"Era uma lenda, um mastodonte, salvou a Chanel, reinventou a marca", afirma Mathieu Cipriani-Rivière, um jovem de 20 anos, que se dirigiu à boutique após o anúncio da morte de "Monsieur Lagerfeld".

Vestido com um casaco de couro preto, um casaco amarrado na cintura, e correntes cromadas em volta do pescoço, Mathieu reivindica a sua influência. "Sempre me inspirou, adoro os colares, as joias, o preto. Sem ele a moda perde o seu coração", suspira.

"Karl Lagerfeld era o papa da moda. Ele era toda a História", diz o ex-estudante de moda, que não vê outra pessoa que pudesse substituir Lagerfeld.

De visita a Paris, Yakin Benk, uma turista de Istambul, teve conhecimento da notícia através da sua filha, que lhe ligou da Turquia. "Estou tão, mas tão triste", afirma a mulher de cerca de 50 anos, acompanhada pelo marido.

"Tenho muitíssimos sapatos Chanel, fatos, óculos... tudo vintage. A Chanel é muito importante para nós. Quando a minha filha era pequena dizia-me: quando crescer vou ganhar muito dinheiro e dar-te-ei de presente sapatos Chanel. Com o seu primeiro salário, deu-me de presente o meu primeiro par".

Lagerfeld "soube rejuvenescer a Chanel sem distorcer a marca". Emocionada, Celina Pastors, de 26 anos, aperta contra o peito uma rosa branca, antes de depositá-la em frente à porta da boutique.

"Como ele, vim da Alemanha para Paris para aprender", acrescenta esta jovem de Hamburgo. "Fotografia, moda... tinha um talento incrível, era muito culto, falava um francês delicado... Como vão substitui-lo"?, questiona em frente à fachada da prestigiada loja.

Orgulho

Na fachada, nenhum laço preto ou cartaz anuncia a sua morte. Nada perturba a discreta elegância da boutique Chanel, situada entre o Sena e a praça Vendôme. Os turistas japoneses que se aproximam para tirar fotografias em frente às vitrines ainda não ouviram a notícia. No seu interior, os funcionários receberam instruções de não "dizer nada" à imprensa.

Estudante na Escola da Câmara Sindical de Costura Parisiense, a jovem alemã e a sua amiga, Marie Lanzoni, de 20 anos, vieram assim que ouviram falar sobre o falecimento do mestre, de 85 anos. Junto com a sua rosa, Celina colocou um cartão, escrito em alemão: "Obrigada ao maior mestre da moda, um orgulho para a França e a Alemanha".

Tom e Jade, ambos de 20 anos, vieram com a mesma ideia. Estudantes numa escola de moda, chegaram cada um com uma rosa branca.

"Para nós é quase parte da família", diz Tom André. "Era uma inspiração para as novas gerações, sobretudo os seus desfiles", diz com o olhar escondido atrás dos óculos escuros.

A sua amiga, Jade Mari, com o cabelo recolhido em duas tranças e um casaco creme, afirma que temia o pior. "Primeiro os seus últimos desfiles, com temas como o Egito e as múmias, e depois o das folhas mortas, sentimos que já estava a anunciar-nos algo... E quando vimos que estava ausente no último dia do desfile em janeiro, soubemos que não lhe restava muito tempo".