A acne é uma das patologias mais frequentes em todo o mundo. Quantas mulheres se identificarão com a sensação de nunca terem tido acne durante a adolescência e, de repente, se depararem com borbu­lhas indesejadas em determinada fase da vida adulta?

Mulheres maduras em luta com a acne indesejável que, sem saberem porquê, deci­de aparecer por vezes em zonas mais expostas da face.

Se se identifica com esta descrição, saiba como contornar o problema e resolver aquilo a que se chama de acne tardia. Além das consequências físicas, a acne tem um enorme impacto psicológico muito difícil de avaliar.

Este tipo de acne atinge mais mulheres do que homens devido, sobretudo, à influência hormonal. Neste caso, somos nós «o elo mais fraco», uma expressão muito popularizada no seguimento de um concurso televisivo, pelo que há que tentar contornar o problema e tratá-lo com as soluções
disponíveis. E elas existem!

As causas da acne

As causas são diversas mas as alterações hormonais são apontadas como as grandes responsáveis da acne tardia. «Podem ainda existir fatores externos, como, por exemplo, a maquilhagem, a ocupação profissional ou mesmo certos medicamentos», enumera Miguel Trincheiras, médico dermatologista.

No entanto, são de referir ainda fatores «de forma alea­tória» no caso da acne tardia, uma vez que a juvenil «atinge virtualmente quase 100% da população adolescente que passa por uma fase mais ou menos marcada de acne, algumas vezes pouco valorizada, sendo aqui manifestamente hormonodependente».

5 perguntas respondidas pelo dermatologista Miguel Trincheiras:

1. O que é a acne?

É uma patologia inflamatória da unidade pilo-sebácea (conjunto pelo-glândula sebá­cea), envolvendo diversos fatores sob con­trolo hormonal como a alteração de com­posição do sebo, que fica mais espesso, a queratinização anormal dos poros folicu­lares que provocam uma obstrução à saída do sebo, uma proliferação acrescida de mi­croorganismos no seio da glândula sebácea (nomeadamente do Pitirosporum Acne) e, finalmente, um processo inflamatório de to­do este conjunto com alto poder destrutivo das estruturas e risco de cicatrizes residuais.

2. Como se desenvolve?

A acne desenvolve-se desde uma retenção de material sebáceo nas glândulas cujo res­petivo poro pode estar aberto ou fechado (comedões abertos, vulgo ponto negro, ou fechado, ponto branco) até à inflamação e infeção dessas mesmas glândulas por pro­liferação de microorganismos bacterianos. O grande desafio é tratar a acne o mais precocemente possível, na fase de retenção, promovendo a abertura dos poros e a eliminação do mate­rial sebáceo retido.

3. Afeta mais homens ou mais mulheres?

A acne tardia afeta substancialmente mais mulheres do que homens e este facto deve-se às mais frequentes variações do status hormonal feminino.

4. Pode transformar-se numa doença crónica?

Pode ser uma patologia que se arrasta ao longo dos anos, se não for tratada, ou que pode resolver-se de forma espontânea. O tratamento faz sentido para evitar a passagem das formas retencionais a lesões inflamatórias que são potenciais indutoras de inestéticas cicatrizes residuais, no futuro. A não correção dos fatores hormonais e/ou a persistência de fatores externos oclusivos (maquilhagem, profissionais, entre outros)podem induzir uma cronicidade nesta patologia.

5. Quais os tratamentos dermatológicos mais adequados?

Os tratamentos dependem da fase em que a acne se encontra. Numa fase retencional é mais indicado o uso de produtos que promovem a descamação e a desobstrução dos poros foliculares, assim como os reguladores da produção de sebo. Numa fase inflamatória poderá ser mais adequado usar agentes antibióticos e antisséticos assim como derivados retinóides.

Os tratamentos mais eficazes para combater a acne

As terapêuticas têm de ser elaboradas à medida de cada paciente tendo em conta os inúmeros fatores de risco, como o sexo, a idade, a raça, a profissão, o peso, os antecedentes pessoais, entre outros. Estas são, contudo, algumas das mais prescritas pelos especialistas:

- Para acabar com as cicatrizes

O tratamento precoce da acne é fundamental para evitar o aparecimento de cicatrizes. As cicatrizes residuais podem assumir quatro aspetos. «Aquelas com uma tonalidade púrpura (habitualmente as mais recentes), as pigmentadas (acastanhadas), as atróficas (deprimidas) e as hiper­tróficas (salientes e fibrosas)», explica Miguel Trincheiras.

Os tratamentos são variados e sempre adaptados de forma individual, passando pelo «laser pulsado de contraste para as ci­catrizes vermelhas e hipertróficas, por diversos tipos de peeling para as pigmentadas e atróficas, pelo laser de CO2 fracionado e o plasma enriquecido em plaquetas ou mesmo algum material de preenchimento para as atrofias», acrescenta o médico der­matologista.

- Para não agravar a acne

Embora a acne seja «uma patologia polimorfa cuja abordagem assenta numa avaliação individual de cada caso, existem dicas genéricas para evitar ou agravar o aparecimento de lesões acneicas», revela o dermatologista Miguel Trincheiras:

1. Lave o rosto 2 vezes por dia com um gel apropriado, nomeadamente com agentes anti-irritantes, não-oclusivos e seborreguladores.

2. Use tónicos e cremes faciais oil-free (não comedo­génicos).

3. Evite mexer com os dedos indiscriminadamente nas lesões.

4. Faça uma esfoliação ligeira da pele da face uma a duas vezes por semana, complementando-a com um pee­ling superficial com ácido cítrico uma vez por semana.

5. Use apenas cosméticos e bases faciais testadas dermatologicamente e, uma vez mais, com a expres­sa menção oil-free.

6. No caso do sexo feminino, tentar corrigir quaisquer perturbações ginecológicas e hormonais que possam facilitar o aparecimento ou agravamento do quadro de acne.

7. Ter uma boa higiene de vida diária do ponto de vista alimentar (refeições variadas e com horários regu­lares), do descanso (horas de sono suficientes), da limpeza e controlar tanto quanto possível os níveis de ansiedade.

8. Evitar ambientes poluídos quer em fumos, pó, partículas e, em particular, ambientes com oleosidade ambiente, tais como fritos e fábricas, entre outros.

Texto: Rita Caetano com Miguel Trincheiras (dermatologista)