Domingo, 26 de fevereiro. O dia acorda devagar ao som dos pássaros que povoam a Herdade Torre de Palma. Dão sinal de que o amanhecer acontece cada vez mais cedo. A primavera aproxima-se a passos largos. Falta menos de um mês.

Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno
Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno créditos: Daniela Costa

Este é um dia diferente na Torre de Palma. Há quatro que o grande forno a lenha está a ser preparado para o evento que vai acontecer em algumas horas, de forma a atingir a temperatura ideal de 350 graus.

A Casa do Forno já serviu de local de partilha de uma comunidade que apenas habita o nosso imaginário. Para resgatar esse espírito, o espaço serve agora de anfitrião a uma série de ciclos, todos eles jantares. Vai trabalhar de novo, mas mais cedo do que nas edições anteriores. O jantar deu lugar a almoço e desta vez é Alexandre Silva (Loco e Fogo) e André Ribeiro (Callum) que se juntam a Miguel Laffan para um manjar digno de grande festa. Daquelas festas de famílias numerosas e daqueles convívios que só encontramos na aldeia.

Cedo vemos os chefs a passar de um lado para o outro, num rebuliço natural de quem faz os últimos preparativos para o que vai acontecer.

Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno
Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno créditos: Daniela Costa

Os chefs convidados não conseguem esconder o entusiasmo de estar ali perante aquele imponente forno. “Nós os três temos cozinhas bem diferentes uns dos outros” e “são técnicas completamente diferentes, formas de olhar a cozinha completamente diferentes, mas todos com um valor em comum que é a qualidade que o prato deve ter e tem de ter”, confidenciava-nos Alexandre Silva, antes do evento.

A expectativa superou a realidade. Se Alexandre Silva se confessava ansioso por ter ao seu lado “um dos melhores cozinheiros a fazer cabrito estonado do país”, a verdade é que André Ribeiro não deixou os louros por mãos alheias. No entra e sai que se vive na Casa do Forno, ouvimos Alexandre Silva confidenciar com André Ribeiro: “Tenho de ir lá para cozinharmos juntos”. “É quando quiser”, responde o segundo. Havendo esse encontro dos deuses do fogo, oiça o nosso conselho: não deixe escapar a oportunidade.

Apesar de já ter cozinhado cabrito estonado em outros fornos de lenha, André Ribeiro confessa-se surpreendido pelo tamanho deste forno.

Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno
Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno créditos: Daniela Costa

As horas passam e os convivas começam a reunir-se à frente da Casa do Forno. Destaque para duas presenças de peso do mundo gastronómico: Miguel Castro e Silva e José Júlio Vintém, este último um dos chefs convidados de uma das edições anteriores.

Há mesa posta, copo de vinho na mão, iguarias a provar. A empada de pato assado lentamente no forno de Miguel Laffan e a ostra no forno com manteiga fumada e óleo de salsa de Alexandre Silva são imperdíveis. Vive-se um momento de convívio, sente-se o clima de festa.

Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno
Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno créditos: Daniela Costa

Enquanto na rua se descontrai, dentro do espaço continuam os trabalhos. Abre-se a porta do forno e é hora de virar o cabrito, que é cozinhado inteiro. Alexandre Silva dá uma mão a André Ribeiro, enquanto Miguel Laffan coordena a equipa do restaurante Palma.

"Quando éramos mais novos, o forno comunitário servia também para partilhar experiências, mas era onde a aldeia punha a conversa em dia”, explica-nos André Ribeiro.

Apesar da expectativa do grupo por provar o cabrito estonado, que será servido com arroz de miúdos e couves da aldeia com broa de milho, ser grande, o menu é composto por outros pratos como tártaro de vaca com tutano e servido no osso, sopa de peixe da costa de Setúbal cozido a lenha e feijoada de sames de bacalhau. Para sobremesa há pera Rocha assada em caldo de especiarias, nougat de pinhão e gelado de líchias.

Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno
Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno créditos: Daniela Costa

O cabrito estonado “é um prato único no país, de Oleiros, mas que já se faz em outras partes do país, e acho muito bem que se faça porque só assim é que se consegue dinamizar e mostrar ao mundo o quanto este produto é bom. E é ótimo trazê-lo porque acredito que 90% das pessoas que está aqui nunca comeu este cabrito”, partilha André Ribeiro. "Eu incluída", assumo.

O cabrito que leva perto de três horas a ser cozinhado é que dita os timings do almoço. Quando pronto é hora de mudar o convívio para o restaurante Palma, cuja disposição se altera para receber este que é sobretudo um grande almoço convívio. E como se faz isso? Através de mesas corridas.

Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno
Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno créditos: Daniela Costa

O desfile de pratos começa a ser servido nas mesas e o prato que causa mais alvoraço é, sem surpresas, o cabrito. Se gosta de almoços demorados, este é um evento para estar. Como nos tinha explicado anteriormente Miguel Laffan, esta foi a primeira vez que a Casa do Forno aconteceu ao almoço. Uma sugestão de José Júlio Vintém que foi bem acolhida pelo chef. No final, depois da sobremesa servida agradece à equipa, aos chefs convidados, a Isabel e Paulo Rebelo, proprietários do Torre de Palma.

“É um evento do qual temos muito orgulho. A Casa do Forno já vai na quinta edição e esperemos continuar muito mais até porque a ideia é fazermos um livro, no final, com todas as receitas que fizemos”, resume o chef Miguel Laffan.

Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno
Quem diria que se podia comer cabrito estonado no Alentejo? Assim foi em mais uma Casa do Forno créditos: Daniela Costa

Os próximos eventos ainda não têm data marcada, mas é uma boa desculpa para ir passear a Monforte e comer comida saborosa, que aconchega a alma e alimenta o coração.

Como diz o ditado “merenda comida, companhia desfeita”. Até uma próxima vez.

O SAPO Lifestyle esteve na Casa do Forno a convite do Torre de Palma Wine Hotel.