Na verdade, apesar de não ter um talento natural, comecei a gostar de cozinhar por duas razões. Primeiro, porque tinha fome. E não há melhor inspiração do que a necessidade. Se o apetite surge e a fome aperta, rapidamente as mãos e o cérebro trabalham em harmonia e sintonia para satisfazer as exigências do estômago.

O som para este momento

Posso dizer-vos que foram muito poucos os “tiros ao lado”. Desde que se respeitem os ingredientes e não se invente muito, cozinhar torna-se um processo bastante mais simples do que se esperava. O dia em que consegui estrelar um ovo na perfeição foi para mim uma vitória.

Mas claro, há uma segunda razão para ter começado a ficar mais atento às artes da cozinha: os programas de culinária na televisão. Tornei-me viciado! De repente, ver pessoas a cozinhar tornou-se mais entusiasmante do que seguir uma série policial ou de suspense! Técnicas, ingredientes, empratamento, todo um novo mundo até então desconhecido – até que dei por mim a tentar replicar algumas das coisas que ia vendo nesses programas.

Confesso que queimei alguns jantares, e noutros a apresentação era tudo menos apetecível. Mas depois percebi que não era preciso esforçar-me tanto. Eu nunca iria ser um chefe, e nem tinha essa pretensão. O meu objetivo era apenas alimentar-me, e alimentar-me bem, saborear refeições boas, simples e sentir-me satisfeito.

Mas claro, a minha fama de “esturricador de comida” perseguia-me. Um dia convidei um pequeno grupo de amigos para jantar lá em casa, e resolvi experimentar umas massas novas que descobri, com sabores exóticos e diferentes como caril, tinta de choco, picante, azeitona... Não podia encontrar melhor forma de preparar uma refeição saborosa e ao mesmo tempo requintada, com muito pouco trabalho.

Ia servir linguine com tinta de choco e frutos do mar, uma combinação estupenda. Preparei tudo na perfeição para fazer um brilharete. Por isso, podem imaginar a minha cara quando a Sandra, uma das minhas amigas convidadas, sentando-se à mesa, exclamou: “Oh, eu vi logo que ias queimar o jantar! Achas que vamos comer essa massa toda queimada?”

Não resisti. Desatei à gargalhada: “Ó Sandra, mas não vês que a massa é preta porque tem tinta de choco? Eu só queimo coisas no churrasco, aqui em casa, e com as massas, sou praticamente um chefe!”

Desfeito o equívoco, entre risadas atacámos a travessa. E posso dizer-vos que, mesmo não sendo eu um grande ás na cozinha, cumpri o meu objetivo. Comida simples, saborosa, e os amigos mais do que satisfeitos.

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