Conheça algumas das especialidades saídas das cozinhas conventuais portuguesas. A maior parte das receitas são criações de frades e freiras a partir das enormes quantidades de açúcar e ovos que chegavam aos conventos, juntando-se geralmente a amêndoa ou outros frutos. Por vezes, as receitas tinham origem nas famílias aristocráticas de onde provinham os segundos filhos sem herança, quase todos destinados a uma vida de clausura. Outras foram reproduzidas e adaptadas cá fora por antigos trabalhadores dos conventos, tornando-se típicas de determinada região.
Alfitetes: Especialidade do Convento de Santa Clara de Évora. Pequena forma de folheta, onde vai ao forno uma espécie de pastéis. O doce conserva-se num pratinho de barro vidrado com bordo alto.
Alforges de rebuçados: Saco adornado em forma de aljava, às vezes fechando na parte superior, em bolsa de seda lavrada, por meio de cordões.
Alfélua: Pasta de melaço em ponto forte, de maneira que fica alva depois de manipulada, reduzindo-se ao feitio de umas varetas torcidas.
Alfenim: Massa de açúcar que levava ao ponto em que se torna branca e com a qual se formam diferentes figuras.
Aletria: Doce de aletria cozida em água e açúcar e distribuída em travessas ou pequenos pratos, ornamentados com desenhos feitos com canela.
Almendrados: Doce de amêndoas e farinha de trigo envoltos em hóstia.
Amarelos: Doces de ovos, especialidade de Viseu.
Arroz doce: Doce de arroz, leite, açúcar e, por vezes, gemas de ovos, proveniente do Norte de Portugal.
Arrufadas: Pão doce, especialidade de Coimbra.
Barrigas de Freira: Doce feito de bolacha, açúcar e ovos.
Beijos de Freira: Especialidade do Convento de Santa Clara de Vila do Conde.
Beilhosas: Bolo de bolina ou abóbora.
Biscoita: Biscoito do Algarve.
Biscoito de limão: Especialidade de Valongo com a forma de S.
Biscoito de milho: Especialidade de Valongo com a forma de pequenos charutos.
Biscoito de Teixeira: Doce de romaria oriundo da região do Porto. Com acentuado sabor a limão, tem a forma de biscoitos vulgares, mas ligados uns aos outros formando pastas.
Biscoltelas: Especialidade de Vila Viçosa.
Bolinhol: Especialidade minhota. Espécie de pão-de-ló coberto de açúcar, quase sempre rectangular.
Bolinhos de amor: Especialidade de Penafiel.
Bolos de gema: Bolos feitos com massa de pão-de-ló cobertos de açúcar, vulgares nas romarias do Norte de Portugal.
Bolo real: Especialidade de Évora.
Bolo de D. Rodrigo: Especialidade de Tomar.
Bolo de Mel: Especialidade da Madeira.
Bolo Podre: Pão doce com muitas especiarias.
Bolo de São Gonçalo: Especialidade de Amarante.
Boroas de brancas: Especialidade de Vila Viçosa.
Boroas de milho: Especialidade de Lisboa. Presente que os padrinhos davam aos afilhados pela Páscoa.
Cãezinhos: Doce de romaria, feito de farinha, coberto de banha e açúcar. Especialidade de São João de Ovir.
Caladinhos: Especialidade de Vila da Feira.
Canudo de ovos: Especialidade de Viseu, com fabrico na Confeitaria de Maria Adelaide Santa Rita.
Capelos: Especialidade de Coimbra. Tem forma de capelo doutoral e recheado de vários doces de ovos e frutas. O doutorando costumava mandar fazer três capelos, sendo um em ponto grande destinado ao Reitor da Universidade e dois mais pequenos destinados aos oradores oficiais da cerimónia de doutoramento.
Caramujos: Doce de folhado grosseiro com configuração de búzio recheado de creme de ovos.
Casadinhos: Especialidade de Amarante.
Castanhas de ovos: Uma das formas mais vulgares de doces de ovos.
Cavacas: Biscoito leve e duro com banho de açúcar. Especialidade de Amarante e Resende.
Cavalinhos: Variante dos cãezinhos. Vendem-se nas romarias dos arredores da cidade do Porto.
Celestes: Especialidade de Viseu.
Chocolates de ovos: Especialidade de Viseu.
Conselheiro de ovos: Especialidade de Viseu.
Cordeiros de ovos: Especialidade do Convento de Santa Clara do Funchal, fabricados por altura do dia de São João.
Coscorões: Filhoses de farinha e ovos.
Corintos: Especialidade de Arouca.
Covilhetes: Massa com açúcar, ovos, manteiga e vinhos que se faz em bolinhos dispostos em camadas, sobre os quais se coloca galinha, carneiro, etc.
Cuscuz doces: Doce feito de grânulos de farinha.
Doce de buraco: Especialidade de Águeda, que consiste em pão doce com uma abertura no centro, semelhante ao pão-de-ló.
Doce de cama: Especialidade de Tomar.
Doce de chila: Especialidade do Porto, oriundo do antigo Recolhimento do Ferro, hoje Recolhimento de N.ª Sr.ª do Patrocínio.
Doce de limão: Especialidade de Penafiel.
Doce de ovos: Especialidade de Aveiro. Doce de ovos envolto em massa de açúcar com diversas configurações obtidas de forma.
Doce de raiz de encursioneira: Especialidade de Évora.
Esquecidos: Certa espécie de bolos.
Fartes: Bolo de açúcar e amêndoas envolto em farinha. Bolos que contêm creme.
Fatias da China: Especialidade de Tomar.
Filhoses: Colos de farinha e ovos, feitos em azeite e passados por calda de açúcar. Podem tomar a forma de hexagrama se forem feitos com o molde tradicional. Doce típico do Natal.
Flor de ginja: Doce de ovos, especialidade de Viseu.
Fofos: Especialidade de Vouzela.
Fogaças: Grande bolo. Antigamente dava-se este nome à oferta de comestíveis para baptizados ou casamentos. Especialidade de Vila da Feira, onde a Festa das Fogaças é em louvor de S. Sebastião; e de Pombal, onde se celebra a Festa da Fogaça no primeiro domingo de Agosto. Conta a história que no ano de 1362 houve uma peste em todo o concelho de Pombal, principalmente na vila de Abiúl, que dizimou parte da população. Um abastado lavrador prometeu fazer uma grande festa para que o mal cessasse. Na vila existia um grande forno que se acendia sexta-feira e ardia até domingo, no que se empregava 13 carradas de lenha e se metia uma fogaça de 12 alqueires de trigo. Uma pessoa devidamente confessada e sacramentada ia meter o bolo dentro do forno.
Foguetes: Especialidade de Amarante.
Galhofas: Especialidade de Amarante.
Geleia: Extracto mucilaginoso (espécie de líquido viscoso que se encontra em quase todos os vegetais) de substância animal ou vegetal, que pelo resfriamento adquire consistência branda e trémula.
Jesuítas: Doce folhado com forma aproximada do chapéu dos padres jesuítas.
Ladrilhos: Nome dado aos quartos de marmelada no Norte de Portugal.
Lambaretes: Doce feito de massa de pão-de-ló, à venda em tiras de papel.
Lâminas: Especialidade de Pinhel.
Lampreia de ovos: Especialidade de Coimbra. Vendem-se em caixas de diversos tamanhos adornados com papel de cor.
Laranjas doces: Especialidade de Barcelos. Algumas são recheadas com doce de chila.
Leitõezinhos: Especialidade de Évora.
Leite crespo: Especialidade monástica.
Lérias: Especialidade de Amarante.
Maçarocas: Especialidade dos Açores. Doce com a configuração das espigas do milho.
Malassadas: Certa qualidade de doce usado na Madeira, pelo Carnaval.
Manjar Branco: Ou manjares de Santa Clara, especialidade do Convento de Santa Clara do Porto. Doce com a forma de pequenos cones, tendo o vértice torrado no forno. Eram vendidos à tarde pela cidade em tabuleiros cobertos com toalhas.
Manjar imperial: Doce de travessa à base de farinha de arroz, leite, açúcar e ovos.
Manteigueiras: Especialidade de Vila Viçosa.
Marmelada: Doce de marmelo cozido e passado por peneira de seda misturado com calda de açúcar.
Massapão: Bolo de amêndoa com farinha, ovos e açúcar.
Meias-luas: Especialidade do Convento de Santa Clara de Vila do Conde. Semelhante aos antigos pastéis de Coimbra que se vendiam na cidade do Porto.
Melindes: O mesmo que bolo de gema.
Mexidos: Doce típico do Natal nas regiões do Douro e Minho. É feito com pão cortado, mel e casca de limão.
Morcelas: Doce com a forma de um chouriço. Especialidade do Convento de Arouca.
Mulsa ou Mulso: O mesmo que água-mel.
Nougat: Doce feito de nozes, amêndoas ou pinhões, misturado com mel.
Ovos moles: Especialidade de Aveiro.
Ouriço: Doce de ovos, especialidade de Viseu.
Paciências: Doce seco do tamanho de uma moeda.
Pão-de-ló: Especialidade de Margaride (Felgueiras).
Pão Celeste: Especialidade de Ovar.
Papos de Anjo: Antiga especialidade de doce.
Pastéis de Coimbra: Especialidade do Convento de Santa Clara. São pastéis folhados com a forma de crescente. Vendiam-se antigamente pelas ruas da cidade do Porto, ao domingo à tarde, dentro de pequenos tabuleiros cobertos com uma toalha ou então, mais vulgarmente, dentro de um pequenino baú de folha.
Pastéis de nata: Massa de farinha em forma de pequena tigela contendo creme. São cozidos no forno.
Pastéis de feijão: Especialidade de Torres Vedras feita à base de feijão branco.
Pastéis de Santa Clara: Pastéis folhados com creme de ovo. Especialidade do Convento de Santa Clara do Porto.
Pastéis de Tentúgal: Especialidade de um convento de freiras que existiu nesta vila.
Passarinhas: Doce de romaria grosseiro, feito de farinha de trigo e com banho de açúcar.
Pencas: Especialidade de Coimbra, tem a forma de pirâmide e a massa é a do manjar branco.
Pingo da Tocha: Especialidade de Coimbra, doce de ovos.
Pinhoadas: Especialidade de Alcácer do Sal, de origem moura. Pinhões e mel estendidos sobre papel formando pastas.
Pitas: Variante de passarinhas.
Príncipes: Modalidade de doce de ovos, especialidade de Viseu.
Queijadas: Pastel baixo e cilíndrico, feito de leite, ovos, queijo, açúcar e massa de trigo. Especialidade de Sintra.
Queijo do céu: Especialidade de Coimbra, à base de doce de ovos.
Rabanadas: Fatia de pão de trigo que, depois de se embeber em leite e ovos, se frita em azeite. Serve-se com molho de açúcar ou mel. Especialidade do Natal.
Raivas: Doce seco em forma de S.
Sequilho: Bolo seco e simples.
Sonhos: Bolos de farinha e ovos, fritos em azeite e manteiga e passados por calda de açúcar.
Sopapos: Especialidade de Torres Novas.
Suspiros: Especialidade do Convento de Odivelas.
Saudades de Lisboa: Nome que antigamente se davam no Porto às boroas de milho.
Talhada de príncipe: Massa de arrufada ou de pão-de-ló com ovos, especialidade de Coimbra.
Tigelada: Doce especial contido em tigela.
Torrão Branco: Especialidade alentejana.
Tortas: Espécie de pastelão de massa de farinha de trigo e picado de carne, polvilhado com açúcar. Especialidade de Braga.
Velhotes: Espécie de pão doce vulgar nas romarias dos arredores do Porto.
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