Historicamente, o vinho seco na Madeira não tinha uma boa conotação, sendo considerado um vinho de pouca qualidade. Por isto, não é de estranhar que praticamente todo o vinho tranquilo que se bebia na Madeira vinha do continente. Por outro lado, esta ausência criou um nicho. E havia potencial para isso…

Há mais de 20 anos, a Madeira Wine Company resolveu juntar vinhos tranquilos às grandes marcas de vinho de Madeira como a Blandy’s, Cossart Gordon, Leacock’s e Miles. A marca Atlantis foi um dos pilares estratégicos para crescer no mercado em termos de consumo e exportação. Surgiu em 1992 com um rosé de Tinta Negra de colheita de 1991. Em 1996 foi lançado um branco de Verdelho e agora é apresentada uma versão Reserva que conta com parceria do enólogo da Madeira Wine Company, Francisco Albuquerque, com o enólogo e produtor Rui Reguinga.

Os atuais vinhos tranquilos da Madeira despertam a curiosidade dos consumidores atentos e um vivo interesse por parte dos escanções e chefes de cozinha. As características intrínsecas dos vinhos evidenciam a sua vocação gastronómica e proporcionam um campo de experimentação desafiante.

Os vinhos

O rosé é feito 100% de Tinta Negra, proveniente da zona mais quente de Campanário e Câmara de Lobos, na costa sul da Ilha. As uvas foram arrefecidas na adega e, após uma breve maceração, utilizou-se apenas o mosto de lágrima para obter um vinho delicado com uma cor ligeira. “É preciso ter cuidado na vinificação para preservar os aromas de uma casta que não é muito aromática naturalmente” – repara Francisco Albuquerque. Foram produzidas mais de 27 mil garrafas.

As uvas de Verdelho para o vinho branco provêm da Raposeira, na zona oeste, e Porto Moniz, no norte da Ilha, onde as vinhas levam com o mar do norte. O vinho não foi pensado para complicar: a ideia é “traduzir sem defeito o que as uvas nos dão”, explica Francisco Albuquerque. Foi vinificado em inox para manter os aromas primários, com bâtonnage para lhe conferir mais textura de boca. O vinho resultante transmite a identidade da casta e do seu terroir. Tem uma acidez dde quase 9 g/l. É um bom candidato para acompanhar umas belas ostras, faz lembrar um Chablis. Foram produzidas pouco mais de 10 mil garrafas.

Finalmente, o Verdelho na versão reserva é um vinho ambicioso. O principal segredo é conhecer bem as uvas e escolher aquelas que tenham maturação mais consistente, condição que, para vinhos tranquilos, é mais crítica do que para os Vinhos da Madeira. As vinhas ficam no oeste da ilha, na zona da Raposeira (freguesia da Fajã da Ovelha e Prazeres) numa encosta de 150 metros de altitude, onde apanham bastante sol. Conseguem amadurecer para dar 12% de álcool.

O mosto da gota e da primeira prensagem fermentou com leveduras indígenas parcialmente em inox e em barrica de carvalho francês de 500 litros, onde estagiou 9 meses com borras totais e bâtonnage semanal. Depois de engarrafamento passou mais nove meses antes de ser lançado para o mercado. Foram produzidas apenas 1.333 garrafas.

A frescura atlântica no copo! A novidade que chega da Madeira e que tem de conhecer
A frescura atlântica no copo! A novidade que chega da Madeira e que tem de conhecer Equipa da Blandy’s: Nelson Calado, Chris Blandy (gestor), e os enólogos Francisco Antunes e Rui Reguinga. créditos: Cortesia Blandy's

Em prova

Atlantis - Madeirense Tinta Negra rosé 2018

A frescura atlântica no copo!
A frescura atlântica no copo! Atlantis Madeirense Tinta Negra rosé 2018. PVP médio indicado pelo produtor: 7.50€

Cor de rosa pálido, nariz bastante aromático com fruta fermelha fresca e bem definida (morango, cereja, romã). O vinho respira frescura, enfatizada com acidez crocante. Tem bastante intensidade de sabor para uma delicadeza de primeiro impacto, deixando na boca uma longa sensação de frescura. Conheça mais pormenores deste vinho aqui.

Atlantis - Madeirense Verdelho branco 2018

A frescura atlântica no copo!
A frescura atlântica no copo! Atlantis Madeirense Verdelho branco 2018. PVP médio indicado pelo produtor: 15€

Lima e limão no aroma, juntamente com ananás, aipo e manjericão. Ambiente salino na boca, acidez cortante, mas mesmo assim tem alguma macieza na textura. É um vinho com personalidade, embora possa não ser consensual na apreciação. Precisa de algum tempo de garrafa para mostrar o seu potencial. Leia mais aqui.

Atlantis - Madeirense Verdelho Reserva branco 2017

A frescura atlântica no copo!
A frescura atlântica no copo! Atlantis Madeirense Verdelho Reserva branco 2017. PVP médio indicado pelo produtor: 29€

Intenso e complexo no nariz, a revelar fruta exótica (fisális e pitanga), especiaria e pedra molhada, reminescente de cogumelos e pó da terra. Corpo não muito cheio, mas denso e texturado, acidez afirmativa. Não há percepção de fruta imediata na boca, antes sugestões de gengibre e salinidade presente. Fruta branca aparece num registo muito sóbreo, com ervas secas, pedra e pimenta branca. Em evolução na boca surge amêndoa ligeiramente torrada, kiwi e final com sabor mineral, quase a lembrar a casca de ostras. Saiba mais aqui.

Artigo publicado na Revista Grandes Escolhas, Edição nº25, maio de 2019