O consumidor mais atento vai facilmente perceber que a Rua de São Paulo, em pleno Cais do Sodré, fervilha de novidades. As casas de ferragens ou de borrachas vão dando lugar a restaurantes trendy que vão ajudando a revitalizar aquela que é, de momento, uma das zonas mais efervescentes de Lisboa. Longe o suficiente da confusão da rua cor-de-rosa, a Rua de São Paulo tem movimento de cidade, distinto do movimento da noite.
O número 204 é exemplo disso mesmo. Uma antiga casa de borrachas deu lugar ao Amaru - Peruvian Street Lab, um restaurante de street food peruano, com decoração industrial, refletida em candeeiros estilizados, cobre e cabos de eletricidade à vista, néons à mistura e mobília feita à medida, com paredes picadas e pedra à mostra. “Quisemos ter uma decoração com um elemento cru, mas com atenção aos detalhes”, explica-nos João David, arquitecto de profissão, responsável pela decoração do espaço e um dos quatro sócios deste projeto em conjunto com Manuel Bonneville, Pedro Moura Coutinho e Daniel Mello. “Estamos numa rua muito industrial e achámos interessante trazer esse tema para dentro do restaurante”, acrescenta.
Reza a lenda que Tupac Amaru, último imperador inca, que lutou contra a colonização espanhola, ao ser executado afirmou que voltaria de alguma forma, mas multiplicado em milhões. Aqui a história não se quer tão sangrenta, mas a ideia de expansão ficou na cabeça dos fundadores e por isso foi o nome escolhido para o espaço. O que os une é uma paixão pela cozinha peruana, apesar de não terem ligação direta com o país – João, por exemplo, teve um tempo a viver fora de Portugal, mas na China. “Antigamente, em Lisboa, era tudo igual: a mesma oferta, o mesmo menu. E agora não, cada um tem a sua cozinha”, afirma.
O proprietário do espaço explica ainda que o foco e inspiração número um que tiveram em mente foi a cidade de Lima e a sua comida de rua. Mas o citrino lima é também um dos elementos centrais de vários pratos. “Aqui (em Portugal) apostamos muito no sal, no Peru usa-se mais o ácido como tempero na cozinha”, salienta João David.
Não podemos falar de um restaurante peruano sem pensar em ceviches e o Lo Puro (13,50€), o Sangrita (8,50€) e o Atun Nikkei (15,00€), são as sugestões de uma carta que não é demasidado extensa, o que traduz simplicidade, numa cozinha com influências da China, do Japão e de Espanha.
Tacu-tacu (4,50€), umas bolinhas de feijão fritas em migalhas de pão com salsa peruana fresca mini-espetadas, como o Anticucho de papa dulce (5,50€), de batata doce com salsa huancaína, batata doce crocante e pimentão fumado, ou pratos de carne, como o famoso El Cochinito (7,00€), um cachaço de porco assado lentamente em pão de brioche com salsa Amaru, alface crocante e cebola roxa ou o Lomo Saltado (16,00€), coração de alcatra marinado, salsa chifa, cebolete, cebola roxa, salsa criola e arroz branco ajudam a compor o ramalhete. Uma das preocupações foi apresentar diversidade e há pratos vegan na carta como é o caso do Sangrita.
Se o melhor está no fim, as sobremesas estão à altura dessa espera com Suspiro Limeño (3,80€), uma mousse de dulce de leche, merengue crocante e raspa de lima, típica do Peru, ou Cuatro Leches (5,00€), uma inspiração no típico tres leches mas num passo à frente, que é personificado num bolo fofo com calda de pisco, doce de leite, nata batida, molho de leite condensado e gelado de nata salgada, uma criação do chef executivo do espaço, Pedro Brandão.
Há um equilibrio entre receitas originais e reintrepretações, ou não fosse a cozinha portuguesa bastante rica também. Essa mistura vê-se em pratos como o Iberico Negro Saltado (14,50€), que usa secretos de porco preto numa mistura de salsa chifa, cebolete, cebola roxa, salsa criola e arroz branco ou em ingredientes como a corvina (que é usada num dos ceviches), os legumes e as frutas. Do Peru chegam componentes como a pimenta vermelha peruana (ají panca) ou o milho tostado (cancha). “Esta era a liberdade que queríamos ter ao apresentar pratos com ingredientes típicos de cá”, explica ainda João David.
Pensando num espaço de street food, a bebida é algo a não desvalorizar e aqui não faltam opções entre cocktails, vinhos e cerveja, com destaque para Beerful Chilcano (9€), o clássico Pisco Sour (9€), Frozen Strawberry Margarita (8€) ou o Mezcal Negroni (13€).
Apesar de não ser um restaurante de grandes dimensões - 28 lugares no interior e 18 lugares na esplanada com espaço para lugares ao balcão à entrada – há menus de grupo a 27,50€ por pessoa e incluem pratos como o ceviche Nikei, o Anticucho de Corazón ou o Lomo Saltado. Quem optar por esta hipótese tem direito também a um café e cerveja com 50% de desconto durante toda a refeição.
Aberto das 18h00 às 01h00 de quinta a segunda-feira, o Amaru quer ser um ponto de encontro de amigos, uma opção para o início de noite, graças aos cocktails e uma referência gastronómica que se traduza numa street food descomplicada.
O SAPO Lifestyle esteve no Amaru - Peruvian Street Lab a convite do restaurante.
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