Seis da manhã. Giulian Fetahu, um albanês radicado em Portugal, inicia um ritual diário. Visita o Mercado da Ribeira, em Lisboa, onde se abastece de vegetais e frutas. Nas próximas horas este pizzaiolo, que viveu grande parte da vida em Itália, preparará quilos de massa para piza. Giulian trabalha a farinha importada tal como aprendeu no país transalpino que o acolheu. As mãos experientes conhecem de cor os segredos da profissão. Piza que se quer com massa fina precisa de 30 minutos a amassar e outros tantos a descansar. O pizzaiolo também sabe que a massa para uma piza redonda é diferente daquela que originará uma piza em tabuleiro, vendida à fatia.
De resto há que dispor os ingredientes sobre estas bases que o calor do forno tornará estaladiças. Giulian dispõe com agilidade as coberturas das pizas. Tomate, espinafres, requeijão, pão ralado, queijo flamengo, azeite, chouriço, requeijão, um rol que se espraia por dezenas de produtos. O que há de comum entre todos eles? À exceção da farinha e do queijo mozzarella, a origem é portuguesa. Uma exigência que a dupla de irmão Giulian e Esmeralda Fetahu alargam a todos os pratos servidos nos três espaços que gerem, o mais recente, a Pizzaria do Bairro, na Rua Nova da Trindade.
Um restaurante de portas abertas desde fevereiro último que traduz um ir mais além numa história que começou no Cais do Sodré, com um pequeno espaço com venda de piza à fatia, ao encontro da dinâmica noturna daquela zona da capital. O conceito alargou-se a um segundo balcão no renovado espaço de restauração das Amoreiras.
Com a Pizzaria do Bairro os irmãos Fetahu subiram a fasquia. Servem agora 80 lugares sentados, dispostos num espaço com dois pisos e uma decoração que, aparte alguns retoques, aproveita a azulejaria portuguesa e as antigas madeiras de uma casa onde em tempos funcionou o Equador Bar Bistrô. Esmeralda deixa-nos uma assinatura. O teto desta Pizzaria do Bairro inverte lógicas e sobre os comensais cresce uma horta que desafia a gravidade.
É numa mesa junto à janela desta Pizzaria do Bairro que temos o contato com o conceito “Portugal na Pizza”. Não se trata, aqui, de desmerecer na genuína piza italiana, mas sim de lhe acrescentar um sabor nacional e de lhe chamar, por exemplo, “Portugal”, aquela que tem angariado mais seguidores e que incorpora molho de tomate, queijo mozzarella, abóbora, pimentos, requeijão, chouriço, orégãos.
Uma carta que não assenta argumentos gustativos apenas nas pizas. Elas são as estrelas, claro, mas coexistem bem com as entradas (onde se destaca a bruchetta com bacalhau em molho verde, tomate, manjericão, espinafres e mozzarella), com as massas frescas do dia e com algumas sugestões que, mantendo fidelidade ao conceito da casa, emparelham na cozinha Itália e Portugal. É disso exemplo o Bacalhau à pizzaiolo e o Hambúrguer do pizzaiolo com batata frita e maionese de alho e ervas. Quase todas as propostas com a opção de partilha ou, numa abordagem menos altruísta, só para um. Acresce um argumento a favor. Esta parte da ementa contou com a consultoria do chefe italiano Augusto Gemelli.
É ao fundo da sala, na cozinha, que invariavelmente encontramos Giulian frente à boca ardente do forno, alimentado a lenha de oliveira. Daqui saem todos os dias dezenas de pizas. Um alerta: não julgue o leitor que vai encontrar nesta Pizzaria do Bairro a típica massa esponjosa de piza, pendendo mole na mão do comensal. Esta piza é finíssima, estaladiça sem perder aquele rebordo levemente torrado que gostamos de trincar.
É sobre a massa que o pizzaiolo cria. Isto numa carta que nos apresenta uma dúzia de propostas onde destacamos as pizas “Fiel Amigo” - 6,50 euros/média - (queijo mozzarella, espinafres, bacalhau crocante), “Da Horta” - 6,50 euros/média - (molho de tomate, tomate cherry, queijo mozzarella, beringela, abóbora, curgete, requeijão, azeite, orégãos), “Presunto de Vaca” – 8,45 euros/média - (queijo mozzarella, queijo curado, presunto de vaca, rúcula), “Maria” - 6,50 euros - (molho de tomate, queijo mozzarella, requeijão e orégãos).
Os mais criativos podem, ainda, fazer a sua piza combinando três (8,50 euros), cinco (10,50 euros) ou sete (12,95 euros) ingredientes. Um restaurante que é também espaço de convite ao convívio. Dois exemplos? A grande mesa à entrada do estabelecimento onde é servido um menu de grupo o “Mercado do Bairro”; as tábuas que encontramos sobre as mesas e onde são deixados os petiscos para degustar e comentar.
Duas dicas a quem não rejeita intrometer a colher nas sobremesas: o bolo de chocolate (5,00 euros), e a Panna cotta com três opções de topping: caramelo, chocolate ou frutos do bosque.
Rua Nova da Trindade, nº 10, Lisboa
Jorge Andrade
Fotos: Pizzaria do Bairro
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