Desde que se estreou no ano passado com a sua marca própria em Montevidéu, Clara Aguayo trabalha com tecidos vintage "resgatados" da antes próspera indústria têxtil uruguaia.

"Há 30 anos no Uruguai produzia-se lã para a Armani, para peças de alfaiataria, mas agora essa indústria está em agonia total, porque não pode competir com o mercado chinês", diz essa estilista de 27 anos.

Ela procura então tecidos de boa qualidade a baixo preço baixos, que depois estampa manualmente com tinta corrosiva ou maçarico.

"Busco a elevação de materiais que tenham sido rechaçados, agregando-lhes valor através de estampas, de bordados", explica.

Com uma política de zero desperdício, corta as suas peças como um quebra-cabeças, aproveitando cada centímetro, ou montando-as com pregas como um origami.

A sua primeira coleção a solo, que mostra apenas uma pequena parte em Londres, é inspirada nas paisagens marítimas do seu país, na sua beleza melancólica e sem pretensões.

Com amplas pantalonas em organza, vestidos drapeados de veludo e casacos volumosos de viscose, os seus modelos femininos sóbrios aparecem expostos em manequins que emitem sons distorcidos do mar.

"A natureza pode ser por vezes comovente, mas outras vezes totalmente opressiva, como o vento que golpeia constantemente a costa", explica Aguayo, reconhecendo que esse trabalho obscuro nasceu em resposta a um momento de profunda ansiedade.

O conjunto é uma montagem artística que ultrapassa as fronteiras da moda. Uma via que a estilista diz que vai continuar a explorar, possivelmente na Europa.

Género e identidade

A colorida proposta do brasileiro David Lee, de 27 anos, situa-se num lugar completamente oposto.

No seu pequeno atelier em Fortaleza, cria uma moda masculina que explora a ideia de intimidade e conforto, combinando a alfaiataria de calças confortáveis em sarja de algodão com casacos oversized feitos de crochet em vermelho, azul e amarelo vibrantes.

"O crochet é tradicional na minha cidade e além disso pertence a um universo que não é comum no homem", diz Lee, que está na sua sexta coleção, buscando "desconstruir a ideia de masculinidade" entrelaçando conceitos como força e fragilidade.

A colombiana Laura Laurens, cuja marca trabalhou no passado com minorias como os ex-combatentes e vítimas de conflito armado, parte de conceitos de género numa coleção com a colaboração de duas mulheres transgénero da comunidade indígena Emberá.

"É uma população muito vulnerável na Colômbia, que está à parte" da sociedade, afirma essa estilista de 36 anos, que diz que sempre "se interessou em questionar os limites, diluir um sistema dual baseado em homem-mulher, bom-mau, indígena-branco".

Ela utiliza as composições florais feitas pelas minúsculas missangas coloridas para embelezar tecidos camuflados simples de algodão, que utiliza para confeccionar casacos combinados com calças elegantes e blusas de estampa animal ou vegetal.

Laurens trabalha com as mulheres na própria floresta, no abrigo Karmata Rúa, no sudoeste de Antioquia, e termina as criações no seu atelier de Bogotá.

A sua marca tem desde 2013 um braço comercial em Paris, de onde exportou dezenas de coleções.

Mas nada comparado a isso, reconhece. Aquilo é mais comercial, enquanto aqui "está a mostrar-se algo que as pessoas não vêem normalmente no processo criativo".

Organizada pelo British Fashion Council e pelo London College of Fashion para a Semana da Moda outono-inverno 2019-20 de Londres, essa mostra de moda internacional reúne até 24 de fevereiro 16 estilistas de origens tão diferentes como Vietname, Quénia e Itália.

Foram eleitos entre dezenas de talentos emergentes pela sua qualidade e originalidade num projeto que inclui formação empresarial para ajudá-los a internacionalizar as suas marcas.

"Funciona como uma validação do seu trabalho", afirma Lee, que já vende em todo o Brasil mas espera que, a partir desta mostra, possa expandir para o mercado internacional.