Começo por tentar explicar isto do “sexto sentido”… Pressentimento, feeling, sexto sentido. A nomenclatura não importa pois todos os sinónimos remetem à mesma coisa: a intuição, a sensibilidade, aquela perceção que não sabemos de onde vem, mas sabemos que existe. Um estalo, uma voz, um eco interior... E isso não tem absolutamente nada de sobrenatural!

As mulheres são capazes de perceber detalhes como ler e interpretar os gestos, sinais corporais e imagens. Além disso, elas conseguem analisar rapidamente sua coerência e correlacionar esses dados, considerando o contexto. E tudo ao mesmo tempo! Entre um e outro sinal, as mulheres unem circuitos cerebrais que detetam possibilidades que elas nem imaginam!

Agora transportamos tudo isto para o mundo do vinho, e começo a perceber porque é que os vinhos destas mulheres ganham prémios nacionais e reconhecimento internacional. Damos a conhecer algumas das melhores produtoras ou enólogas:

Luísa Amorim, que está à frente do projeto, trocou a corticeira pelo negócio de vinhos da família na região do Douro. Pegou na marca Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo e, em sete anos, colocou os seus vinhos em 27 países. Os lotes são uma imagem da marca e todos são fechados por ela, como o Quinta Nova Grande Reserva Touriga Nacional Tinto 2009, um vinho com estrutura e elegância, integrando taninos muito suaves e um final muito longo.

Júlia Kemper, há uns anos teve a oportunidade de restaurar as vinhas da família na região do Dão. Esta advogada de profissão, replantou as vinhas de acordo com uma orientação biológica. Contou com a ajuda do amigo da família, Dirk Niepoort, impressionado com o projecto, dada a sua qualidade e originalidade, para apresentar os seus vinhos. O seu Julia Kemper Reserva Branco, tem um aroma forte e exuberante, muito corpo e largura de prova, tem carácter e força, um final longo levemente tostado com fruta e especiarias. Um Branco para comprar agora e beber no Inverno.

Filipa Pato, não nega a importante influência familiar para estar na área dos vinhos, mas o que a fascina na enologia é o estilo de vida. Defensora das castas autóctones, Filipa considera que as castas devem ser trabalhadas no seu habitat natural. Na Bairrada trabalha vinhos "autênticos sem maquilhagem", que refletem isso mesmo. É isso que encontramos no vinho Nossa Tinto 2010, forte presença da baga, muito intensa. Destaca-se pela elegância e mineralidade, com fruta expressiva deliciosa e fresca. É um Baga vibrante e diferente, leve mas também intenso, sofisticado, complexo, longo.

Susana Esteban protagoniza agora no Alentejo um promissor projeto pessoal. Durante dois anos procurou em todo o Alentejo pelas vinhas ótimas para fazer os seus vinhos. Em 2011 concretizou o seu desejo: numa das parcelas encontrou uma vinha de Alicante Bouschet, situada perto de Évora e com um clima ótimo para a boa maturação da casta. Em Portalegre encontrou uma vinha tradicional plantada numa zona muito mais fresca que o resto do território do Alentejo. Da combinação destas duas parcelas nasceu o Procura 2011. Um vinho que impressiona desde logo pela enorme qualidade e pureza da fruta, madura mas fresca, que aqui se alia a complexas notas minerais e especiarias. É um vinho de grande finura, com taninos de seda, sólido e elegante.

Penso que são inegáveis as provas aqui apresentadas da capacidade destas mulheres no que diz respeito à intuição, ao desafio, ao experimentalismo, à perseverança, ao empreendedorismo e porque não, ao charme. Percebemos isso tudo quando falamos com elas em eventos, feiras, tertúlias… Elas falam, falam, falam e nós já estamos a beber vinho sem levar o copo à boca, conquistados pelo relato das suas experiências na vida e na vinha.

A nós, é-nos incumbida a missão de dar a conhecer a todos aqueles que procuram enriquecer não só o vinho que bebem, como quem o faz e como o faz. Só assim, podemos garantir que cada vinho que apresentamos é um valor seguro a adquirir.

José Faria
(Sommelier OUT OF THE BOTTLE)