A 16.ª edição dos Prémios Mesa Marcada assinala o regresso do domínio do chef João Rodrigues às distinções principais, facto que já se verificará várias vezes no passado, ao conquistar o 1.º lugar tanto no ranking de chefs como no de restaurantes. A particularidade deste ano reside no facto de o restaurante com que venceu, o Canalha, em Lisboa, não ser um estabelecimento de fine dining, mas antes um espaço mais acessível, que inclusive estava nomeado para o prémio Mesa Diária - categoria que venceu no ano passado. Na verdade, esta tendência teve início em 2023, quando o Prado - que este ano alcançou o 3.º lugar - se tornou o primeiro restaurante “não Michelin” a conquistar o 1.º lugar na categoria de restaurantes, feito inédito em muitos anos de história destes prémios dos "Preferidos" do Mesa Marcada.
"Contudo, embora se note algum recuo do fine dining nas preferências do júri, seria exagerado anunciar o seu declínio, uma vez que este estilo continua bem representado no Top 10. A cozinha com personalidade (com maior ou menor intervenção na transformação do produto), uma certa artesanalidade, a excelência da comida (privilegiando o rigor, sem necessariamente exigir perfeição técnica), a empatia e, num segundo plano, o ambiente, o serviço de sala e os vinhos, reflectem as principais tendências nas escolhas do nosso júri. O painel alargado, que este ano reuniu um número recorde de 305 elementos, manteve a sua composição habitual, ainda que renovado, integrando chefs e outros profissionais ligados à restauração e hotelaria, bem como jornalistas, críticos, comunicadores e gastrónomos reconhecidos no meio", sublinham os promotores dos galardões.
Da análise do Top 10, destaca-se ainda a subida de 19 lugares do Sála de João Sá (de 29.º para 10.º), que lhe valeu o Prémio Especial Estrella Damm Restaurante Destaque do Ano. Igualmente relevante foi a ascensão de Nuno Mendes, que subiu nove posições até ao 6.º lugar (era 15.º), conquistando o Prémio Especial Makro Chef Destaque do Ano, em reconhecimento do seu trabalho na Cozinha das Flores, no Porto, e pelos primeiros passos dados no novo Santa Joana, em Lisboa.
O Prémio Especial Quinta dos Carvalhais Restaurante Novo do Ano foi atribuído ao Ciclo, de José Neves e Cláudia Abreu, um pequeno projecto na Mouraria, em Lisboa, ao estilo novo bistrot, com "ela recebe e serve, ele cozinha".
O renovado Prémio Especial Vista Alegre Chef Revelação de 2024, redefinido este ano para distinguir chefs até aos 35 anos que tenham subido consideravelmente nas posições cimeiras ou entrado de forma expressiva no ranking, foi atribuído a Louise Bourrat. A jovem chef tem-se destacado no Boubou's, estabelecimento que conquistou também o Prémio Especial H.Blin Serviço de Sala do Ano, atribuído por um júri restrito de 34 pessoas ligadas ao meio.
Ainda entre as distinções decididas pelo painel alargado de júri destaca-se o Prémio Especial Queijo São Jorge DOP Mesa Diária, conquistado pela alfacinha Taberna Os Papagaios, de Joaquim Leal, um nome familiar nesta categoria por múltiplas distinções anteriores. Já a Queijaria, de Pedro Cardoso, arrecadou pela primeira vez o Prémio Especial Bom Sucesso Loja Gastronómica do Ano, galardão que nas três edições anteriores pertencera à Comida Independente. Mantendo o seu domínio, o festival Chefs on Fire, da Lohad, de Gonçalo Castel-Branco, conquistou pelo terceiro ano consecutivo o Prémio Especial Nutrifresco Evento Gastronómico do Ano.
Como novidade, este ano os Prémios Mesa Marcada instituíram uma distinção local: o Prémio Especial Restaurante do Ano Cascais. Este galardão, justificado por Cascais ser o concelho anfitrião dos prémios - e pela sua relevância gastronómica -, foi atribuído ao Izakaya, de Tiago Penão. O restaurante reuniu o maior número de votos de um júri composto por 35 pessoas da região ou com forte ligação à mesma, mantendo um perfil semelhante ao do ranking nacional: chefs, proprietários e outros profissionais do sector da restauração e hotelaria, jornalistas, comunicadores e gastrónomos locais.
Prémios Especiais por painéis de jurados especializados
Para além do Prémio Especial Restaurante do Ano Cascais e do Prémio Especial H.Blin Serviço de Sala do Ano, atribuído ao Boubou's, diversos painéis de jurados distinguiram outros profissionais do sector.
José Avillez conquistou o Prémio Especial Fagor Professional Empresário de Restauração 2024, através de um painel de 29 votantes de diferentes sensibilidades, maioritariamente empresários do ramo e directores de restaurantes, incluindo também fornecedores, jornalistas e gastrónomos que valorizam a função.
Na área da pastelaria, Sara Soares (Caos – O Futuro é Vegetal) destacou-se ao receber o Prémio Especial Roastelier by Nescafé Chef de Pastelaria 2024, atribuído por um júri especializado de 41 pessoas, entre profissionais do sector e entusiastas. O Prémio Especial S. Pellegrino/Acqua Panna Escanção do Ano foi entregue a Pedro Escoto, o jovem sommelier do Feitoria, em Lisboa, numa votação que reuniu 45 votantes, principalmente colegas de profissão, jornalistas, clientes enófilos, produtores e outros profissionais ligados aos vinhos e à restauração.
Os estabelecimentos históricos também têm o seu lugar nos Prémios Mesa Marcada. O Prémio Especial Alugue Aqui Restaurante Clássico do Ano, destinado a casas com pelo menos 25 anos de existência, foi atribuído ao icónico Gambrinus, em Lisboa, fundado em 1936. O júri desta categoria integrou 35 chefs de cozinha que, em nome próprio ou dos seus restaurantes, figuraram nos '10 Preferidos' ou venceram prémios especiais do Mesa Marcada nos últimos cinco anos.
O Prémio Especial Studioneves de Sustentabilidade registou um número recorde de inscrições este ano. A consultora Grab a Doughnut, em parceria com a empresa de cerâmica de autor que dá nome ao prémio e o Mesa Marcada, analisou candidaturas nas categorias 'Ambiente Rural' e 'Ambiente Urbano'. Após um rigoroso processo de avaliação, que incluiu apresentação de provas, entrevistas online e visitas aos finalistas, o restaurante Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, voltou a vencer na categoria 'meio rural', enquanto A Cozinha por António Loureiro, em Guimarães, triunfou na categoria 'meio urbano'.
O Porto dominou as distinções dedicadas aos bares. O Prémio Especial Viriathus Drinks Bar do Ano foi atribuído ao Torto, de José Mendes, Daniel Poças e Vando Montenegro, enquanto o Prémio Especial Zwiesel Glas Bar de Restaurante do Ano distinguiu o Flôr, bar adjacente ao restaurante Cozinha das Flores, de Nuno Mendes, sob a direcção do bartender Jorge Morales. Estas duas novas categorias foram recebidas com particular entusiasmo pelo sector, tanto na fase de nomeações como na constituição do júri, que reuniu 43 elementos entre bartenders, proprietários de bares, profissionais do comércio de bebidas e entusiastas da área, incluindo jornalistas e comunicadores.
A cerimónia culminou com a entrega de duas distinções previamente anunciadas. O Prémio Especial Cutipol Carreira foi atribuído à chef Justa Nobre, reconhecendo o seu notável percurso de mais de 45 anos, em grande parte dedicados às várias incarnações do emblemático restaurante de família, O Nobre. A decisão coube a um painel de 32 chefs de cozinha que integraram o Top 10 ou foram distinguidos com prémios especiais do Mesa Marcada nos últimos cinco anos.
Este mesmo colectivo de chefs atribuiu também o Prémio Especial Maria José Macedo - Produtor/Fornecedor do Ano a Raul Reis, agricultor da Lourinhã que, resgatado à reforma, tem contribuído de forma singular para a valorização de um produto aparentemente simples, mas fundamental na gastronomia: a batata.
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