Conta a História assim: No século XVI, mais concretamente em 1543, um navio chinês com três marinheiros portugueses a bordo, António da Mota, Francisco Zeimoto e António Peixoto, dirigia-se a Macau. Quis o destino meteorológico, traduzido numa tempestade, que o navio se afastasse para a ilha do sul do Japão, Tanegashima. A dupla de antónios e Francisco foram os primeiros europeus a pisar no solo japonês.

Os nipónicos, a mãos com uma guerra civil, começaram a negociar armas com os portugueses. Ao que parece a permuta com Portugal incluiu outros itens, neste caso alimentares. Em 1639 quando os nossos antepassados foram banidos do Japão haviam deixado uma marca indelével na cozinha local, uma receita de feijão-verde, envolto em polme e, depois, frito, os nossos “peixinhos da horta”.

Em terras nipónicas, de acordo com um artigo publicado pela BBC Travel, a 10 de agosto, os “peixinhos da horta” entraram nos hábitos japoneses, estando na origem do “Tempura [da palavra latina Têmporas -associada à Quaresma e ao jejum], um alimento básico da cozinha do país asiático desde então”.

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Os japoneses adaptaram a receita, tornando a massa mais fina, fritando-a num óleo mais leve e juntando mais vegetais, até chegar ao prato que conhecemos atualmente. O Tempura pode ser feito com uma grande variedade de legumes, como abóbora, cenoura, cebola, vagem, brócolos, beringela; com peixes e marisco.

No Portugal de 2017 o jornalista David Farley encontrou-se com o chefe José Avillez, no restaurante Cantinho do Avillez, em Lisboa. O objetivo do repórter britânico, desmontar a origem e receita destes “peixinhos da horta”. Citando o cozinheiro luso, “ninguém sabe a origens exatas da receita. Sabemos que existia em 1543”. Uma receita que vinha substituir as carnes em períodos de penitência, associados à Quaresma. Avillez no artigo citado, aponta, ainda, outra explicação para a origem da receita: "Quando os pobres não podiam adquirir peixe, eles comeriam estes feijões-verdes fritos como um substituto. Acresce que os marinheiros fritavam os feijões para preservá-los durante as longas jornadas marítimas”.

No mesmo artigo, Farley enaltece a cozinha portuguesa, considerando-a “ofuscada pelas cozinhas da Itália, Espanha e França. Os `peixinhos da horta` são apenas um dos muitos pratos que os portugueses inspiraram em todo o mundo”. De acordo com o articulista da BBC, a nossa cozinha “pode ser a culinária mais influente do planeta”.

Entre as preparações culinárias que os portugueses deixaram no mundo, destaca-se a vinha d´alhos, em Goa, na Índia, onde os nossos conterrâneos de séculos passados preparavam um prato de porco com sabor a vinho. Uma especialidade adotada pelos locais que tomou o nome de Vindaloo.

“Em Macau, no sul da China, há doces descendentes diretos das tortas de ovos encontradas nas padarias de Lisboa. E o prato nacional do Brasil, a feijoada, um guisado com feijão e carne de porco, tem suas origens na região norte do país do Minho”

Ainda em Portugal, David Farley falou com o chefe Olivier da Costa [restaurante Olivier Avenida], que passou ao jornalista a sua receita para os “peixinhos da horta”: “Uso uma massa de farinha, leite, ovos, sal, pimenta e cerveja. Esta última porque fermenta a massa e a espuma de cerveja proporciona um melhor sabor”.