Num coração de Lisboa que bate frenético, com as suas hordas de turistas, tuk-tuks de corrida ligeira, elétricos de chiar estridente, trânsito em perpétuo afã, comércio e restaurantes fervilhantes, ainda há margem para dar nas vistas e irromper do anonimato. Assim aconteceu na volta de apresentação de uma iniciativa que promete agitar por algumas horas a vida daqueles que se virem eleitos para os “MED Transfer”, a 17, 18, 24 e 25 de outubro.
Expliquemos, partindo do exemplo presente, com este repórter a embarcar, num veículo com aura mítica. A velhinha “pão de forma”, como carinhosamente ficaram conhecidas as carrinhas da Volkswagen que se tornaram símbolo de liberdade e vida ao ar livre a partir dos anos 60 do século passado. Aqui, longe dos horizontes largos das praias e montanhas, seguimos nas curvas e subidas da capital. Vamos à carona da preciosidade em formato quatro rodas nascida em 1968, restaurada e, agora, decorada, para durante este mês dez do calendário, anunciar que corre por Lisboa com roteiro traçado e a pretexto de uma iniciativa inédita.
Na carroçaria azul clara desta van, lemos “Med Transfers by Gin Mare”. Ou seja, nas próximas duas horas o destino gustativo está traçado. Três paragens, em outros tantos espaços de referência na cozinha e petiscos lisboetas: Tapisco, Boa Bao e Topo Chiado. Uma nota importante: há um conceito transversal a este trio. Em todos os espaços há um cocktail de autor para provar. Isto demonstrando que não é apenas o vinho ou a cerveja a emparelharem bem com aquilo que vai ao prato. E na química de todos estes cocktails está uma base de Gin Mare, bebida que no berço e na assinatura é marcadamente mediterrânica. Zimbro, casca de laranja amarga, casca de laranja de Sevilha, cardamomo, azeitona Arbequina, manjericão e tomilho estão-lhe entre os ingredientes. Uma bebida com o estatuto de descontraída, informal e de partilha.
É difícil não dar nas vistas quando se cruza o apinhado Príncipe Real precedido pelo ronco feroz desta nossa “pão de forma”. Cinquenta anos e ainda a bom ritmo. Aguarda-nos o primeiro destino. Uma rápida paragem para largar os passageiros à porta da casa de petiscos, o Tapisco, que o estrelado Michelin, Henrique Sá Pessoa, abriu no coração de Lisboa. O que aqui fazemos, nesta primeira etapa, no balcão em pedra corrido, é antecipar aquilo que acontecera aos quatro grupos de eleitos para estes “Med Transfers”. A ideia nasceu em Portugal e estreia-se agora com a expetativa de ser transposta para outros países.
Os aspirantes à experiência restrita que se repete a 17, 18, 24 e 25 de outubro, terão de fazer no site da “Med Transfers by Gin Mare”, a sua inscrição e a de quatro colegas de trabalho, selecionando uma das datas propostas. Isto até 24 de outubro, véspera da última volta gourmet por Lisboa. Uma vez inscritos, todos os candidatos à experiência ficam numa lista de espera. Desta serão selecionados os vencedores, assim como os suplentes, no caso de haver desistências. Os nomes dos selecionados vão ser publicados no mesmo site e na página de Facebook da Gin Mare, com uma semana de antecedência. O vencedor terá 24 horas para confirmar a sua presença, bem como dos colegas de trabalho eleitos por si.
No dia em questão, os participantes nesta corrida “louca” por Lisboa verão a carrinha estacionar às 19h45 à porta do trabalho. Depois, até às 22h00, altura em que serão devolvidos ao ponto de origem, terão de estar preparados para os olhares curiosos, as fotografias de quem quer ter no álbum de imagens a lendária Van, e conviver em ambientes descontraídos com os colegas de trabalho (não vale levar para a noite as conversas do escritório).
A abrir, tal como é dado a provar ao SAPO Lifestyle, um Pão com Tomate e Presunto. Pãozinho torrado quanto baste, um tomate chucha reduzido a pedacinhos, com pouca acidez e, a culminar este acorde de ingredientes, um presunto ibérico com cura de seis meses. Bem laminado e de sabor integrado nos restantes produtos. O chefe Henrique Sá Pessoa a dar mostras neste “Tapisco” de que a boa cozinha também se faz com simplicidade. A emparelhar, a estrela desta noite, o Gin Mare. Aqui no cocktail “Monarca” e em matrimónio dentro do copo com Creme Cassis, Vermute, Yzaguirre Rojo, clara de ovo, laranja desidratada e manjericão.
Momento segundo e uma breve descida motorizada, alguns solavancos e voltas apertadas, até ao Largo Rafael Bordalo Pinheiro, mais exatamente ao restaurante Boa Bao. Espaço gerido por um Holandês, uma Norte Americana e com chefe Belga. A cozinha? Asiática de feição e sem preconceito ao juntar na mesma mesa os sabores da Tailândia, Vietname, Laos, Camboja, Malásia, Coreia do Sul, China ou Japão. Os participantes nestes “Med Transfers by Gin Mare” podem contar com duas sugestões (terão de escolher uma delas). Um Bao (pãozinho cozido ao vapor) clássico barriga de porco, bem tenra, hoisin (molho condimentado) e picle de vegetais. Um Bao de Pato à Pequim com hoisin, pepino e cebolinho. Primeira opção a emparelhar com um cocktail “Maré Alta” (Gin Mare, pandan – a folha de uma planta asiática, laranja e lima. A segunda opção, a casar com o cocktail “Maré Alta” (Sour, Gin Mare com azeite e lemongrass).
Momento três e uma breve incursão no nosso “pão de forma” até ao Largo do Carmo. Dai, frente a uma Lisboa de colinas tingidas de luz noturna, uma rápida caminhada até ao Topo Chiado (Terraços do Carmo). Aqui a capital abre-se ao Tejo, ao castelo e à miríade de portas, janelas, telhados, fachadas que fazem esta velha Lisboa. A equipa que gere este Topo Chiado é a mesma que deu fama ao restaurante TOPO, no Centro Comercial Martim Moniz. Nesta noite de outubro com sabor a estio, a última paragem do “Med Transfers by Gin Mare”, reserva-nos um “Picado de Atum”, o mesmo é dizer um tártaro do dito peixe, com manga, cebolinho, azeitona desidratada e uma redução de soja. Ótimo para acompanhar com as tostinhas que nos chegam à mesa. Um elenco que fica completo com o derradeiro cocktail da noite, o “All Green”, ou seja, Gin Mare, com sumo natural de pepino, meloa e manjericão, sumo de limão, goma de alecrim, azeitona verde desidratada. Uma bebida gulosa e apaziguadora, depois de dois cocktails mais intensos.
Regresso à base, ao Marquês de Pombal. Lisboa desfila ainda agitada mesmo depois das 22h00. Um serão a três tempos cosmopolita, encenado pela bebida que descende daquela outra engendrada por monges no século XIX, numa pequena vila espanhola, à beira do Mediterrâneo. Uma bebida, muito mais tarde, redescoberta. Em 2010 nasce o Gin Mare depois de três anos de pesquisa. A primeira fase foi escolher, e provar mais de uma centena de botânicas, em seguida, definir as proporções da mistura. Um gin presente em 65 países.
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