Manda a cartilha da boa nutrição que a primeira refeição do dia, vulgo pequeno-almoço, seja isso mesmo, uma versão em miniatura da mesa a meio do dia. Ou seja, um desjejum que não se fique pelo bolo e café matinal e que lhe acrescente variedade sem pisar o risco nutricional. Isto todos sabemos, embora não seja por demais repetir. E como uma boa digestão também decorre do entorno ambiente que lhe damos, quisemos experimentar a novidade, o pequeno-almoço, na irmã `caçula` do espaço gourmet Delidelux, em Lisboa. Ao fim de doze anos de atividade, a mercearia gourmet soltou amarras à beira Tejo e replicou o conceito uns poucos quilómetros a norte, na rua Alexandre Herculano, rente à cosmopolita Avenida da Liberdade.

Na nova Delidelux o Tejo não marulha mas sabe bem ver Lisboa a passar

Aqui onde o Tejo não marulha e as gaivotas não grasnam, a capital vive um outro ritmo, uns compassos acima, em jeito de corrida para os escritórios e transportes públicos. Talvez por isso saiba ainda melhor parar e deixar a Lisboa madrugadora passar pela esplanada que acomoda 12 comensais. A hora não é para brunchs, saladas, tártaros ou principais. A Delidelux, versão Alexandre Herculano, também os tem, mas ficam para mais tarde. Por agora vale mesmo o pequeno-almoço que chega à carta em três versões, o “Clássico” – 2,5 euros - (com os incontornáveis da manhã: sanduiche, croissant, Pão de Deus, fiambre, queijo) o “Delux” – 4,9 euros - (versão alternativa, com pão escuro com abacate e lima, requeijão e tomate) e o “Delight” ´4,5 euros -. No caso vertente optámos por este último, servido numa taça com iogurte grego com frutos vermelhos e granola. Tudo fresco como se pede e a granola diversa e com crocante. A acompanhar, um sumo natural, verde, premonitório de coisas boas, aqui em versão liquida: pepino, aipo, maçã, espinafres e salsa. Quem tenha preferência pelo encarnado (não, não se trata aqui de afeição clubística, é mesmo somente cromática), encontra o sumo de beterraba, cenoura, maçã e gengibre. Há mais dois néctares, com cores e ingredientes diversos. A alternativa nos bebíveis, em todos os pequenos-almoços, pode recair na meia de leite ou galão. A rematar um café, não fosse este pequeno-almoço um aconchego para a alma lusa.

Na nova Delidelux o Tejo não marulha mas sabe bem ver Lisboa a passar

E como o tempo é de parar e degustar, aproveitamos para saborear, embalados pelas colheradas de iogurte grego, o que esta nova casa, a funcionar desde janeiro de 2017, nos traz. O comparativo com a irmã mais velha é inevitável. Aqui vemos replicado o conceito de mercearia fina, com a presença de algumas das referências mais expressivas da loja à beira Tejo. Conservas, azeites, massas frescas, compotas, patês, chás e uma seleção de vinhos de fazer inveja a algumas garrafeiras. Não falta o expositor com os queijos e enchidos. Tudo arrumadinho e aconchegante num espaço com um ar clean, pé alto, mármores e azulejos quanto baste. O espaço é substancialmente menor por comparação com a Delidelux original, não obstante, aqui, no coração da cidade a Delidelux acomodar entre paredes 46 comensais. A casa faz bom uso de cada metro quadrado e aplica-os na função primeira, servir refeições a quem passa, aos que estão de visita e a quem mora nas proximidades.

À frente da cozinha está o chefe Luís Gaspar, mentor da carta de carnes que encontramos na Sala de Corte, outra casa discípula do Grupo Multifoods, ao qual pertence esta Delidelux. Uma carta com uma forte componente de saladas que conseguem, na maior parte das vezes, fugir a desnecessárias adições de proteína animal. Ainda nos principais, Luís Gaspar arrisca nos tártaros e ceviches com quatro opões em torno do salmão, do atum, do novilho. Realce para os pratos de resistência com uma oferta que inclui polvinhos estufados, magret de pato, caril de camarão e sapateira. Interessante para fugir à rotina instalada e acomodada em muitas cartas de casas do centro de Lisboa. Quem for menos dado a socialização em torno da mesa pode levar para o remanso do seu lar as propostas apresentadas na carta. Na área mercearia encontra, ainda, uma banca de frescos com saladas já embaladas. E sim, os gostos mais gulosos também não foram esquecidos na oferta da Delidelux. Crème Brûlée de erva príncipe, tarte de chocolate e morangos e bolo de cenoura dizem “presente” na ementa.

Na nova Delidelux o Tejo não marulha mas sabe bem ver Lisboa a passar

A não desmerecer aos fins-de-semana e feriados (das 9h00 às 13h00) outro dos clássicos com assinatura Delidelux, os Brunchs. Neste caso também numa trilogia de opções, “Delight”, “Delux” e Benedict”. A variedade é grande em qualquer uma das propostas, com alguns sabores transversais a todas elas: croissant, fiambres, manteigas e compotas, bebida fria, bebida quente, café. A não desmerecer os Ovos Benedict em bolo do caco, com salmão fumado, bresaola ou veggie.

Posto isto e porque de leituras de cartas de restauração não se faz apenas o pequeno-almoço, fica o articulista do presente artigo entregue a meditações, enquanto vê Lisboa a passar. Aqui não há o Tejo a encrespar, mas a primavera a despontar também tem agitação, nas copas frescas e nos pardais a pipilar.

Delidelux

Rua Alexandre Herculano, 15 A
Telefone: 213 141 474
Pequeno-almoço: Das 8h00 às 12h00. Brunch: (fim-de-semana e feriado) das 9h00 às 13h00.

Encerra: 23h00.