Na Gala do Guia Michelin que se realizou pela primeira vez em Portugal, mais concretamente no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, foram anunciados, este 21 de novembro, os galardoados com as estrelas da restauração para 2019.
No que toca às duas estrelas ("muito boa cozinha, vale a pena fazer um desvio"), o restaurantes Alma de Henrique Sá Pessoa, junta-se aos já anteriormente galardoados com o duplo asterisco: Belcanto/José Avillez (Lisboa), Ocean/Hans Neuner (Alporchinhos), Vila Joya/Dieter Koschina (Albufeira), Yeatman/Marco Costa (Vila Nova de Gaia), Il Gallo D´Oro/Benoit Sinthon (Funchal). Casas que para 2019 mantêm o mesmo número de estrelas.
“O Alma, situado no boémio e turístico Chiado, criou uma muito boa impressão junto dos inspetores. O chefe Henrique Sá Pessoa cativou-os com uma proposta muito técnica, divertida e repleta de matizes. Cada pedaço levou-os a viajar no tempo e no espaço, graças aos sabores tradicionais e autênticos, que transportam para paragens mediterrâneas ou de outras latitudes”, refere a Michelin, no comunicado oficial distribuído durante a gala.
No campeonato da Estrela Única (“muito bom na sua categoria”), como novidade A Cozinha por António Loureiro/António Loureiro (Guimarães), G. Pousada/os irmãos Óscar Gonçalves e António Gonçalves (Bragança), Midori/Pedro Almeida (Sintra).
Além das novidades já citada para 2019, de sublinhar que Portugal mantém todas as distinções anteriores e continua a não ter nenhum restaurante com a classificação máxima (três estrelas, "uma cozinha única, justifica a viagem").
Isto numa noite que teve para Portugal um certo gosto amargo. Eram grandes as expetativas em torno da ascensão de José Avillez, no seu Belcanto, à tripla estrela; assim como as de João Rodrigues (Feitoria) e de Hans Neuner, com o Ocean.
Em Portugal, os inspetores “encontraram pepitas de ouro gastronómicas em locais por vezes insólitos e isolados”, refere a empresa, apontando os exemplos dos outros dois restaurantes que alcançam a primeira estrela: o G Pousada, em Bragança, dos irmãos Óscar e António Gonçalves, que “valoriza a cozinha moderna da região de Trás-os-Montes”, e o restaurante A Cozinha, em Guimarães, “onde o chefe António Loureiro surpreendeu com uma cozinha moderna, que demonstra equilíbrio e sensibilidade”, sublinha a Agência Lusa em comunicado.
Para diretor internacional dos guias Michelin, Gwendal Poullennec, citado pela Lusa, “Portugal tornou-se num destino turístico de referência e boa parte desse êxito assenta no auge da sua gastronomia”.
“É certo que a cozinha tradicional lusa sempre contou com o beneplácito do público estrangeiro. Sem dúvida, hoje temos a confirmação de um vigoroso impulso na alta gastronomia deste país, habitualmente a cargo de uma geração de jovens chefes”, considerou.
No nosso país há ainda dois novos “Bib Gourmand” (boa qualidade/preço abaixo dos 35,00 euros por refeição) – a Tasca do Zé Tuga (Bragança) e Avenida (Lagos).
No total, Portugal contém, no guia de 2019, 167 restaurantes referenciados, dos quais 36 são Bib Gourmand e 105 estão distinguidos como Prato Michelin ("uma cozinha de qualidade"), além dos 26 com estrelas Michelin. Constam ainda 165 hotéis e turismos rurais.
Ainda de referir que o chefe basco Martín Berasategui, atualmente a comandar a cozinha do restaurante Fifty Seconds, no cimo da Torre Vasco da Gama, em Lisboa, aumentou para dez o total de estrelas Michelin, ao ver distinguidos mais dois dos seus restaurantes em Espanha no Guia Michelin ibérico de 2019, que atribuiu três estrelas ao restaurante Daní García.
Ainda do lado espanhol, o guia de 2019 conta com 1447 restaurantes referenciados: 11 com três estrelas, 25 com duas e 170 com uma. Há 248 restaurantes Bib Gourmand, sendo 20 novos, e 879 com a distinção Prato Michelin, que designa uma "cozinha de qualidade", dos quais 91 são entradas novas.
A primeira Gala de entrega das estrelas Michelin Portugal e Espanha data de 2010, ano em que se adotou este formato. Até este 2018, a iniciativa realizou-se sempre no país vizinho, mas concretamente em Madrid, Barcelona (Catalunha), Girona (Catalunha), Santiago de Compostela (Galiza), Marbella (Málaga), Tenerife (Canárias).
Lisboa ganhou a Gala a cidades como Santander, Valência e San Sebastian. As autoridades municipais destas urbes haviam manifestado interesse em organizar a gala de atribuição das estrelas para 2019.
11 Curiosidades sobre o Guia
- Aquilo que entendemos como estrela Michelin é, na realidade, desde os primórdios do guia, um macaron.
- Quem ganha as estrelas é o restaurante não o chefe de cozinha. As estrelas são atribuídas pela experiência global em si, não apenas pela qualidade da cozinha, fundamental, de qualquer forma.
- Até 1933 o guia atribuía de uma a cinco estrelas. Nesse ano passou para a atual escala de um a três.
- A Gala Michelin Ibérica é recente, data de 2010, altura em que a organização adotou um formato de iniciativa mais mediático, coincidindo com os 110 anos da iniciativa. O Guia nasceu em 1900 na viragem do século XIX para o XX como forma de apoio na estrada dos clientes que adquiriam pneus da marca francesa criada 12 anos antes pelos irmãos Édouard e André Michelin.
- Nem sempre o mais famoso guia de restaurantes do mundo contou com uma capa encarnada. Na origem, a capa era azul, só tendo mudado para uma cor mais chamativa três décadas após a sua criação.
- Para o mercado Espanha e Portugal, o Guia Michelin apoia-se no trabalho de uma equipa de 12 inspetores, com o apoio de inspetores de países terceiros.
- Em boa verdade ninguém sabe, em concreto, quais são os critérios utilizados pelo Guia para a escolha dos restaurantes. Citando a fonte, o próprio guia, podemos afirmar que “As nossas estrelas, uma, duas e três distinguem as cozinhas mais notáveis, qualquer que seja o seu estilo. A escolha dos produtos, o controlo do ponto de cozedura e sabores, a personalidade da cozinha, a constância de prestação e a boa relação qualidade/preço são os critérios que, para além das diferentes cozinhas, definem as melhores mesas”. E assim ficamos.
- Portugal tem restaurantes no guia Michelin desde 1910, ano da primeira edição da publicação no nosso país. No ano de implantação da República chegavam às páginas do Michelin os restaurantes Santa Luzia (Viana do Castelo) e Mesquita (Vila Nova de Famalicão). Em 1936, Portugal tem o seu primeiro restaurante com duas estrelas, o Escondidinho, na Invicta. Em 1974, Portugal via quatro restaurantes galardoados com uma estrela: Portucale (Porto), Pipas (Cascais), Aviz e Michel (ambos em Lisboa).
- Entre 1939 e 1973 o guia para a Península Ibérica não foi publicado. Dois factos contribuíram para isso, a Guerra Civil em Espanha e a Segunda Guerra Mundial.
- O restaurante nacional com mais tempo de permanência ininterrupta no guia é o Porto de Santa Maria (Cascais). Vinte e cinco anos com uma estrela Michelin, de 1986 a 2009. Ainda nos campeões da permanência, de referir o Vila Joya (Albufeira), com a cozinha entregue a Dieter Koschina. Há 22 anos com lugar cativo no guia, tendo as duas estrelas há 18.
- Famoso mas não o único. Quantos de nós conhecem o guia Gault-Millau? Criado nos anos de 1960 é um dos mais conceituados prontuários da boa restauração, assim como o seu homónimo para os vinhos, abalando o Guia Michelin, com seus textos irreverentes.
Também nesta competição da alta cozinha, o The World's 50 Best Restaurants, lista produzida pela revista britânica Restaurant, com base numa pesquisa internacional de chefes de cozinha, donos de restaurantes, gastrónomos e críticos. Além da principal tabela, o "Chef's Choice" é uma lista baseada em votos de cinquenta chefes de restaurantes em relação ao ano anterior.
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