A Sara é terapeuta de Medicina Tradicional Chinesa e de Naturopatia. Quer falar-nos um pouco destas duas terapias?

Sim. Nos dois casos estamos a falar de terapias consideradas não convencionais. Uma, como o próprio nome o indica, tem origem na China, há milhares de anos. A generalidade das pessoas está familiarizada, ou já ouviu falar, da acupuntura, ligada à Medicina Tradicional Chinesa. A Naturopatia tem um pendor mais europeu e recorre a terapias com as plantas medicinais, com a alimentação e suplementos naturais.

Esta sua prática clínica é muito importante nas abordagens que a Sara faz à alteração, ajustamento das dietas alimentares, certo?

As duas utilizam a alimentação como método terapêutico. A Medicina Tradicional Chinesa, numa abordagem com alimentos menos utilizados ou conhecidos no Ocidente. Isto, claro, relacionado com a origem geográfica desta terapêutica. A Naturopatia está mais próxima do regime alimentar europeu. De qualquer forma, a mensagem que as duas terapias passam é a de que o ser humano não pode descurar o que come. Isto no sentido de manter uma boa saúde. Nesse sentido, sim, são muito importantes nas minhas abordagens clínicas.

Barrinhas de alperce (rende 12):
Barrinhas de alperce.

Na sua prática clínica a Sara contacta com muitas pessoas que querem alterar hábitos alimentares, sem contudo saber como o fazer. Por onde começa?

Começo por perceber qual é o problema maior da pessoa. Isto porque cada ser humano é específico e traz uma história própria. Feito esse primeiro enquadramento, tento perceber o que está a provocar os sintomas que o paciente acusa. Analiso o que a pessoa come, o estilo de vida que leva. Em consequência, sugiro alterações alimentares. Não é fácil mudar. Há muita renitência nas pessoas em ultrapassar hábitos instalados; por vezes colocam pequenos obstáculos.

A Medicina Tradicional Chinesa, numa abordagem com alimentos menos utilizados ou conhecidos no Ocidente. Isto, claro, relacionado com a origem geográfica desta terapêutica. A Naturopatia está mais próxima do regime alimentar europeu

Presumo que muitos pacientes surjam com problemas decorrentes de excessos alimentares?

Sim. Repare, é difícil hoje em dia, por exemplo, comer fora de casa, nos centros comerciais. Não encontramos apenas excesso de gordura e açúcares no prato mas também doses abundantes. No passado comia-se um pouco de carne e juntava-se legumes, leguminosas. Isto numa sociedade onde as pessoas tinham uma vida muito menos sedentária a nível laboral. Atualmente passa-se o oposto. Temos o prato com um bife enorme, um pouco de arroz branco, que não tem fibra. É claro que uma alimentação insistindo neste registo terá consequências para a saúde.

Quadrados de millet tufado (rende 12):
Quadrados de millet tufado créditos: Livro "Nem Acredito que é Saudável"

A experiência que nos reporta, o contacto com os pacientes, acabaram por ser importantes no livro que publicou, “Nem acredito que é saudável”. O que vamos encontrar nesta obra?

A maior parte das receitas é da minha autoria, embora, claro, beba muita informação em diferentes fontes. Também as adapto à finalidade que decorre do que expliquei anteriormente. Há aqui muito trabalho de bastidores. Procuro as alternativas com menos ingredientes processados, penso nas intolerâncias alimentares, nas pessoas que comem alimentos com origem animal, os que não os comem. Depois procuro não fazer a típica receita excessivamente saudável e ser apelativa visualmente.

Ou seja, saudável quanto baste?

Isto porque sei que a maioria das pessoas não vai comer se lhes for apresentado algo com enfoque apenas no saudável. Ou seja, quem está habituado a comer saudável, irá fazê-lo de qualquer forma. O que procuro é chegar às pessoas que estão menos habituadas a uma dieta equilibrada.

O que a Sara nos diz é que podemos comer doces sem sentimento de culpa. Mas também aqui há regras, certo?

Até na ingestão da fruta temos de ter regras. Não é pelos biscoitos serem saudáveis que vamos comer o conteúdo de um pacote inteiro. É tudo uma questão de bom senso. Tanto nos doces como na restante alimentação.

Os doces quase sem pecados de Sara Oliveira

Quando concebeu este livro teve também em mente a alimentação infantil?

Muitas das minhas receitas no blogue e no livro são no sentido de educar os pais a cativarem as crianças para sabores alternativos. Se desde cedo a criança for educada em termos alimentares, quando chegar a adulto estará preocupado no que respeita à sua dieta. Como sabemos, o gosto também se educa. É claro que as crianças estão expostas a muitos ambientes, na escola, nas festas de aniversário, por exemplo. Sabendo que não podemos controlar todas as variáveis, podemos pelo menos antecipar cenários. Se a criança não for educada para o doce, provavelmente na festa come uma ou duas gomas e está satisfeita.

A Sara começou por criar um blogue com título homónimo do livro. O lema é “e se pudéssemos juntar o que faz bem com o que sabe bem”. Quer explicar?

Se as pessoas gostarem e se se sentirem atraídas por esta cozinha saudável, vão experimentar mais, pesquisar mais e mudar os hábitos alimentares. É isso que procuro passar nas consultas, no livro e também no meu blogue.

Procuro as alternativas com menos ingredientes processados, penso nas intolerâncias alimentares, nas pessoas que comem alimentos com origem animal, os que não os comem

O que é um dia perfeito em termos alimentares para si?

Gosto de um bom pequeno-almoço, sentada e, preferencialmente em casa. Incluo um pão integral, com farinhas sem glúten, fabricado por mim. Em alternativa, um iogurte com granola e fruta. A meio da manhã, umas barrinhas ou bolinhas energéticas, umas crackers. Ao almoço, nem sempre tenho muito tempo, mas não falta a sopa e a fruta. Quando há mais disponibilidade, levo para a clínica, preparado em casa, arroz integral ou milet ou quinoa, com legumes e acompanhado de uma proteína vegetal, o seitan ou o tofu. Não como fruta após o almoço. As pessoas pecam por comer demasiada fruta. Esta também tem açúcares. À tarde, faço dois lanches leves e o jantar é muito ligeiro, com uma sopa e alguma proteína.

Toca na questão da sopa. É um alimento muito importante.

Se comermos uma sopa ficamos saciados e nutridos. Ao caldo podemos acrescentar alguma proteína vegetal ou animal, por exemplo um pouco do frango que sobrou da refeição anterior, ou um pouco de tofu.

Quais são os alimentos imprescindíveis na cozinha da Sara?

O meu frigorífico está sempre muito verdinho e colorido com verduras [risos], tofu e seitan, iogurtes de soja e sem açúcar, as farinhas integrais, o arroz integral, o millet (cereal), a quinoa. Também sou um pouquinho gulosa e, como tal, não falta o xilitol, a stevia e a geleia de arroz (adoçantes naturais).

Nem acredito que é saudável