Visite o leitor um qualquer mercado e sairá com uma certeza: tomate, beringela e pimentão são vegetais; morango, figo e maçã, assim como a banana são frutos. Não há misturas na banca e, na cultura popular, as diferenças, se os tomarmos pelo sabor, estão bem vincadas.

Agora, fale o leitor com um botânico e perceberá que aquilo que o saber popular nos devolve há muito, cientificamente não tem a mesma resposta.

Se lhe dissermos que um tomate, uma beringela e um pimentão são um fruto, torce o nariz de ceticismo.

Acresce que a banana, o morango, o figo e a maçã não jogam os quatro no mesmo campeonato. É verdade, banana é fruto. Os três outros alimentos são pseudofrutos. Passemos, então, a explicar.

morangos
créditos: Jonathan Borba

Em rigor, seguindo a cartilha da botânica, fruto é o que nasce do ovário da planta, a parte onde vamos encontrar as sementes, protegendo-as. O fruto vai manter-se fechado, envolvendo as sementes até ao seu amadurecimento. Ou seja, quando as sementes estão prontas para germinar, o fruto amadurece e abre. Em suma, podemos afirmar que a principal tarefa do fruto é garantir a segurança e disseminação da geração seguinte. Esse cheque em branco para o futuro são as sementes.

A evolução tratou de engendrar formas de dispersão das sementes com grande criatividade. Um animal vê um fruto de aspeto saboroso, ingere-o, percebe-o delicioso, irá continuar a ingeri-lo a cada nova estação e, nas suas deambulações, defecará as sementes. Estratégia inteligente a da sedução da planta para perpetuar a espécie.

É, precisamente a estratégia seguida pelo tomate, beringela, abobrinha, pepino, o chuchu e o pimentão, entre outros frutos.

Uma definição que, contudo, pode encontrar variações se entendida do ponto de vista nutricional. Vejamos, então: “apesar de serem frutos do ponto de vista botânico, em termos nutricionais, encaixam na categoria dos hortícolas”, explica a nutricionista Cláudia Viegas. “Isto porque são pobres em açúcar. Possuem um baixo índice glicémico. Estes frutos escondidos, são, ainda, fontes de fibras, vitaminas e minerais. Nestes casos assemelham-se aos congéneres que imediatamente associamos à fruta”.

Importante é saber que podemos consumir tomate, um fruto, sem grandes restrições, sem os inconvenientes da frutose, o açúcar natural da fruta. “É claro que como em qualquer alimento há que saber equilibrar. Não vamos, só porque é saudável, consumir em doses acima do que é aconselhável. Na alimentação, tal como em tudo o mais, devemos evitar os excessos”, consubstancia a nutricionista.

Tomando, ainda, o caso do tomate, “há que saber que é rico em licopeno, encontrando-se este nas sementes e na polpa que tantas vezes desmerecemos. Um nutriente muito importante na prevenção do cancro, particularmente entre os homens no que respeita ao cancro da próstata”.

“Extrapolando, as ervilhas sendo leguminosas, do ponto de vista nutricional, estão mais próximas dos hortícolas, dadas as suas características. Nutricionalmente não são tão ricas em fibras e proteínas”, acrescenta Cláudia Viegas. “Por exemplo, um amendoim é uma oleaginosa, mas também uma leguminosa e um fruto”.

Para complicar, os pseudofrutos

Como vimos inicialmente, o fruto desenvolve-se a partir do ovário de uma flor. Contudo, nem todas as espécies vegetais se comportam assim.

Ou seja, em certas plantas, além do ovário, há outras partes da flor que se podem tornar frutos. Chegamos, então, aos pseudofrutos. Alguns exemplos? O morango, o figo e, pasmemos, a maçã e a pera.

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créditos: Jasmine Raybon

No caso do morango, o fruto são os pontinhos negros que vemos no exterior, agarrados à polpa carnuda encarnada.

O figo é, na realidade, uma estrutura oca com flores no seu interior.

Já no abacaxi, o verdadeiro fruto está na casca.

No caso da maçã e da pera, a polpa suculenta não é o fruto. Este encontra-se no seio da polpa, nas ´casquinhas´ duras onde as sementes se encontram protegidas.