmente idosos, afetados por múltiplas condições crónicas. O custo socioeconómico acabará por deixar de ser sustentável, tornando a prevenção e o controlo destas patologias uma necessidade crucial. Assim, o tratamento e a prevenção destas patologias constituem um desafio crucial para a saúde pública.
As principais doenças não transmissíveis partilham quatro fatores de risco comportamentais modificáveis: dieta pouco saudável, inatividade física, uso do tabaco e excesso de consumo de álcool. Por conseguinte, a adoção de estilos de vida saudáveis, que incluam não apenas a redução do consumo excessivo de álcool, a cessação tabágica, e uma alimentação saudável, como também uma atividade física regular, representa uma estratégia crucial e económica para contrariar os encargos globais das NCDs.
A AF surge como componentes-chave de uma medicina de estilo de vida, que melhora a saúde mental e a qualidade de vida, e contribui para a prevenção ou tratamento de várias doenças crónicas, como excesso de peso e obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes e vários tipos de cancro.
Em 2020, sob o lema de “Every move counts”, a Organização Mundial de Saúde atualizou as suas recomendações para a AF de crianças e adolescentes, adultos e idosos. De uma forma geral, preconizam que as crianças e adolescentes realizem pelo menos 60 minutos de AF vigorosa e qualquer adulto ou idoso realize 150 a 300 minutos de AF moderada, 75 a 150 minutos de AF vigorosa ou uma combinação de ambos.
Embora os benefícios da AF na prevenção e tratamento das NCDs, e as recomendações para a AF se encontrem bem estabelecidas, a população em todo o mundo parece resistir a participar em atividade física Em Portugal, um inquérito revelou que apenas cerca de 50% dos portugueses estão ativos. Dados da AF medidos objetivamente indicam que 74% dos adultos portugueses não cumprem as recomendações de AF da Organização Mundial de Saúde.
Parece então que, para aproximadamente metade da população portuguesa acima dos 15 anos, a antecipação de um benefício para a saúde pode não ser suficiente para levar à adesão. Num artigo que sucedeu à publicação das recomendações de AF, um conjunto de cientistas que estudam modificação comportamental, sugerem a necessidade de reformulação da mensagem de promoção da AF, permitindo a sua flexibilização. A própria Organização Mundial de Saúde sugere mesmo que qualquer movimento já conta, pelo que, seja na prevenção da saúde, na gestão do peso ou de alguma doença, encontrar a atividade (modo, intensidade, duração) que melhor se adequa às suas preferências, objetivos e necessidades é mais importante que encontrar a melhor atividade física de acordo com a opinião de outros especialistas.
Um artigo de Hugo V. Pereira, Professor Auxiliar da Universidade Lusófona.
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