“Este ano foi um verão completamente atípico, com precipitações muito elevadas que decorreram ao longo de todo o verão e temperaturas amenas. Houve as condições ideais para o seu desenvolvimento”, afirmou à agência Lusa Maria Manuel Mesquita, da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN).
É na Denominação de Origem Protegida (DOP) da Padrela, que se estende pelos concelhos de Valpaços, Vila Pouca de Aguiar, Murça e Chaves, que se contabilizam mais estragos, mas a situação está generalizada às outras DOP da região, desde os soutos da Lapa à Terra Fria.
“Ainda não temos dados concretos para quantificar as perdas de produção, mas as estimativas apontam para, na região da Padrela, um prejuízo médio superior a 50%. Os prejuízos variam muito à medida que se sobe em altitude, que vão sendo maiores”, frisou.
O fungo atingiu a folha do castanheiro, que ficou de cor acastanhada e rebordo amarelo, originando a sua queda antecipada, e atacou também o pedúnculo do ouriço, provocando a sua queda precoce.
“Daí é que a castanha não se chega a formar e a ocorrência do prejuízo. Há uma queda precoce devido ao apodrecimento do pedúnculo do ouriço e não se chega a formar o fruto”, explicou a responsável.
Maria Manuel Mesquita referiu que o fungo atacou com maior severidade as zonas mais altas, frias e húmidas, e também castas como a judia, a variedade que predomina na Padrela e possui pouca resistência à septoriose.
A incidência da septoriose do castanheiro não tem tido grande relevância em anos anteriores.
Na Lagoa, aldeia de Vila Pouca de Aguiar, alguns produtores queixam-se de quebras na produção “acima dos 90% “ou até mesmo “totais”.
“A quebra vai ser total. Não vejo nada, nada. Já fui dar a volta aos soutos e não vejo nada”, afirmou Isaura Castanheira, de 58 anos.
Com uma produção de cerca de três mil quilos em 2013, que renderam seis mil euros, esta produtora teme agora os próximos tempos porque a “castanha era o que remediava durante o ano”.
“Esta é a principal fonte de rendimento. Porque a gente colhe batata, centeio e nada disso dá dinheiro”, referiu.
Luciano Sousa, 51 anos e residente em Vilarelho, também em Vila Pouca de Aguiar, descreve os seus castanheiros como estando “todos queimados”, o que provocou uma quebra na produção dos três mil quilos, na campanha anterior, para os 200 quilos.
“Chegar ao fim de um ano de trabalho e ver isto assim é triste. Uma pessoa andar todo o ano a trabalhar, todo o ano de roda deles para os cultivar como deve ser e chegar ao fim e não colher nada é complicado”, salientou.
Os produtores temem a esta situação possa afetar definitivamente os castanheiros.
Maria Manuel Mesquita referiu que as medidas de proteção fitossanitárias a adotar agora pelos produtores passam pela queima das folhas e ouriços, ou pela distribuição de ureia sobre as folhas, para assim interromper o ciclo do fungo e impedir que fique para o próximo ano.
“Se foram tomadas estas medidas e se não ocorrerem as condições climatéricas deste ano, não se perspetivam problemas para o próximo ano”, acrescentou.
Espalhados pela DOP da Padrela existem à volta de 5.500 hectares de souto, cuja produção média ronda os 800 quilos por hectare.
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