Ao contrário da maioria dos chefs, o cozinheiro Vítor Sobral, um adepto da cozinha regional e da gastronomia tradicional portuguesa, não ambiciona conquistar uma estrela Michelin. "Na minha opinião, quem não fizer uma cozinha um pouco internacional, tanto a nível da apresentação como a nível dos sabores, dificilmente conseguirá conquistar uma", afirmou o também empresário e consultor em entrevista exclusiva ao Modern Life/SAPO Lifestyle.
Henrique Sá Pessoa, Rui Paula, Rui Silvestre e José Avillez são, na sua opinião, das poucas exceções que o conseguiram. "O último menu dele [José Avillez] que comi no [restaurante] Belcanto tinha uma matriz bem portuguesa mas, na verdade, o guia da Michelin não olha para a cozinha portuguesa da maneira que eu acho que deveria olhar. Mas eu também acho que eles [os avaliadores] não olham porque eles não sabem, não conhecem", critica Vítor Sobral.
"Eles não sabem que Portugal é o país da Europa onde se come mais arroz nem têm ideia de que somos o maior produtor de queijo de ovelha, por exemplo", condena. "Não sabem que Portugal tem a diversidade que tem de peixes, de pão, de carnes, de vinho, de azeite… O que é que temos de produtos ruins em Portugal? Eu arrisco-me a dizer que não existem. Mas eles não sabem isso. Não conhecem!", lamenta Vítor Sobral, dando, na entrevista, outro exemplo revelador. "O Bib Gourmand [distinção atribuída a restaurantes menos experimentalistas] distingue a relação preço/qualidade. Na última vez que vi, Portugal tinha 25 ou 30. Espanha tinha uns 300!", sublinha.
"Há, na Europa, algum sítio que tenha uma melhor relação preço/qualidade para comer do que Portugal? Eu não conheço!", sublinha Vítor Sobral. "Pode ser que, um dia, os franceses resolvam olhar para a nossa gastronomia de outra maneira e conhecer um bocadinho melhor Portugal. E, talvez, as coisas aí mudem", afirma o chef, que acaba de abrir uma Padaria da Esquina no Restelo e de lançar um novo livro, "Com os azeites", com a editora Casa das Letras.
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