A paixão pela gastronomia quase a levou a entrar para academia americana de culinária. Mas, na altura, o sonho de criança, a carreira diplomática, falou mais alto. No entanto, por pouco tempo. Nascida e criada em São Francisco, nos EUA, quando foi viver para Copenhaga, na Dinamarca, Tiffany Ng sentiu falta da variedade alimentar da cidade californiana e criou o Silver.Spoon, uma empresa de estratégias de marca com experiências focadas na gastronomia. Os jantares de guerrilha que promove são a faceta mais visível do seu projeto e foi com eles que conquistou os portugueses, levando-os a jantar numa estação de metro, a fazer uma caça ao tesouro num forte ou a recriar uma série de vícios à mesa. Esteve cá no mês de abril para associar a gastronomia à arte e promete voltar depois do verão para mais outras experiências surpreendentes.

Porque é que decidiu criar o Silver.Spoon?

Quando me mudei para Copenhaga, a variedade da cozinha era extremamente limitada (e ainda o é) e muito cara, por isso pensei em criar algo que pudesse entreter e tivesse a diversidade gastronómica com a qual cresci em São Francisco. Apesar de ter começado como um hóbi em 2012, quando terminei o primeiro mestrado, decidi dedicar mais tempo a este projeto para ver se poderia ser um negócio.

Os jantares de guerrilha que promove são a face mais visível do Silver.Spoon. Podemos dizer que vão muito além de um simples jantar temático?

É a mais reconhecida, porque é uma atividade que geralmente partilhamos com o público. Mais do que uma solução para um cliente é um conceito nosso e, dependendo do tema escolhido, pode envolver produção musical, arte e cenografia, entre outras coisas. Os últimos, intitulados «Exhibit X», foram uma fusão entre arte e gastronomia.

Como é que se transforma uma refeição numa experiência gastronómica sensorial?

Temos muitos fatores em consideração e o processo criativo pode levar semanas ou mesmo meses a ser desenvolvido.  A comida é importante, claro, mas é o pacote inteiro que torna os jantares guerrilha memoráveis.

O que escolhe primeiro? O tema, o local ou o menu?

Começamos por um tema abrangente, que é discutido em várias sessões criativas. Depois, o tema final é baseado em fatores, como a sazonalidade dos ingredientes, locais onde poderemos realizar o jantar, período do ano, e em que parte do mundo o vamos fazer. É um processo muito interativo e os retoques finais podem acontecer na véspera do evento.

O storytelling é importante para o seu trabalho?

Muito. O Silver.Spoon é, em si próprio, um storytelling mais do que uma empresa de gastronomia ou eventos. Nós existimos para contar diversas histórias através da comida.

Quais foram os locais mais especiais onde já fez um jantar de guerrilha?

É difícil escolher, porque todos os locais onde estivemos têm o seu charme. No entanto, o mais impressionante foi o Forte do Beliche, em Sagres, que teve como tema «Caça ao Tesouro». Os mais incomuns foram um bunker de guerra num bairro residencial e uma antiga e desconhecida abadia, em Copenhaga.

Veja na página seguinte: O que fazer para experimentar um jantar de guerrilha

Os chefs trabalham com ingredientes locais?

Sim. Por exemplo, quando os chefs não são do país onde vamos realizar o jantar, fazem o menu, mas são as nossas equipas locais que fazem os ajustamentos necessários de acordo com a sazonalidade e disponibilidade dos produtos nacionais.

Qual é o público-alvo dos seus jantares de guerrilha?

Os nossos membros vêm de várias áreas e desempenham várias funções, o que torna as conversas à mesa muito interessantes.

Qual é a sua opinião sobre os vossos membros portugueses?

Portugal tem uma das culturas mais abertas a aceitar estas experiências, o que tem feito com que queiramos passar mais tempo neste maravilhoso país, criando conceitos e projetos.

E o que quer fazer no futuro com o Silver.Spoon?

Por agora estamos focados no mundo da alimentação, mas também estou a explorar as possibilidades de fazer algo na área da tecnologia. O Silver.Spoon tornou-se uma ferramenta num largo conjunto de soluções que eu e os meus parceiros oferecemos aos nossos clientes.

O que fazer para experimentar um jantar de guerrilha

Os eventos realizados pelo Silver.Spoon são pouco divulgados e fazer parte deles é integrar uma espécie de sociedade secreta. Até à hora marcada pouco se sabe sobre o que vai acontecer e a surpresa começa logo aí. Tiffany aconselha os interessados a seguirem-nos no Facebook, Twitter (@SilverSpoonCPH) ou Instagram (@Silver.Spoon_ HQ). No site Silverspooncph.com pode inscrever-se na newsletter e preencher o formulário para participar no jantar. «Para cada jantar, selecionamos apenas alguns candidatos que se juntarão aos nossos membros. Por isso, se não respondermos é sinal que não temos lugares.  O que geralmente acontece é que seis meses ou um ano depois convidamos essas pessoas para outro jantar», esclarece a CEO do Silver.Spoon. Os preços rondam os 80 € por pessoa.

Texto: Rita Caetano