Como é que a barba do David Beckham lhe foi cair nas mãos?

Foi em contexto de trabalho. Gravámos um anúncio publicitário em que figurávamos juntamente com o David Beckham.

Mas como é que isso surgiu? De onde veio a ideia? Porque é que o David Beckham se interessou pelo seu trabalho?

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Não sei. Será uma pergunta que terão que colocar ao David. Talvez um feeling que o fez sentir à vontade para vir cortar o cabelo comigo na minha barbearia, a Figaro’s, em Lisboa.

Como é ser contratado por um dos maiores futebolistas de sempre?

Significa o reconhecimento do nosso talento e dedicação. A sugestão foi dada por ele e acedemos ao convite de colaborar com a marca House99, pois senti que podíamos emprestar à marca algo que ia acrescentar valor. Temos plena noção da nossa qualidade.

Algumas pessoas dizem que a barba do homem pode ser comparada à maquilhagem numa mulher. Concorda?

É uma comparação que não concordo. A barba é algo natural que cresce e na qual podemos definir um estilo. A maquilhagem não tem nada de natural. É a arte de embelezar a pele de uma pessoa e tanto pode ser usada na pele de uma mulher como de um homem.

Muitas vezes menos é mais e a simplicidade é algo que o homem tem dificuldade em aderir, no entanto é a simplicidade que distingue o homem

Onde aprendeu a cortar cabelo?

Aprendi sozinho, praticando e também observando outros barbeiros mais velhos. Depois criei um método de corte sempre fiel aos princípios dos cortes clássicos.

Tem um método próprio, é isso?

Sim, tenho um método que fui criando e desenvolvendo inspirado no que observei e aprendi com outros barbeiros e também com a minha experiência e prática.

O que fazia antes?

Estudei e trabalhei em duas grandes multinacionais na Holanda e Dinamarca. Viajei pelo mundo quase todo em trabalho, o que me permitiu conhecer outras barbearias e reunir uma ideia do que pretendia para a Figaro’s.

Como é que um antigo estudante de gestão foi parar a esta área? 

Fiz mestrado e iniciei um doutoramento em Amsterdão. Trabalhei cerca de seis anos e meio em multinacionais, no entanto já cortava cabelo antes de ir para a faculdade. Comecei aos 14 ou 15 anos e nunca lhe perdi o gosto. A certa altura achei que precisava de uma mudança.

E por que motivo mudou?

Na verdade eu não "mudei" para esta área. Foi uma área que sempre esteve presente em mim, pois apesar de trabalhar em multinacionais como gestor, sempre cortei cabelos em casa e por vezes em barbearias. Fazia-o em part time e quase como um hobby. Quando achei que era bom o suficiente para o fazer profissionalmente e ensinar outros, decidi arriscar.

É importante que a imagem seja acompanhada de uma personalidade culta e inteligente, pois sem isso não existe charme

A sua barbearia é então um conjunto de inspirações? 

É uma criação minha inspirada em barbearias antigas que eu considerava as mais interessantes no mundo. Nada foi colocado ali ao acaso. Os retratos nas paredes contam uma história, mas é claro que me inspirei noutras barbearias. Se acho a Figaro’s a mais bonita do mundo? Sim, do que conheço sim.

Porque é que antigamente um homem que cuidava de si era alvo de troça e hoje já não?

As pessoas confundem o metrosexual com o homem que cuida de si. Nunca um homem que cuida de si foi mal visto a menos que entrasse no campo da pirosice. Há um denominador comum que é o bom senso e o sentido estético. O homem sempre cuidou de si, uns mais outros menos.

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O que é para si entrar na pirosice?

Entrar na pirosice é perder a noção do que é esteticamente bonito e harmonioso dentro de um contexto social. Gostos são discutíveis, mas deve existir algum consenso sobre o que é bonito vs o que é feio. O visagismo deve obedecer a um conjunto de regras que embora dêem alguma liberdade ao homem no seu “look” não o podem tornar ridículo. Muitas vezes menos é mais e a simplicidade é algo que o homem tem dificuldade em aderir, no entanto é a simplicidade que distingue o homem.

Que cuidados essenciais deve ter um homem com a sua imagem?

A imagem do homem começa no seu cabelo e acaba no que tem calçado. No que diz respeito à barbearia é fundamental ter um bom corte de cabelo pelo menos uma vez por mês (ou se possível de três em três semanas). A barba é opcional desde que se defina um estilo e se enquadre com o corte de cabelo e feições do rosto. É no entanto importante que a imagem seja acompanhada de uma personalidade culta e inteligente, pois sem isso não existe charme. Um homem que não se cultive e não tenha cartomancia, mesmo com uma imagem muito cuidada, pode cair num vazio que a imagem só por si não lhe vai valer de nada.

Infelizmente somos um país com muita falta de humor e há dificuldades em aceitar que o homem também pode ter um espaço seu

Por que razão regressou a Portugal?

Regressei a Portugal para abrir a Figaro’s. Poderia tê-lo feito noutra cidade, mas escolhi Lisboa por duas razões. À data o meu pai teve dois problemas de saúde graves (um deles um AVC que o deixou em coma algumas semanas). Vivia há 7 anos fora do país e sentia-me incapaz de o apoiar não estando por perto. Depois Lisboa é a minha cidade natal. Apesar de toda a minha carreira ter sido feita fora de Portugal (Holanda, Dinamarca, Malta e África do Sul), achei que poderia fazer algo de positivo em Lisboa. Algo que trouxesse à cidade qualidade que não existia.

Foi alvo de algumas críticas quando deu a entender com um cartaz que na sua barbearia só entravam homens e cães. Foi uma campanha de marketing?

Não foi uma técnica de marketing intencional. Era o conceito explicado de forma humorística, pois a verdade é que é um espaço reservado a cortes clássicos de homem. Infelizmente somos um país com muita falta de humor e há dificuldades em aceitar que o homem também pode ter um espaço seu. Hoje em dia continuamos a fazer cortes masculinos clássicos. No entanto, se alguma senhora desejar um corte destes, nos também o fazemos. Continuamos a não fazer cortes femininos e procuramos conceder uma atenção especial ao homem. É no entanto falso que sejamos machistas ou que tenhamos maltratado senhoras que foram a Figaro's como clientes.

Quantas barbearias tem?

Temos a barbearia da Rua do Alecrim e abrimos no ano passado na Rua da Madalena uma barbearia mais pequena e mais privada, onde essencialmente cortamos clientes habituais e damos formação. Não tenciono abrir mais nenhuma barbearia, pelo menos em Portugal.